A carioca Marina Lima construiu sua carreira sobre uma mistura intensa de elementos musicais banhados em muita elegência elegância, feminilidade e intimidade. Quer seja o assunto do qual ela esteja falando, sempre se imagina que se trate de algo muito íntimo. Neste caldeirão de confissões, ela colocou rock, samba, eletrônico, jazz, bossa nova e raras foram as vezes em que ela dividiu suas músicas com outros intérpretes. Em contrapartida, em 19 discos lançados ao longo de 32 anos, ela sempre contou com o filósofo Antônio Cícero, seu irmão, como seu principal letrista. Este ano ela decidiu quebrar algumas regras e lançar “Clímax”, o segundo pelo próprio selo, Fullgás. Curiosamente, Cícero não figura sequer nos agradecimentos.
O disco, produzido por Edu Martins e Alex Fonseca, traz 11 músicas, das quais sete são assinadas somente pela cantora. A escolha por um repertório tão pessoal trouxe um clima mais soturno e melancólico ao disco que, como um todo, versa sobre as diversas formas de perda e solidão. Em contrapartida, é a primeira vez que ela convida tantas novas estrelas para dividir com ela o microfone (com excessão do “Acústico MTV”, onde os convidados são exigência contratual) e as composições. Logo na largada, “Não me venha mais com amor” é uma parceria furiosa com Adriana Calcanhotto onde o eu feminino assume seu direito de fazer sexo apenas por prazer. A batida forte dos samplers reforça o recado repleto de imagens quentes e sensuais.
A perda de voz sofrida em meados da década de 90 ainda não está totalmente superada e em alguns momentos Marina parece se exigir mais para atingir as notas, como é o caso na urgente “Lex”. Empolgada com a mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, ela declara em “#SP Feelings” o quanto “essa cidade faz meu som vibrar e querer viver pra concluir tanta perspectiva nova, ímpar, que só as cidades grandes sabem produzir”. Assim como se firmou como compositora, Marina sempre gostou de testar novas roupagens para os clássicos dos outros. Dessa forma, ela já desmontou e reconstruiu “Emoções” (Roberto/ Erasmo), “Garota de Ipanema” (Vinicius/ Tom) e “Only You” (Ram/ Rand), todas com bons resultados. Em “Clímax”, a escolha foi para “Call me”, canção de Tony Hatch lançada por Petula Clark em 1965. O que antes era um roquinho leve virou uma balada triste e lenta, focada em teclados econômicos que casam bem com o clima geral do disco.
No assunto convidados, Vanessa da Mata dialoga com a anfitriã em “A parte que me cabe” e juntas produzem um dueto bonitinho sobre a passagem dos tempos. Mais climática e cheia de ruídos, “Desencantados” recebe Karina Buhr e Edgard Scandurra. Por fim, “Pra sempre” é cantada e composta ao lado de Samuel Rosa e poderia perfeitamente está num disco do Skank. Já no de Marina, ela parece deslocada e mais pop do que todo o resto do disco. Ainda assim, não se pode dizer que ela compromete o resultado do disco e até pode ser apontada como uma boa candidata primeiro single.
No entanto, mais que a vontade de tocar no rádio, Marina lima prefere cantar suas dores e seus amores da forma mais sincera possível. E deixe quem quiser gostar. Com esse entendimento, “Clímax” é uma carta de retorno de uma cantora que tem muito a dizer, mas, quase sempre, intercala momentos de exposição moderada com reclusão total.
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