A
presença de seis grupos que trabalham com teatro de rua dentro da programação
do recém-lançado projeto Cultura Presente,
da Secretaria de Cultura do Estado, atesta a importância que o referido campo
artístico vem adquirindo no Espírito Santo. Apesar de existirem registros
demonstrando que a atividade já era exercida aqui há tempos atrás, é inegável
que,desde os anos 2000,a quantidade de coletivos teatrais que possuem nas
apresentações de rua uma de suas diretrizes de trabalho alcançou uma proporção
nunca vista anteriormente. Cumpre destacar os trabalhos desenvolvidos por grupos
como o Z de Teatro;Repertório; Vira-Lata;
Teatro da Barra; Gota, Pó e Poeira; Circo Teatro Capixaba; Rerigtiba e Folgazões, companhiaessa da qual faço
parte.
Na
Folgazões, apesar de possuirmos
espetáculos montados para o chamado palco italiano, é inegável que o teatro de
rua é o nosso gênero teatral de predileção. A rua é um espaço democrático por
natureza, abrigando indivíduos com distintos níveis econômicos, etários,
intelectuais e culturais. Os espetáculos artísticos que nela ocorrem possibilitam
colocar lado a lado, numa mesma roda, habitantes de mansões e pessoas sem
moradia, idosos e crianças, professores universitários e analfabetos,
evangélicos e boêmios.
É
preciso, portanto, e acima de tudo, uma linguagem que seja ampla o bastante
para tocar um público tão vasto e heterogêneo. Público esse que, diga-se de
passagem, pode entediar-se a qualquer momento e seguir seu caminho, uma vez que
não está preso dentro de um teatro fechado.Para alcançar tal amplitude de
comunicação, faz-se necessária uma predisposição para escutar e compreender os
mais variados setores da população, escuta quesó é conseguida se for acompanhada
por um imenso sentimento de generosidade por parte dos artistas. Se essa
linguagem ampliada é obtida, por alguns minutos que seja,pessoas as mais
diferentes possíveis, que talvez nunca pudessem vir a conversar um dia, passam
a pertencer a um único coletivo e a ter, pelo menos, um assunto em comum: a
apresentação à qual acabaram de assistir.
Além disso, para aqueles que pensam que o aspecto
de universalidade necessário ao teatro de rua possa gerar uma obra mais “frágil”
ou “solta”do que aquela produzida para o palco, é preciso registrar que, na
maior parte das vezes, o que ocorre é justamente o contrário.Por estar aberto a
qualquer tipo de interferência externa, o teatro de rua acaba por exigir muito
mais do ator. Seja de sua capacidade física de fazer-se presente e despertar a
atenção, como de sua habilidade de improvisar frente a acontecimentos
inesperados que possam vir a ocorrer, habilidades essas que, quando bem executadas
pelos artistas, conferem ao teatro de rua o aspecto de uma obra de arte
incrivelmente viva e pulsante.
(Texto
de Duílio Kuster publicado originalmente no Caderno AT
2, pág. 12, do jornal A Tribuna, no dia 17 novembro 2012)
Duílio Kuster (1981), natural de Vitória, é professor,
historiador, ator e produtor cultural, graduado em História pela UFES e
mestrando em História Social das Relações Políticas pela mesma instituição,
onde desenvolve uma pesquisa sobre as políticas para o teatro no Espírito Santo.
Foi cofundador do Grupo Vira-Lata de
Teatro (2003) e, desde 2007, faz parte da Folgazões Artes Cênicas, onde trabalha nos campos de criação
artística, produção e gestão.
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