“Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, é um relato da dura realidade escolar brasileira. O filme, de 2006, elenca problemas sérios que todos sabem, mas que são ignorados pelos governantes. Existe um jogo de empurra em se tratando de responsabilidades: os alunos culpam os professores pela falta de interesse com o ensino, esses culpam aqueles pela falta de interesse pelo aprendizado. Por ser filmado em diversos locais, o expectador tem uma ampla visão de como os alunos e os profissionais do ensino encaram a educação. Há relatos incríveis. Numa escola em Pernambuco, por exemplo, a aluna Clévia (13), defende a instituição que freqüenta e, como seus mestres, culpa os seus colegas pelo mau funcionamento da escola. Ela é apoiada pela família, que provavelmente devem acreditar que a educação é o único meio de mobilidade social. Outro relato interessante é o do caso Rivson. Seus professores em conselho de classe discutiam o que fazer com ele. A maioria queria reprová-lo, no entanto, uma professora alegava que reprovação seria ruim, visto que ele apresentava sinais de melhora e participava de projetos musicais. Ela atentava para o fato de que poderia haver evasão, fato freqüente nas instituições públicas de ensino.
Num dado colégio público de São Paulo, uma instrutora de literatura alegava que, pela proximidade entre escola e sociedade, a educação refletia os problemas da sociedade. Entretanto, ela realizava ações contribuintes para que os discentes tivessem interesse, como o projeto FANZINE. Essa mesma professora dá um chocante relato sobre o cotidiano do docente nesse país. Alega que as suas falhas são frutos do cansaço gerado pelo ato de ensinar. Dentre os depoimentos apresentados, o mais tocante foi o de uma diretora. Segundo ela, a estrutura velha e conservadora da educação é muito pequena em relação aos prazeres do mundo. Este relato nos faz pensar qual é realmente o papel da escola na sociedade atual. “Pro dia nascer feliz” é indicado para todas as idades. É um documentário excelente, por levantar reflexões, apontar problemas. O contato com o filme revela a dificuldade que há em avaliar o complexo labor travado pelos educadores diante da imensa carência das escolas, tanto no âmbito estrutural como na falta de suporte pedagógico. Chega-se a conclusão de que as instituições de ensino brasileiras estão doentes, beirando a um coma, e não há política para prestar socorro.
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