“Andante” é repleto de samba, balada, rock, samba-rock, toada, jazz, entre outros. Por ter vários estilos, o álbum pode parecer sem unidade numa primeira audição. No entanto, depois de Marisa Monte, Zeca Baleiro, Lenine e Chicos, César e Sciense (referências dos anos 90 para o autor), isso não tem mais lógica. A unidade, nesses casos, era não ter unidade. Na verdade, o álbum expõe o ecletismo estudioso e sem preconceito do autor, amante das canções (sob qualquer roupagem) e da literatura.
Como toda primeira obra musical ou literária, “Andante” acaba sendo uma coletânea do que o cantor melhor produziu ao longo dos anos. E que coletânea! Já que o compositor tem anos de estrada e estudo (FAMES e UFES). Dito isto, não deixe de conferir este grande disco que já levantou poeira e fez muitos dançarem!
As canções (todas assinadas por Edivan Freitas):
“De Zica” – Um dos ótimos sambas do disco. É uma elegia a beleza negra. Bela homenagem. Aqui, leia-se “zica” como pessoa maneira, legal, suave, que só compra briga quando suas tradições são denegridas.
“Vira-lata” – Outro grande samba do álbum. Ao mesmo tempo em que o eu lírico se diz um nada, ele enaltece a missigenação. Desse modo, como a vida, o eu poético é finito, volátil.
“Samba, Suor e Samplers” – Samba-rock com pegada Lenine. O autor expõe que agora “o funk é a voz do morro”, fazendo referência a “Eu sou o samba”, de Zé Kéti, o qual um pequeno trecho é citado. Sem preconceitos, o funk é posto como algo válido e expressão de um povo.
“Do Riso” – Canção que remete Zeca Baleiro do disco “Líricas”. Bela toada. Bela letra em que há até intertexto com “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Destaque para o piano de Dori Sant’Ana.
“Andante” - Grande música que dá nome ao álbum. Metacanção ao estilo José Miguel Wisnik. Num tom melancólico, o compositor cita todos os estilos musicais que lhe fazem a cabeça.
“Berimbau Universal” – Ótimo rock. Destaque para a guitarra de Rodolfo Simor (produtor do disco e guitarrista do Solana). Aqui, tem-se um Edivan antropófago, dialogando com Carlinhos Brown, Baden Powell, entre outros, e expondo o instrumento angolano berimbau, elemento fundamental da nossa capoeira.
“Ala Perdida” – Ótima balada ao estilo Beatles (“Let it be”). A guitarra de Simor lembra muito Radiohead também. A letra é um poema. Com lirismo, o cantor consegue versar acerca de um drama, de um problema social sem ser piega ou panfletário.
“Em Mim” – Bela balada. A musa é algo local (em mim) e global (lugares do mundo), pois passeia pelo coração do poeta e por diversos lugares do mundo. A canção lembra muito Flávio Venturini, tanto em arranjo como em voz.
“Medida” – Canção com ares de jazz e blues. Letra e melodia perfeitas. Destaque para o piano de Turi Collura.
“Catraieiro” – Esta não é uma canção, é um hino. Poderia muito bem ser o hino de Vitória. É um clássico do cancioneiro do autor. A linda letra traz muitas referências (intertextos), tais como “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, entre outros.
“Vitral” – Canção filosófica sobre a vida e a morte. Dialoga com os problemas atuais, a história e a religião. Bela salada poética.
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