sábado, 18 de fevereiro de 2012

"LICENÇA POÉTICA": RICARDO SALVALAIO


Em 2001, Ricardo Salvalaio teve seu primeiro trabalho publicado. O poema 500 anos de opressão é o primeiro do livro Poetas do amanhã, lançado pela Prefeitura de Vitória. Em 2006, publicou o livro de poemas O óbvio complexo, que teve apoio da Lei Rubem Braga. Sempre ligado a cultura capixaba, organiza, em 2008, a coletânea de poemas Oito vezes poeta, que teve como objetivo apresentar ao público obras de autores que não tinham ajuda cultural dos seus respectivos municípios. Em 2010, formou-se em Letras-Português na UFES e tomou posse na Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Atualmente, escreve para o Caderno Pensar, de A Gazeta, e é colaborador do Blog Cultural “Outros 300” (www.outros300.blogspot.com). Confira, abaixo, o poema “Ser-vício”:


SER-VÍCIO

Todo dia saio pra trabalhar

Passo pelas ruas sem notar o sol, apesar de suar

Noto a saia da abundante mulher

Só noto a saia, não noto a mulher

Noto as notas do meu notório salário


Era melhor ficar em casa ouvindo Beatles ou The Who

Não há sintonia com o natural

E a cada dia me sinto mais introspectivo e superficial


Antes ouvia a voz dos ventos

Não ligava pro conteúdo do convencional

Agora sou parte dum mundo grupal

Corro, corro, corro pra ser um marechal


Uma vereda enche o sertão, um peixe enche o mar

Antes de tentar ver o todo, deveria tentar ver em parte

Tudo está dentro de mim: natureza, destruição,

Guerra, paz, amor, traição


Não há necessidade de uso imediato

Nada mais precisa ser inventado

Nem sempre se extrai algo do que é atribuído de significado

Há muitos nomes e jogos de máscaras por todo o lado


Eu não tenho vontade de metrificar sentimentos

E nem sei se alguém quer ouvi-los

Minha vida é um circo

Sou um palhaço e domo um leão por dia


Estou cansado de ouvir, falar, pensar, sentir

Qual é o sentido de existir?

Não quero ser informado, ler no papel

Vou inventar o antitelejornal igual ao Samuel


Estou cansado de amar, odiar, entender, querer

Eu só quero ser

Eu não quero um ser-vício!

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