quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA.


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônicaAzul e outras pílulas”:

AZUL E OUTRAS PÍLULAS

A vida... Carpideira pelas defuntosas partes. Chorosa, nas entranhas do viver. Não tenho dinheiro, mulher. Sou duro! No pior dos sentidos, mas sou. E quem dera que eu visse no final do túnel, ou da luz, naquela greta, grelhosa, uma ínfima solução! Neste vasto mundo, eu que antes era Raimundo, perdi a rima, o pinto, me foi todo o tesão (sou tão drummondiano! Sou leitor de Drummond, não confunda com Dumont).

O fracasso derradeiro, este sou eu. Desnudo. E duro!
Como foi minha alegria, ah! Quatro dias com o pau em riba, a foder em uma, duas gurias. Não havia, ouvinte meu, problema algum. Estava a descansar no meu paraíso. Foi naquele quarto dia, nem me deste a quantidade da criação! Eu de tão orgulhoso a ostentar aquela verga dura, impetuosa... Não dei conta de minha tragédia. Quando dei por mim estava roxo. Preto. Enegrecido. Frio.

Dera gangrena no pau! Sentenciou, fatídico, o doutor!
Agora apalpo o fantasma em mim. Liso. Envergonhado. Sei que não sou mais eu. Deixei o meu eu naquela mesa fria, extirpado, mutilado agora vou. Serei das purezas? Eu? O praticante das mais pútridas vilanias?
Estava até agora com o pau em riste! Por que, senhor, por quê? Me deste tanta alegria. Ungiste-me! Era abençoado, tinha um belo varão... Lá pelos seus vinte e tantos centímetros, mas fora de combate, quando alegrinho era o soberano, em vulvas de antanho.

Tomei o comprimido. “Azul da cor do mar”, diria o Tim Maia. Poderia meter a rodo, era torto ou direito, o pau nem tremia, fremia na coisa. Estaria lá, agigantado! Algo grande em um ser tão apequenado. Tantos lábios a serem corrompidos, eu era um ser tão absoluto... Um titã, ciclope a devorar alguém!

Sentado, nesta praça frívola, a ver o movimento, e o coração a perguntar “por que tantas pernas, meu Deus?” (manteve-se a mania besta, quem hoje lê poesia? José? Drummond?). Sigo “gauche”, a torto e direto, feito anjo bisonho, tristonho, vou arrastando minhas sandálias pelas ruas frias com saudade daquilo que poderia ser, mas não foi. Tudo é azul, restarão outras pílulas?


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