O SAMBA DA BAMBA ADRIANA

Adriana Calcanhotto foi infectada por um micróbio. Um bom micróbrio, entretanto. O samba. “O Micróbio do Samba” (Sony Music), que referencia uma frase de Lupicínio Rodrigues, é o primeiro álbum em que a cantora se dedica apenas ao gênero. Samba e delicadeza somam-se harmoniosamente nas ótimas doze faixas. Calcanhotto sempre flertou com o samba, é bem verdade. Às vezes canhestra, às vezes bela, sempre em seus álbuns havia uma homenagem ao ritmo da Lapa. Vários podem ser os exemplos. “E o mundo não se acabou”, samba de Assis Valente gravado por Carmem Miranda, do álbum “Público”, de 2000, confirma essa assertiva. Melhor compositora de sua geração, Adriana também faz fez sambas para cantoras contemporâneas, como Tereza Cristina e Marisa Monte. Nesse novo lançamento, Adriana compõe sambas com temáticas atuais, mas sem perder o charme dos velhos temas dos sambas de raiz. O antigo malandro, o homem que tenta se acertar a fim de impressionar a amada, a sofrida distância da pessoa amada são assuntos abordados nas obras. “Eu vivo a sorrir”, música de abertura, faz referência a “À sorrir”, ótimo samba de Cartola. Ótima levada. Em outros momentos, a autora ousa, muito bem, acompanhada de Alberto Continentino, Domenico Lancelotti e Rodrigo Amarante. Em “Tá na minha hora”, por exemplo, ela demonstra seu amor pela escola Estação Primeira de Mangueira. Explora o ritmo das marchinhas em “Tão chic” e “Deixa, Gueixa” e brinca de tropicalista em “Pode se remoer”. No entanto, os destaques ficam com “Aquele plano para me esquecer” e “Vai saber” (já gravada por Marisa Monte). “O Micróbio do Samba” em muito se parece com “Universo ao meu redor”, disco de Marisa Monte que também homenageia o samba. Não é uma obra propriamente dita de samba e sim do universo do samba. É um disco suave, sereno, que tem melodias e letras saborosas que vão surpreender os fãs e quem quer que seja. Para os fãs de boa música, o casamento entre Adriana e o samba poderia continuar em lua de mel e render outros bons frutos como este.