sábado, 17 de agosto de 2013

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA




Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônicaDescamisado”:

DESCAMISADO

Desde criança dedicou a sua vida à escrita. Queria ser autor. Sua família, como manda o figurino, falava “filho largue estas folhas, isso não dá camisa”. Ele, confiando na sua propriedade linguística, abdica da vida mundana como um monge beneditino (mas daqueles que às vezes fogem da regra religiosa e dão uma “fugidinha” com alguma “irmã”), se retrai em seu mundo particular para escrever.   

Como dizem que praga de família pega e vira sarna, ele vira um escritor descamisado. Alguns falam que isso é falta do que fazer, mas ele acredita na sua arte. É adulto, vende a casa que os pais tinham deixado como herança, aliás, o único bem que possuía. E com muito esforço publica o primeiro livro, quatrocentas cópias de papel amarelado e capa encerada. Seu primeiro fracasso como um autor, que poderíamos dizer, literário (afinal, literário é aquilo que não vende e que só as traças gostam de deglutir). Ao fim, vende apenas dez exemplares.

Começa a viver na casa de amigos, de favor, é claro. Como mandava a regra dos jovens escritores, se entrega a uma vida devoluta impregnada de lascívia. Contrai indeterminadas doenças, as mulheres de seus amigos, por sua vez, solicitam que o mandem embora. Como um nômade ele passa de casa em casa até parar na rua vendendo latinhas para sobreviver e escrevendo seus textos nos versos de papéis usados (tanto chamex, quanto higiênico, acabando, portanto, na merda literalmente).

Fica tuberculoso, morrendo aos vinte e quatro anos. Dois anos após a sua morte, acaba sendo resgatado pela comunidade acadêmica, virando um gênio da escrita. Seus livros vendem milhões, apesar de ter sido enterrado como indigente sem direito a caixão. Vinte anos após, é o escritor do século, o melhor, já que morrera de fome.

Se ele soubesse que um fim dramático resultaria no êxito editorial, o próprio caminharia até o chafariz da praça, cortaria os pulsos com cacos de garrafa e morreria calmamente observando a lua cheia (deve ser nessas características devido ao padrão estético). Ao seu lado se encontrariam seu último romance e uma autobiografia, já anexado o seu fim dramático, deixando a lição: Se queres ser lido, corte os pulsos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário