Aclamado
pela crítica internacional e nacional, o cinema sul-coreano é um dos que mais
têm dado bons frutos nos últimos tempos, resultado de uma Coreia ativa, em
ascensão cultural e econômica. A Coréia do Sul
é um dos únicos países no mundo em que o cinema nacional é mais visto que o cinema norte-americano. O Outros
300 indica 5 dos grandes filmes desse cinema:
1. Oldboy (Oldeuboi,
2003).
Dirigido por Park Chan-wook, não é a toa uma das 100 melhores produções do
cinema conforme o IMDB.com, e indiscutivelmente uma das grandes obras primas do
cinema coreano. A narrativa gira em torno de um homem que é misteriosamente
sequestrado e aprisionado por 15 anos e, depois deste período, parte em uma
jornada de vingança atrás daqueles que o prenderam. Steven Spielberg tentou
refilmar este pesadelo moderno com Will Smith no papel de Dae-su, mas jamais
uma produção hollywoodiana consegueria se aproximar dos viscerais, depressivos
e impactantes 30 minutos finais que além de encerrar de maneira brilhante um
dos melhores filmes da década passada também dá um novo nome a um final
surpreendente na revelação do grande plano por detrás da prisão de Dae-su.
2. O Hospedeiro
(Gwoemul, 2006). Uma das patentes do cinema japonês, afora o terror minimalista de
espíritos e assombrações, é a aquele que reside na invasão de um grande
monstro, leia-se Godzilla, que ameaça dizimar toda uma população. Apoderando-se
desse subtítulo, o diretor Bong Joon-ho realizou o maior sucesso comercial da
história da Coréia do Sul, e não obstante, um excepcional estudo do pânico
causado em uma dimensão micro, no âmbito familiar dos protagonistas, e macro,
no envolvimento da sociedade e do governo em conter a estranha criatura
semelhante a um polvo. Para temperar, o diretor investiu no desenvolvimento das
personalidades de cada um ameaçado e evitou que crianças e mulheres tornem-se
"imunes" à criatura, em outras palavras, transformou todos em
potenciais vítimas no real sentido da palavra. Ao imaginar que inocentes e
doces crianças não estão a salvo do monstro e ao introduzir um tom bem humorado
apropriadamente, Bong Joon-ho criou um suspense formidável.
3. O Caçador
(Chugyeogja, 2008). Você se lembra como se sentiu após o final de Se7en, quando o John Doe
de Kevin Spacey envia uma mórbida encomenda ao detetive Mills interpretado por
Brad Pitt? Na Hong-Jin parece seguir na mesma direção ao desenvolver uma
narrativa imprevisível não satisfeita em seguir convenções, mas em criar um
percurso inimaginável e extremamente satisfatório. Kim Yun-seok e Ha Jung-woo
protagonizam um duelo antológico nas telas, desde a maneira com que são
reunidos até os segundos finais. Kim é um ex-detetive cafetão investigando o
desaparecimento de uma das prostitutas que agencia e que está nas mãos do
perturbado Ha. Sem se reduzir a um jogo de caça e rato, Na Hong-jin adentra em
uma Seoul feia, suja, chuvosa e perigosa, acentuada na fotografia granulada.
Evitando esquivar-se de uma crítica à sociedade sul-coreana apresentando
personagens moralmente duvidosos, policiais mal preparados e uma metrópole
pouco convidativa, impressiona neste suspense o arco dramático do cafetão e a
responsabilidade moral e sensibilidade que desenvolve diante dos eventos que se
apresentam, a crueldade e absoluta vilania jamais gratuita de Ha e um senso de
humor oportuno, tendo o mesmo efeito de um brisa em um dia quente. Fascinante
desde o pôster original!
4. Sede de Sangue
(Bakjwi, 2009). Park Chan-wook entrega-se ao fascinante universo dos vampiros no melhor
exemplo de que o cinema é muito mais interessante quando não se prende a gêneros
específicos. Longe de ser apenas um filme de terror, apesar de haver sangue e
mortes, a obra de meditação acerca de um padre que em um experimento médico
contraí o vampirismo, encontra nítido reflexo nos contrastes e no simbolismo da
narrativa. O vinho da comunhão faz alusão ao sangue necessário para a sobrevida
de Sang-hyeon, a bata sacerdotal assemelha-se contextualmente a indumentária de
Nosferatu ou Drácula e a vida monástica colide-se com um apetite voraz e
sexual. É um filme de dualidades, não do bem contra o mal, mas da reflexão e
meditação versus o impulso e o instinto.
5. A Busca pela Verdade (Madeo, 2009). Em época de dia das
Mães, Kim Hye-ja é uma das provas do amor incondicional que cercam a figura
materna, e paradoxalmente, o violento e brutal testemunho de até onde uma mãe
irá para inocentar o seu rebento. No entanto, eu seria injusto se resumisse
este drama a um resumo destes. A vida de Kim resume-se em cuidar do ingênuo
Yoon, evitando que o jovem não ande em más companhias ou volte cedo para casa,
e a quixotesca rotina diária desmoronada depois da morte de uma jovem e da
confissão assinada, despretensiosamente, por Yoon. A jornada adentra na
realidade de uma cidade triste, marginalizada e claustrofóbica na qual as ações
de Kim despertam mais apatia e inércia do que em práxis, culminando no
desespero crescente de uma mãe que apenas consegue libertar-se das amarras em
uma curiosa e inesperada dança.
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