sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

HERBERT VIANNA: O LIRISMO PECULIAR DO BELO ÁLBUM "VICTORIA"




Por se focar nos arranjos, Herbert tira licença poética para interpretar as canções de outra maneira, muitas vezes alterando melodias e climas das canções

Logo de cara, na canção que abre o quarto disco solo de Herbert Vianna, Victoria, o ouvinte é convidado a entrar (e a permanecer) na atmosfera intimista que envolveu a feitura do álbum. Durante um ano, sempre que a agenda permitia, o cantor e o produtor Chico Neves se encontravam no Estúdio 304, no Rio de Janeiro, para trabalhar as vinte composições escolhidas, todas de autoria de Herbert, duas delas em parceria com Paulo Sérgio Valle, duas com Paula Toller e uma com Leoni. Apenas uma canção inédita: Penso em você, primeira música composta por ele, antes mesmo de fundar os Paralamas do Sucesso.



O álbum traz 20 músicas compostas por Herbert e que foram gravadas por outros artistas. Todo o disco foi gravado pela dupla com Herbert Vianna na voz, violão, guitarra e percussão e Chico Neves no minimoog, baixo, violão, teclados, xilofone, sitar e efeitos. A capa é do artista plástico Barrão.



O cuidado, a liberdade para experimentar, a cumplicidade entre cantor e produtor são percebidas em cada uma das faixas. A sensação ao ouvir as famosas canções não é apenas a de reconhecê-las, mas a de redescobri-las. As discretas surpresas dos arranjos deixam claro que o “espírito de não repetição, de não cair no mesmismo”, mencionado por Herbert, foi realizado com requinte e sutileza pela dupla.



Avesso à exposição de sua figura, Herbert Vianna nunca fez muita questão de promover seus álbuns solo (tanto que Victoria foi lançado pelo desconhecido selo “Oi Música” e sequer possui um single). Seus agora quatro álbuns sempre chamaram a atenção por apresentar uma sonoridade bastante distinta dos Paralamas, mais acústica. Muitos experimentos serviram de base para canções mais tarde regravadas pelos Paralamas com arranjos distintos (caso de “O Rio Severino”, canção acústica que veio aos Paralamas como um poderoso rock). Também há o caminho contrário, como “Dos Margaritas” e seu arranjo acústico blues totalmente distinta da versão de “Severino” (1994).



Quase todas as canções de Victoria foram gravadas por outros intérpretes, grande parte delas por cantoras: Daniela Mercury (Só pra Te Mostrar), Ana Carolina (Pra Terminar), Maria Bethânia (Quando você não está aqui), Zizi Possi (Só Sei Amar Assim), Paula Toller (Derretendo Satélites), Ivete Sangalo (Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim e A Lua Que Eu Te Dei), entre outras. Fato que Herbert reconhece como “reflexivo de algum grau de sintonia com referências da sensibilidade feminina”.



A aura íntima e delicada do trabalho está na capa assinada pelo artista plástico carioca Barrão e, principalmente, pela escolha do título: Victoria é o primeiro nome da mulher de Herbert, a inglesa Lucy Needham Vianna, falecida em 2001.


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