sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: LUCIMAR SIMON



Lucimar Simon nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são diversas perpassando por autores de Clássicos da Literatura Brasileira e Estrangeira. Busca ler e acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os ditos “poetas marginais”. Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a fatos cotidianos, memórias, experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem ser conferidos em Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens Escritores em: “Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro de Ouro do Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº 54”, todos publicados em 2009.  Lucimar Simon é Graduado em História pela UFES. Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES. Confira, abaixo, o conto “Manchete”:

MANCHETE

A música do bar é agradável, algo tipo Caetano e Gilberto Gil, as pessoas ali presentes são todas conhecidas amigas umas das outras, por ser mais de 23:00 horas as coisas estavam calmas e numa serenidade ininterrupta, coisa boa de ver e ouvir nesta vida. Vagarosamente aproxima-se um homem que aparentemente não teria outro motivo para está em outro lugar, a não ser ali, naquele bar, com aquelas pessoas ouvindo aquelas músicas e tomando as mesmas bebidas.

Com um olhar atento mesmo depois de três dozes caprichadas de um bom conhaque ainda percebia a situação ao redor, no balcão uma mulher morena, cabelos longos olhos meigos, pernas lindas, e portava um vestido que lhe caia muito bem na naquela ocasião, era Joana a filha do líder comunitário do bairro, provavelmente esperava um dos “playboy” do centro que viria buscá-la para uma balada no clube da cidade. Boas noitadas nestes clubes, ainda me lembro de bons fins de noite quando morava a Rua das Araras, numa pequena cobertura do edifício Santa Paula.
Desviei o olhar de Joana e me concentrei em mais uma golada de meu doce conhaque, retornando ao copo não dei tanta atenção assim á mulher que saiu logo em seguida que em frente ao bar estacionaram um gol branco, quatro portas e rodas de liga leve, som alto estilo danceteria, isso reforçou minha saudade, que buscaria compensar se não estivesse em tempos ruins.
Saia do bar, quando chegara Robson Mendes, radialista e de quebra-galho era fotografo para um jornal local, disse que na véspera dessa eleição política tudo poderia acontecer e que ficaria a noite toda na rua em busca de uma notícia para o domingo de eleições. Convidou-me a mais uma dose que aceitei, Robson era muito bem “antenado” com as coisas, sabia as divisões e rachas de todos os partidos locais, quem era com quem, e qual seu propósito na política. Na verdade também já tinha se aventurado por estes caminhos, uma vez ou duas foi candidato a vereador, obteve boa porção de votos, mas esbarrou numa tal de “legenda favorável” a qual o impossibilitou uma vez de assumir seu cargo.

Então disse nomes dos favoritos e onde possuíam maiores números de votos, disse quem ia trabalhar e que ia sugar os recursos sem nada de novo ou bom pra cidade fazer, “acho que Robson poderia ser, mas não era Petista”. Mas tudo bem nestes tempos difíceis entender da política já era grande coisa, saber o que eles planejavam era melhor ainda, convenhamos que saber não é nada sem poder, mas menos detalhes era o que fariam em prol da cidade.
O bar onde estávamos não era o melhor da cidade e menos ainda do bairro, mas por incrível que pareça era bem freqüentado, percebi isso durante os anos que morei na esquina da Rua Maria de Lurdes, com a Rua Carmem Barroso, essas ruas ficam de um ângulo favorável a minha visão da ampla varanda do bar.
Aproximava-se a 23:30 horas quando me despedir de Robson e passava a porta do bar quando entrou dois homens bem vestidos saudando e cumprimentando as pessoas e foram ter com nosso ilustre radialista e fotografo. Foram dois minutos, entrei em casa, passei pela sala, fui á cozinha, tomei água, retornei a sala, liguei o som e fui ao banho, ainda antes de entra no chuveiro ouvira o início da música, “rádio Antena Um”, me fez lembrar algo, não muito longínquo, mas também algo do passado que tinha certeza não existir mais.

Olhei para uma foto no quadro de parede, o sorriso era tão presente, o olhar parecia vigiar-me de onde estava, sorrir e fui para o quarto. O som permanecera ligado, adoro dormir ouvindo “Antena Um”, é como se alguém estivesse presente na casa, e essa presença era algo que eu queria sentir, não apenas pelo som, mas também pelo toque, mas também pelo sussurro ou um pequeno e curto abraço de uma noite inteira.
Retorno á sala, procuro algo, não vejo, vou a cozinha, tomo água, volto á sala, vou ao terraço, observo a lua e o silêncio das ruas, minha alma nua busca proteção, minha vida crua uma doce ilusão, algumas pessoas ainda estão no bar, neste momento não precisa mais voltar, apenas ligar, o telefone toca, desço as escadas correndo, ouço gritos e choro, recebo a notícia visto-me numa rapidez instantânea chego na rua em frente ao bar, Robson Mendes radialista e fotografo de quebra galho, estava morto, morto, Robson Mendes estava morto!


Um comentário:

  1. Um ótimo texto! Prendeu minha atenção que li quase que sem respirar...rssrs

    adorei!

    Diana Carla

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