terça-feira, 14 de junho de 2011

TODA SOLIDÃO TEM SEU FIM




Se em seu primeiro disco solo "Sou" (ou "Nós"), de 2008, Marcelo Camelo (ex-cantor e guitarrista dos Los Hermanos) evocava a solidão (“Posso estar só, mas sou de todo mundo”), em seu novo álbum "Toque Dela", o compositor canta justamente o contrário. Já no primeiro verso da música "A Noite", que abre o disco, anuncia: “Triste é viver só de solidão”, verso esse que tem intertexto com a música "Triste", de Tom Jobim. Num primeiro momento, os ouvintes podem até achar que há muitas singularidades entre "Toque Dela" e "Sou", por Camelo estar novamente acompanhado pelo grupo paulista de música instrumental Hurtmold. Mas não. Nesse novo lançamento, Camelo convidou outros grandes músicos, como o multi-instrumentista Marcelo Jeneci, promessa da nova geração da música popular brasileira. No entanto, o que mais distancia o segundo trabalho do primeiro (e que lembra os tempos de Los Hermanos) é o naipe de metais. Os metais atacam melodicamente em quase todas as canções. Outra diferença entre os álbuns é o local de feitura das músicas. No primeiro, foram compostas no Rio, já as músicas de "Toque Dela" foram compostas em São Paulo (atual residência de Marcelo). Em recente entrevista, o autor revelou: “Cada vez mais o método de composição vem se misturando com minha vida e deixando de ser uma coisa estanque, um momento aparte da minha percepção do mundo. O objetivo vem sendo caminhar na direção da ausência de vontades, por assim dizer, de ausência de intenção para assim conseguir promover um mergulho mais profundo e mais livre no inconsciente. Quando a gente faz desse jeito, percebo que todas as mudanças, por menor que sejam, estabelecem uma relação próxima com as composições. E esta mudança de cidade traz um componente de informação para além da minha própria capacidade de percepção. O disco foi feito nesta cidade, e acho que isso significa mais do que dizer que o disco foi feito para esta cidade”. Das dez faixas do novo álbum, Marcelo Camelo assina nove sozinho, a exceção é "Três dias", escrita a partir de uma ideia do amigo carioca e quadrinista André Dahmer. O disco é mais pulsante e ensolarado do que "Sou". A impressão é de um autor mais pra cima, mais livre, mais romântico, apesar de ter dito que o título da obra nada tem haver com a namorada Mallu Magalhães, a qual faz uma pequena participação no coro. Os destaques ficam com "Vermelho", "Três dias", "A Noite", "Acostumar" e "Meu amor é teu". Essas são as canções em que as letras parecem terem sido mais trabalhadas. Aqui, Camelo concatena brilhantemente as melodias, altamente guiadas pelos metais, e as letras. Os metais à la Los Hermanos fazem toda diferença, haja vista que a base de guitarra é pouco explorada. O autor nos convida a querer viver, a querer viver um grande amor. Em última análise, parafraseando o próprio compositor, diria que “eu ouvi, eu vivi e foi bom demais"

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