domingo, 19 de junho de 2011

TEATRO NACIONAL II: “GOTA D’ÁGUA”, DE CHICO BUARQUE E PAULO PONTES



O espetáculo teatral “Gota d’água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes, transpõe a tragédia grega “Medéia”, de Eurípides, para o Rio de Janeiro da década de 1970, transformando a protagonista na sofrida Joana e Jasão em um sambista, autor da canção que intitula a peça. O texto, escrito em versos, transforma o nobre em vulgar: toda pompa de tragédia grega é substituída pelo comum; a linguagem, embora em versos, é muitas vezes chula; reis e príncipes dão lugar a pessoas do povo e os deuses da mitologia grega são substituídos por divindades do candomblé. Elementos presentes na cultura brasileira, como o samba e o candomblé, são acrescentados ao mito, além da focalização no contexto brasileiro, no sofrimento de um povo pobre, o qual reside de um conjunto habitacional, que é explorado por Cleonte, dono das casas. A obra, de 1975, tem um caráter intertextual ululante. Assim sendo, são mantidas duas funções em relação a “Medéia” – o cunho amoroso e o político-social, apenas ajustando o enfoque para a realidade brasileira: o texto foi escrito na época do regime militar e critica o sistema capitalista, a censura. “Não era um teatro para o povo, mais era pelo povo...”, disse Buarque, vencedor do prêmio Moliére como melhor autor teatral (Não compareceu à cerimônia de entrega do prêmio em protesto à censura). No prefácio do livro, os autores registram: “O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro. Esta é a segunda preocupação de ‘Gota d'Água’. Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira.”. Ademais, “Gota d’água” se mantém atual e uma das grandes obras do nosso teatro. Confira!

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