domingo, 8 de janeiro de 2012

DAVID BOWIE: UM CAMALEÃO MUDA DE COR MAS NÃO DESAPARECE

Com 65 anos, Bowie já não precisa de se vestir de quem quer que seja, já não precisa de se reinventar. O seu último álbum, Reality, foi editado em 2003. No ano seguinte, depois de um concerto em Hamburgo, sentiu fortes dores no peito e foi conduzido ao hospital. Uma artéria obstruída e uma cirurgia de emergência (termo técnico: angioplastia). Depois, o retiro em Greenwich Village, onde vive com a mulher, Iman, e a filha de ambos, Alexandria. As aparições intermitentes que fez desde aí - na televisão com os Arcade Fire; em palco com o amigo David Gilmour; com Rick Gervais na série Extras - não apagaram a sensação de que, se a idade da reforma ainda demoraria a chegar, David Bowie estava efectivamente reformado. Porém, longe de desaparecer.

A moderna ideia de pop vive a sua meia-idade. Os que primeiro cresceram com ela têm a idade de Bowie e continuam a comprar os discos (e as reedições, e as caixas luxuosas) dos ídolos de outrora e a comprar os bilhetes para os seus concertos - são, de facto, os maiores clientes de uma indústria discográfica em crise profunda.

Quanto à geração mais recente, vive um presente que se constrói pela confluência e colisão das décadas passadas. E por isso David Bowie, muito recatado a pintar, a visitar museus ou a cuidar da filha, está impedido de desaparecer, quer enquanto figura ainda inspiradora para a música (Destroyer, Patrick Wolf, Lady Gaga) e para a moda (Kate Moss fez a mais recente capa da Vogue francesa fotografada enquanto Ziggy Stardust), quer enquanto cânone que a cultura de massas tenta conformar à sua mediocridade. Jarvis Cocker, o líder dos Pulp, contava recentemente como lhe deu a volta ao estômago ver os concorrentes do X-Factor, programa aparentado ao Ídolos, interpretar um dos clássicos de Bowie, Heroes: "[no refrão] entrou uma série de soldados. Porque [a canção] era para os heróis. Como se, de repente, vivêssemos num estado totalitário. Foi aí que percebi: acabou. Fui."


Paul Trynka, jornalista e ex-editor da revista Mojo e autor de Starman, biografia editada este ano, acredita que o autor de Changes se reformou da música. "O meu coração acredita que ele regressará, mas a minha cabeça diz que o mais provável é não o fazer", confessou àSpinner, citado pelo New Musical Express. "Julgo que só ressurgiria com qualquer coisa de sísmico. Se reaparecer no cenário, tem que ser com uma grande explosão e muitos flashes. Seria um pouco miraculoso se regressasse, mas os milagres acontecem".

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