Há certos filmes que ficam no coração da gente para o resto da vida. É o caso deste longa relativamente recente para já ser chamado de clássico. Mas esta edição comemorativa das suas bodas de prata vai ajudar bastante a manter sua reputação.
A edição é ótima porque foi feita com a colaboração de todos envolvidos e o ponto alto é justamente o que eles chamam de exclusivo para aqui, uma conversa com imagens “picture in picture”, de um comentário durante todo o filme, mas com cenas continuas do diretor e dois convidados.
Will Wheaton (o protagonista, gordinho e barbudo, pai de dois filhos já na faculdade, na verdade, filhos do primeiro casamento da esposa, e que tem sobrevivido dublando vozes, segundo o IMDb com muita frequência. Ele parece inteligente e informado).
O outro é Corey Feldman, o mesmo de Goonies, que parece recuperado dos problemas com drogas. Ele menciona o amigo Michael Jackson (chegou a ser convidado para gravar a música Stand by me para o filme, mas depois preferiram usar a versão original) e lamenta não ter podido ajudar River Phoenix (já que não época ele estava saindo do rehab e tinha as armas para fazer isso, os contatos).
O Blu-ray tem um longo making of retrospectivo (25 anos depois), com depoimentos de todos os envolvidos inclusive de Kiefer Sutherland, de quem este foi o primeiro filme americano.
Em duas coisas todos os envolvidos concordam: a primeira delas é a escolha do elenco considerada ideal por todos, a pessoa certa no papel certo. Reiner assume o mérito maior por isso, e afirma que é resultado em grande parte por ter sido ator e que essa formação lhe ajuda muito na condução dos colegas, porque entende o processo de trabalho dos atores. Que o diretor ideal seria quase como um coach, um técnico esportivo.
O filme teve duas semanas de ensaios para poder assim criar um clima de amizade entre os garotos. Na primeira fizeram jogos teatrais e na segunda estudaram especificamente as cenas e como resolvê-las. Acham que foi por causa desses ensaios que o filme foi bem solucionado.
A outra coisa é: todos lamentam, e com muita tristeza, a morte do jovem River Phoenix (1970-93, de camisa branca na foto abaixo), que era filho de hippies, vegetariano, todo ligado à terra e ecologia, mas que morreu de enfarte causado por overdose de drogas com apenas 23 anos em 31 de outubro, na boate de Johnny Depp em Sunset Strip, nos braços de seu irmão mais novo Joaquim Phoenix (que desde então sempre pareceu mentalmente perturbado). Teve tempo de fazer 24 filmes (deixou um inacabado), era um ator muito sensível e todos afirmam que teria ido muito longe (outro que lamenta muito sua morte prematura é o diretor Sidney Lumet, que o dirigiu em Running on Empty/O Peso de um Passado, que lhe deu uma indicação ao Oscar de coadjuvante, isso na edição em Blu-ray de Network/Rede de Intrigas).
Aqui, no filme, ele interpreta Chris, que é o mais durão e marginal da turma, considerado um bad boy e apesar disso um bom sujeito, leal, esforçado. Também é tocante o fato de que de todos os envolvidos ele é o único personagem que acaba morrendo (na verdade, é esse o fato que provoca toda a história, porque o escritor ao ver a notícia no jornal começa a narrar o filme. Morre inclusive heróica, mas estupidamente ao tentar impedir assalto a banco).
Por isso sua cena final de despedida com aceno é mais ainda emocionante (é muito curioso também que como a história é autobiográfica, ou seja, inspirada em fatos reais acontecidos com o escritor Stephen King, na realidade os três amigos dele acabaram morrendo cedo. Para o filme achou-se melhor reduzir isso e concentrar assim a emoção).
Reiner considera a sequência em que Chris/River conta como é injustiçado e considerado sempre culpado antes de terem provas, como a sua favorita, muito bem escrita (disse que teve que conversar sozinho com River, porque nas primeiras tomadas ele não conseguiu passar a emoção necessária).
Uma outra coisa que Reiner acha original e no que foi pioneiro, é a conversa entre os garotos com temas pops (como a discussão para saber, que Mickey é camundongo, Pluto um cachorro, mas que diabo de bicho é Pateta/Goofy?). Um tipo de papo que tem se repetido desde então em inúmeros filmes.
Aliás, Stephen King aparece no making of considerando esta uma das melhores adaptações de obras suas, sua favorita (afirma que tem coisas que pode até discordar, mas que gosta muito do resultado). O que não quer dizer tanto quando se pensa que King não gosta nada nem de Carrie, a Estranha, de De Palma, nem de O Iluminado, de Kubrick.
Um outro fato curioso é que o mais novo dos meninos e totalmente inexperiente, que faz o gordinho e desajeitado Vern, é Jerry O´Connell. Os próprios colegas não acreditam que este tenha crescido e se tornado um galã (Jerry Macguire, Piranha 3D, séries Crossing Jordan e Sliders). O que mais eles comentam é o fato dele ter se casado com a bela Rebecca Romijn de X Men e Femme Fatale. Com quem tem dois filhos. A mudança de Jerry sem dúvida é espantosa e irreconhecível.
O filme foi indicado ao Oscar de roteiro, Globo de Ouro de direção e drama, ao Sindicato dos Diretores e Roteiristas e Independent Spirit de filme, direção e roteiro. Não ganhou nada. Mas o importante é que resistiu muito bem ao tempo e até melhorou. Ao menos não temos mais preconceito ou resistência para poder gostar dele. É curto, sensível, feito com humor, emoção, sentimento. Continua a ser um prazer rever Conta Comigo. Desculpem-me pelo post longo, mas é que, de verdade, esse filme fez parte da minha vida.
Corey Fieldman, Jerry O' Connell,River Phoenix, e Will Wheaton. Conta Comigo um dos filmes mais belos dos anos 80
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