segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CRÍTICA - PORQUE TANTO SAUDOSISMO DOS ANOS 80?


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Um garoto, de mais ou menos uns 17 anos, vendo em sua TV Technocolor, Daniel Larusso dando o 'golpe do garça' no adversário (foto acima), ouvindo, paralelamente 'Beth Balanço' do Barão Vermelho no último volume. Ao término do filme, ele liga seu Atari para jogar 'River Raid' tendo como única companhia os deliciosos Mini Chiclets.

Imagem de 'River Raid' jogo mais moderno da época

Aposto que se você tem mais de 30 anos bateu aquela saudade e, se você é mais jovem, bateu aquela inveja desta época. Agora... Porque os anos 80 causam tanto saudosismo até mesmo naqueles que nem o viveram? Confiram alguns motivos na crítica do Outros 300.

Cinema

A estória de Daniel Larusso ilustra bem a esquemática dos filmes para jovens dessa época. Vivendo em um mundo mais homogêneo, era mais fácil estabelecer as camadas - e características - da moçada da época. 

Basicamente os personagens eram divididos em "vencedores" e "perdedores" (pobres e ricos, respectivamente, se passados para a realidade brasileira). E eles brigavam, normalmente, por uma mocinha bonita - que era famosa na escola exatamente por ser bonita - (e tudo isso porque vivia-se numa época em que o feminismo ainda não era atuante e uma mulher podia ser destaque só por ser bela sem culpas ou neuras). 

O perdedor se apaixona pela mocinha bonita, o vencedor (que normalmente atormentava o perdedor) atrapalha, mas o perdedor vence seus medos, derrota o vilão, fica com a gata e ainda se torna também popular. Vários super sucessos da época (e convenhamos até hoje) como Namorada de Aluguel, Garota Rosa Shocking, e Admiradora Secreta seguiam este esquema. Até filmes como De Volta Para o Futuro tinham o mesmo roteiro mascarado (Martin McFly tinha de ajudar o pai, um perdedor, a conquistar a mãe, a bela da escola).

'Namorada de Aluguel'. Jovem aluga bela garota para ser popular.

Os filmes faziam sucesso pela extrema simplicidade de suas estórias que basicamente ainda refletiam o que eram as sociedades da época, também simples. Eventos terroristas, bullying, criminalidade infantil, gangues, tribos e coisas do tipo já existiam, mas não faziam parte do dia a dia da molecada.

Atualmente o saudosismo ataca a turma dos 30 exatamente pelos filmes refletirem um tempo de mais calmaria, ingenuidade e paz, onde os problemas eram, de certa forma, bobos e banais, diferente da complexa sociedade que vivemos atualmente. Ver Daniel Larusso ter como grande problema só defender a sua honra perante sua bela namorada dá uma paz danada pra gente...

Música

Engraçado como quando falamos de rock brazuca todos automaticamente lembram-se dos anos 80, como se deletassem a 'Jovem Guarda' e outras turmas como 'Mutantes', 'Novos Baianos' e Raul Seixas da memória. 

Barão Vermelho fazia o maior sucesso com o hit 'Beth Balanço'.

A rigor o que marcou as bandas dos anos 80 era que, assim como os filmes, elas refletiam o exato momento do país na ocasião. O país vinha, paulatinamente, abandonando a ditadura e finalmente era possível criticar abertamente.

Logo, a turma do rock, composta em sua maioria por filhos de políticos, embaixadores, empresários e afins, com uma escolaridade melhor e, por consequência, com um senso crítico mais apurado, pegavam suas guitarras e soltavam o verbo. Grandes sucessos como Alvorada Voraz, Que País é Este? e Ideologia tinham exatamente a crítica social como temática.

Legião Urbana em 1º lugar no Globo de Ouro com 'Que País é Este?'

Não que outras bandas de rock e artistas de outros ritmos (Rosana e Ritchie que o digam) não fizessem sucesso, mas o rock realmente teve espaço especial nesta época. Tanto que, lá pelos idos de 1988, praticamente no fim de era do voto não popular, o ritmo perdeu força e foi, lentamente, perdendo espaço a outros como, por exemplo, para a famigerada Lambada.

Sem a efemeridade de hoje e numa sociedade que valorizava a autenticidade, havia uma preocupação muito grande em compor letras relevantes (mesmo as de amor), que tivessem algo a dizer. Como muita gente surgiu e como coisa boa fica na memória pra sempre, dá-lhe saudosismo...

Plano geral

'Maria sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João' e 'Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é, bicha?'. Marchinhas como esta, cantadas pelo imortal Chacrinha seriam impossíveis de serem entoadas hoje em dia em nossa doente e paranoica sociedade.

Expressão da liberdade e alegria do povo em forma de apresentador

Isso ilustrava o que era o país na ocasião. Finalmente livre, sem proibições bobas, alegre e em reconstrução cultural, social, e, por que não?, emocional.  A TV (com destaque para a extinta TV Manchete) contribuiu muito pra isso transmitindo, à cores, os gols do Zico (numa época em que jogadores não trocavam de clube igual trocam de cueca), os novos clipes do Michael Jackson, os episódios de Juba e Lula, Sítio do Pica Pau Amarelo e pérolas como 'O Povo na TV', 'Jaspion', 'Garota do Fantástico' e 'Clube da Criança'. Tudo era novidade e a gente era surpreendido a cada semana com uma coisa nova (que não saia de moda, ou linha, dois meses depois).

Jaspion. Heroi de estórias que tinham o mesmo roteiro e que era todos os dias era exibido, com sucesso, na extinta TV Manchete

Por isso essa febre de "se você conhece isso você é velho" com várias coisas dos anos 80. Essa época realmente foi legal, realmente foi diferente e te dá toda a liberdade de ser saudosista. Seja a vontade. Tá Liberado!...

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