Considerado um dos principais livros de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo”, lançado em 1975, teve sua publicação e circulação proibidas em todo o território nacional um ano mais tarde, sendo recolhido pelo Departamento de Polícia Federal, sob a alegação de conter "matéria contrária à moral e aos bons costumes". Foi proibido pela censura do regime militar, acusado de fazer apologia da violência. O regime autoritário, que tentava à força encobrir os problemas que compunham a face negra do país, não suportou a linguagem precisa e contundente dessa coleção de contos que traduzem ficcionalmente a verdadeira fratura exposta do corpo social. A atualidade artística de histórias como a que dá nome ao volume colabora para lastrear a reputação de um dos maiores escritores brasileiros vivos.
O conto Feliz Ano Novo não apenas dá nome ao livro como o abre como se fosse um tiro de doze ecoando aterrorizante. É um chute arrombando a porta que nos impede enxergar a podreira do mundo que nos cerca, a lama onde nós também estamos enfiados. O grande trunfo de Feliz Ano Novo é tratar a violência com frieza, naturalidade, como se fosse algo bastante corriqueiro, o que a torna ainda mais cruel.
O livro só pelo primeiro conto já valeria, mas ainda há muito de Rubem Fonseca nas páginas que restam. É bem verdade que os outros contos não seguem o ritmo, até mesmo porque depois da paulada de Feliz Ano Novo, poucos seriam capazes disto. Uns decepcionam (“Corações Solitários”; “Agruras de um jovem escritor”; “O Campeonato”), outros ficam no purgatório (“Abril, no Rio, em 1970”; “Botando pra quebrar”; “Nau Catrineta”) e alguns surpreendem (“Passeio Noturno”; “Dia dos Namorados”; “O Outro”; “O Pedido”; “Entrevista”; “74 Degraus”; “Intestino Grosso”). Confira essa obra necessária de nossa literatura!
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