terça-feira, 25 de março de 2014

CRITICA DO FILME 'ALEMÃO'

Dirigido por José Eduardo Belmonte e produzido e protagonizado por Cauã Reymond, 'Alemão' chegou aos nossos cinemas e a equipe do Outros 300 esteve lá para acompanhar. Confira nossas impressões lendo a matéria completa.

Por Sandro Bahiense

Alemão

A mola que gera a violência
Ao abordar as motivações para a lei e para o crime, filme se sobressai

Não é qualquer um que continua tendo paciência com as comédias de quinta ou com os favelas movies brasileiros. Logo quando 'Alemão' entrou em cartaz pensou-se de cara de se tratar de um Tropa de Elite 3 ou de um Cidade de Deus 2, porém com menos categoria. Mas... Esqueça isso.

Isso porque o mérito de 'Alemão' é fugir da violência pela violência. O foco, aqui, são os porquês: Tanto para a criminalidade, quanto para seu combate. Fugir dos tiroteios, infelizmente tão conhecidíssimos pela gente, foi uma grande sacada!

Alemão - Foto

A trama

Em Alemão, de um lado está o grupo que comanda o tráfico da favela, liderado por Playboy (Cauã Reymond), do outro, a polícia militar, que sob o comando do Delegado Valadares (Antônio Fagundes) prepara informações sobre o morro para a invasão. Em um local que a tensão é rotina, tudo piora quando um motoboy é parado por traficantes e, com ele, é encontrada uma pasta com documentos sobre a operação militar. A situação fica ainda pior, já que os papéis indicam quem são os moradores que trabalham como policiais informantes.

Sem ter para onde fugir, Samuel (Caio Blat), Branco (Milhem Cortaz), Danilo (Gabriel Braga Nunes) e Carlinhos (Marcelo Melo Jr.) se escondem na pizzaria do Doca (Otávio Müller). Enquanto os cinco policiais tentam descobrir uma maneira de saírem vivos dali, Playboy decide que não deixa a favela em paz até que o grupo esteja morto. Tudo fica ainda mais tenso quando entra em jogo a vida de duas belas mulheres, Mariana (Mariana Nunes), a grande paixão do traficante, e Letícia (Aisha Jambo), namorada de Carlinhos e irmã do braço direito de Playboy.

Crítica

A chegada dos policiais à pizzaria ocorre praticamente no início do filme, ou seja, ele ocorre praticamente todo ali. Os poucos momentos em que o enfoque saí dali, ele vai para a casa de Playboy ou para a delegacia de Valadares. Contudo, no mínimo, oitenta porcento do filme rola em um único cenário. Monótono? Nem um pouco.

Caio Blat (esq.), Milhem Cortaz, Marcello Melo Jr. e Otávio Muller

Isso porque é dali que o conceito do filme nos é apresentado. Todos os policiais envolvidos na missão, em momentos distintos, e em diálogos inteligentes e oportunos, nos mostram do porquê de estarem ali. Motivos esses distintos e bem elaborados. Seja por altruísmo barato, ideologia ou por punição, a verdade é que os envolvidos nos deixam um pouco mais a par do que se passa nas cabeças dos homens que lutam em tão árdua batalha. 

O interessante é que o íntimo dos traficantes também tem vez. Playboy vive dilema entre continuar no crime ou ser um exemplo para seu filho. Seus comparsas, por vez, também se questionam do porquê daquilo tudo, isso regado a muita ação e a conversas verossímeis e nada artificiais.

É óbvio que o filme tem seus momentos de ação e de tiroteio, mas este passa longe de ser sua motivação. O elenco manda bem em seus papéis (especialmente Milhem Cortaz, Marcelo Melo Jr. e Caio Blat). O resto não compromete.

O rosto no poster deve ter sido a maior contribuição de Reymond ao filme. Em 'Alemão' ele humildemente sede o posto de protagonista aos policias enclausurados, seja pela dinâmica do filme, seja pela maior capacidade interpretativa daquela turma em relação a ele.

Alemão

'Alemão' não é a última bolacha do pote, mas sua inteligente postura me agradou. Quem sabe consigamos olhar a criminalidade (e seu combate) com outros olhos depois deste filme. Quem sabe... 

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