sábado, 18 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA COM MIKAELA GOMES DE OLIVEIRA, RICARDO SALVALAIO E SANDRO BAHIENSE.


Carnaval. Época de festa. Por se tratar de tempo de descanso, decidimos deixar nossos parceiros de folga neste fim de semana e a coluna “entrevista” do blog de hoje será com seus fundadores. O que pensam Mikaela Gomes de Oliveira, Ricardo Salvalaio e Sandro Bahiense sobre arte, cultura, e o Blog Cultural Outros 300?... Descubramos nas linhas abaixo os pensamentos dos proeminentes blogueiros culturais.

1 – Como surgiram as artes em sua vida? A qual gênero artístico gosta mais (música, cinema, pintura...)? Produz algum tipo de construto artístico? O que? Sua arte já pôde ser vista? Onde?

SANDRO: Difícil especificar quando as artes entraram em minha vida, desde sempre, eu acho. Mas admito que quando ouvi Legião Urbana pela primeira vez e quando vi um texto de Drummond, sabia ali que teria intimidade com as artes. Desde então, venho produzindo um monte de coisas. Artigos, crônicas, contos, poesias, letras de música... Alguns destes rabiscos estão no meu blog sandrobahiense@blogspot.com e algumas poesias no livro lançado por Ricardo Salvalaio em 2008 intitulado “8 Vezes Poeta”.

RICARDO: Meu pai tinha uma loja de discos quando eu era pequeno. Eu ficava muito lá por volta de 1993-94, que foi quando o cd chegou e a loja acabou fechando. Era muito divertido e acho que isso foi o primeiro contato com a arte, no caso, a musical. Sou apaixonado pela música, mais até que pela literatura. Cheguei à literatura por causa da música, na verdade. As primeiras bandas que ouvi foram Mamonas Assassinas, Ramones e Dire Straits. Também acompanhava o que meus pais ouviam: Beatles (minha banda preferida), Beto Guedes, Roberto Carlos, Titãs. Na adolescência, conheci The Doors e a boa literatura brasileira (Drummond, Jorge Amado, etc). Foi amor a primeira lida (Risos), daí iniciei minha produção literária. Em 2001, tive meu primeiro trabalho publicado. O poema “500 anos de opressão” é o primeiro do livro “Poetas do amanhã”, lançado pela Prefeitura de Vitória. Em 2006, publiquei o livro de poemas “O óbvio complexo”, que teve apoio da Lei Rubem Braga. Sempre ligado a cultura capixaba, organizei, em 2008, a coletânea de poemas “Oito vezes poeta”, que teve como objetivo apresentar ao público obras de autores que não tinham ajuda cultural dos seus respectivos municípios. Em 2010, formei-me em Letras-Português na UFES e tomei posse na Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Atualmente, escrevo para o Caderno Pensar, de A Gazeta e para o blog, claro.

MIKAELA: É uma pergunta muito relativa. A arte surge na medida em que a pessoa tem um contato mais íntimo, se “abre pra ela”. E eu tive esse contato íntimo quando comecei a freqüentar cinema, teatros (mesmo que sejam peças infantis) e museus, mais ou menos com 8 para 9 anos. Bom, eu sou uma cinéfila assumida, já falei para os quatro cantos, então...; Produzir algo? Acho que escrever para o blog é uma produção informativa, algo que gosto muito de fazer. Agora, eu escrevo lá nos meus raros tempos de folga, pensamentos, contos, coisas que guardo bastante pra mim, mas não considero artístico, já que não é divulgado e não tem circulação.

2 – Como indicador (a) e crítico (a) cultural nos diga: Qual seu conceito de arte e cultura?

SANDRO: São duas coisas distintas. Arte, pra mim, é a expressão do sentimento, a abstração do concreto e a materialização do irreal. A arte pode ser bela, feia, triste, alienada... E essa é a graça. Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pode ser arte, pois o importante é fazê-la de coração. Por ser subjetiva, a arte é passível de várias classificações e interpretações, por isso que é tão polêmica quando analisada. Nada é tão somente bom ou ruim como alguns (me incluo) insistem em fazer. Há algo de bom em qualquer obra de arte, mesmo quando a maioria ache que a arte não é arte. A maior inimiga da arte pode ser o dinheiro e o sucesso. Quando se produz algo pensando nestes dois em detrimento a arte, aí sim é que ela perde seu significado. Nada é tão coletivo e individual. Cultura? Bem ela é o englobar de todas as produções artísticas. Cultura é o maior patrimônio de um lugar, pois é a expressão de seu povo.

RICARDO: No nosso tempo, podemos definir “arte” como a atividade artística ou o produto da atividade artística. E ela pode ser subdividida em várias vertentes. Essa fragmentação de identidades, em que não se pode definir nada, é uma das características da pós-modernidade. A arte é um fenômeno cultural. Regras absolutas sobre arte não sobrevivem ao tempo. Em cada época, diferentes grupos escolhem como devem compreender esse fenômeno, bem como elencar o que é ou não arte. Cultura, pra mim, seria o conjunto de regras, hábitos, costumes, línguas, religião, artes, história de uma determinada sociedade, que está inserida num dada época, logicamente.

MIKAELA: Outra pergunta bem difícil. Cara, cada um tem um conceito de arte e cultura. Não vou aqui exaltar uma e menosprezar outra. Toda manifestação de arte e de cultura tem sua importância para a sociedade, principalmente para demarcar a sua identidade.

3 – Como você analisa a situação cultural e artística do estado? O que nos falta e o que nos sobra?

SANDRO: O estado é o primo pobre da região Sudeste também no que tange a arte. Tudo o que produzimos nasce e morre aqui, salvo raras exceções. Com isso toda produção cultural capixaba se restringe somente a nosso estado (pouco populoso, pouco povoado e não muito fã de cultura) o que dá um prazo de validade bem curto a cada produção se pensarmos em retorno financeiro. Se é difícil ganhar dinheiro com arte no país, nascer (e viver) no Espirito Santo dá o dobro de dificuldade. Somos fartos de talentos, de história (e histórias) e tradição, mas falta uma política de exposição de nosso povo ao resto do país, falta vender o estado do Espirito Santo para o Brasil, falta fazer nosso estado ser visto. A cultura capixaba só irá deslanchar com o apoio (e dinheiro sejamos francos) do resto do país. Senão continuaremos com as migalhas de sempre, o que é uma pena para um povo tão talentoso e capaz.

RICARDO: É uma realidade bem complexa. Temos leis de incentivo cultural, que contribuem muito, mas por outro lado temos a problemática da distribuição da obra de arte e da formação de público. Tem gente muito boa produzindo aqui no ES, porém, as coisas ficam muito fechadas ao âmbito capixaba. Não sei... me parece que a arte daqui é feita somente pela/para a gente.

MIKAELA: O estado tem grandes músicos, grandes escritores, bons atores e artistas plásticos. O que falta realmente é um incentivo. Não dá para sobreviver da sua arte, por melhor que ela seja. O artista acaba, portanto, deixando de se dedicar e o maior prejudicado é a sociedade, que sai perdendo, já que se cria uma escassez cultural.

4 – Qual é o critério na eleição de assuntos para o blog? Qual seu critério para análise, indicação ou crítica de determinado assunto? É possível atingir a desejada imparcialidade?

SANDRO: O assunto abordado tem de ter a ver com cultura seja em qual segmento for. Privilegiamos em especial os eventos ocorridos em dia presente como forma de incentivo mesmo. Contudo, nada impede que falemos de trabalhos artísticos ocorridos anteriormente (principalmente CD’s/DVD’s, livros e filmes), ainda mais quando há uma data que remeta ao trabalho ou ao artista (lançamento, nascimento, ou morte do artista, por exemplo). A ideia é fazer um blog dinâmico, descontraído e popular, mas sem cair na armadilha do sucesso fácil. Um bom exemplo são os Tops 10 que, por vezes, abordam temas mais leves e gerais, mas mesmo assim tem uma indicação cultural boa por trás. O blog se divide em três grandes ramificações. A primeira é a da divulgação pura e simplesmente. Neste caso não há uma grande análise ou crítica e por vezes até colocamos que tal evento talvez não seja o mais adequado, mas como trabalhamos, graças a Deus, com um público amplo e de gosto diversificado não delimitamos postagens. A segunda ramificação é a da crítica. Ela ocorre quando temos acesso prévio ao lançamento artístico (seja filme, CD, peça de teatro...). Com isso temos a possibilidade da emissão de nossa opinião sobre aquilo. Em meu caso, especificamente, busco sempre analisar um construto artístico baseando-me em outro similar e de qualidade reconhecida. Já a análise se dá quando não temos a possibilidade de acompanhar o lançamento artístico previamente, daí utilizamos nosso arcabouço informativo para deduzir se tal evento poderá ser bom ou ruim. Acredito numa total parcialidade do blog. Quem nos acompanha sabe de nossos gostos e artistas preferidos e realmente é difícil falar mal deles. Contudo nosso compromisso tem de ser com nossos leitores e é fato que, se necessário for, criticaremos negativamente nossos artistas preferidos caso precise. O bom de trabalhar num blog é que esta é uma ferramenta descontraída ao contrário de um jornal, por exemplo, e nos permite certos “luxos”.

RICARDO: Temos uma pauta livre. Podemos falar de literatura, cinema, música, teatro, dança, artes plásticas. Falamos de assuntos novos e velhos. No que tange a eventos, focamos mais no âmbito da Grande Vitória mesmo. Quando indico ou estudo um evento, livro, disco, eu busco a imparcialidade e o grau de interesse do público. Depois de oito meses, o blog já tem um público, bem amplo, é verdade, mas já temos uma noção do que ele procura. Se bem que, vez ou outra, é legal surpreende-lo, não é?

MIKAELA: Eu, particularmente não tenho muito critério não (risos). Acho legal eu, Sandro e Ricardo podermos falar de coisas que gostamos e odiamos, ao mesmo tempo. A identidade do blog vai se moldando aí! Eu adoro indicar coisas das quais curto, mas há também aquelas ocasiões nas quais nos decepcionamos com o que achávamos que iria ser ótimo, mas mesmo assim, colocamos ali, e expressamos nossa opinião, agora, era pra ser imparcial, mas eu, tenho uma dificuldade com isso... (risos). Não há como ser parcial, por exemplo, com um filme com um elenco ótimo, com um enredo ótimo e um desfecho espetacular que surpreende! Realmente não há, eu tento, mas...

5 – O Blog tem um público restrito ou você acha que ele é bem amplo? Conte-nos como é a receptividade do público?

SANDRO: A audiência do blog é a demonstração que o povo brasileiro, seja de qual faixa etária, financeira e racial for, gosta de cultura. Com isso, nos “obriga” a estar atualizado a tudo, uma vez que temos de respeitar essa diversidade com nossas postagens. A receptividade do público tem sido nosso combustível, uma vez que, para mim, soou surpreendente. Cada vez que vejo o número de acessos fico mais motivado a escrever.

RICARDO: Então, temos uma média de 700 acessos diários. Assim sendo, o público fatalmente é amplo e diversificado. A gente recebe pelo facebook, e-mail, pelo próprio blog, muitas críticas positivas, sugestões, comentários. Isso é ótimo, sinal que estamos fazendo um bom trabalho. Essa resposta do público é que nos dá ânimo a continuar mantendo o Blog Cultural Outros 300.

MIKAELA: É bem amplo, e, pelo que eu posso perceber a receptividade do público está sendo ótima!

6 – Como é ter um blog conjunto? É mais fácil ou mais difícil administrar?

SANDRO: Depende de cada momento. Acho tudo que é coletivo melhor, uma vez que se desprende de traços pessoais. Ter três visões do mesmo assunto é ótimo, principalmente porque Mika, Ricardo e eu temos concepções distintas sobre os assuntos na maioria das vezes. Ter sempre alguém pra “tomar conta do filho” quando você não está muito afim é importante também.

RICARDO: Na maioria das vezes, trabalhar em grupo é melhor. Eu rendo mais trabalhando em grupo, penso. Ter três visões sobre o todo e sobre tudo é muito válido e dá um charme a mais ao blog. Temos pensamentos, escritas e jeitos bem distintos, apesar de sermos amigos e termos feito faculdade juntos. Nunca tive problemas administrativos no blog não (risos).

MIKAELA: É ótimo! Com algumas cobranças do meu editor, né Sandro?! (risos). Mas é super legal, pois cada um tem uma forma de abordar um tema. Cada qual com seu estilo de escrita e de visão. E, administrar um blog com total liberdade pra falar sobre diversos assuntos, não pode, em hipótese nenhuma ser ruim.

7 – Quais são os planos para o Outros 300 como um todo? E seus planos especificamente como blogueiro (a) e produtor (a) artístico (a)? O que vem por aí?

SANDRO: Tudo tem sido novidade pra gente nessa nossa empreitada virtual e as novidades vão aparecendo no blog quase que naturalmente. Daí, criamos o espaço para as entrevistas com os artistas capixabas (sempre aos domingos) e o espaço para as produções capixabas de escrita, o “licença cultural” (com contos, crônicas e poesia, sempre aos sábados). Algumas ideias já estão em fase de análise, além de aceitarmos sempre as sugestões dos leitores, afinal o blog é feito pra eles. Temos um sonho, que parece-nos distante neste momento, de conseguir um incentivo governamental ou um patrocínio privado para mantermos a ferramenta. Por enquanto, vamos mantendo-a com nossos esforços e vontade. Não tenho andado animado em buscar expor meus escritos em algum lugar e por enquanto fico satisfeito somente em pô-los, sem grandes compromissos e objetivos, em meu blog (supracitado acima) mesmo. Quem sabe no futuro né? Tenho andado em “médio surto produtivo” e de vez em quando tem alguma novidade por lá.

RICARDO: Buscar patrocínio e parceiros é um plano para esse ano. Já colocamos algumas idéias e vamos por em prática mais algumas (elas são segredos). Risos. No que tange a logística, queremos postar, ao menos, três textos por dia. Pretendo continuar escrevendo pro blog e terminar alguns projetos literários. No mais, é isso. Como canta o Paul McCartney: “Ob-la-di, ob-la-da” (A vida continua).

MIKAELA: Acho que para o blog, os planos são os melhores. Penso que, nós três, queremos ver o blog cada dia maior, com ampla quantidade de assuntos, prezando sempre também pela qualidade e veracidade dos escritos. Divulgando ao máximo, não só o que rola lá fora, no mundo das artes, mas aqui também, em território capixaba.

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