quarta-feira, 15 de junho de 2011

O ÓVULO E O OVO: TUDO DE NOVO


Um olhar sobre a vida cotidiana que elenca o nascer e o morrer de forma imparcial. Assim poderia se resumir “O óvulo e o ovo: tudo de novo”, de Cleibson Freitas. Mas não! Seria muito pouco diante do infindo ciclo da vida e seus entraves. Os doze contos que preenchem esta obra são repletos de personagens da vida real que “morrem para si mesmos”, sendo a morte fuga dessa vida desigual e curta. Em “O óvulo e ovo” é a morte que mantém a vida para fazer “tudo de (n)ovo”. Aqui, a morte não é o fim, é recomeço! Também pudera, leitor, pois nós todos já sabemos que a “A gente não morre. Fica encantado.” Pelo menos foi o que disse nosso grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras. Talvez, nosso autor mineiro já pressentisse que três dias depois da sua louvável frase viria a morrer em um enfarto fulminante, ou melhor, viria a encantar-se! Coincidência ou não, vamos fazer um acordo, leitor: deixemos claro que “A gente não morre. Fica encantado.” Também deixemos claro que aqui, só aqui, fica-nos permitido este tom machadiano. Portanto, convido-o, “leitor amigo”, a virar as páginas desse livro pela ordem que melhor lhe convém para sentir a delícia séria-risível desses despretensiosos contos. Num estro que remete a Rubem Fonseca e Clarice Lispector, por mostrar num teor de denúncia a verdade nua e crua, questões sérias são suscitadas com requintes de humor meio-amargo: metafísica, teologia, filosofia, desigualdades e a (des)ordem social do mundo. O autor dá voz a personagens sem voz, cuja comunicação é sobre questões existenciais e filosóficas. Contudo, isso se dá através de palavrões, linguagem coloquial, ditos populares, entre outros. Há ainda vários intertextos com grandes expoentes da literatura universal. O conto “A verdadeira existência do Aleph”, por exemplo, faz referência ao livro “O Aleph”, de Jorge Luís Borges, e seus sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores e livros fictícios, religião, Deus. E sem querer abusar muito da boa vontade, leitor paciente, um último esclarecimento: apesar de quase todos os contos versarem acerca da morte, eles não tem um caráter pessimista em relação à vida, como pode parecer num primeiro momento. Ao contrário, o que veremos aqui será a beleza (visto por muitos com estranheza) de viver e, principalmente, morrer. Isso mesmo, leitor, veremos aqui a beleza de morrer: “E quando se morre se morre! Tem que ter motivo pra morte? Não, não tem que ter motivo pra morte”. “O óvulo e o ovo: tudo de novo”, de Cleibson Freitas, vem para confirmar que há sim no Espírito Santo uma ótima safra de novos escritores. Destarte, meta os óculos nos olhos (caso sofra desse mal), aconchegue as retinas e boa leitura!

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