segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MARISA MONTE: "O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE"


Perder o rumo é a coisa mais fácil do mundo no mundo da música. No tenso equilíbrio entre arte e indústria, o artista do primeiro time sempre se depara com um momento crucial: o surgimento de uma nova geração, tanto de fãs, quanto de concorrentes. Marisa Monte, 44, entendeu bem o espírito do tempo.
A carioca não lançava material inédito há seis anos. O título do novo trabalho, "O que Você Quer Saber de Verdade", pode ser uma interrogação ou uma afirmação, mas de certa forma explica bem a posição atual de Marisa.

De cantora que reinava no segmento de MPB sofisticada nos anos 90, com uma postura hippie-chic que se tornou referência para toda uma geração, Marisa participou do estouro do projeto Tribalistas em 2002 e seus mais de 2 milhões de discos vendidos, ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.

Mas, de lá para cá, Marisa sobreviveu ao menos a três gerações de novas cantoras. Vive num universo paralelo aos "blockbusters" Ivete Sangalo e Cláudia Leitte. E, na realidade da internet e redes sociais, teve que se adaptar a um público com interesses cada vez mais fragmentados.

Se há alguma "mensagem" no novo disco de Marisa, essa é uma espécie de elogio das questões essenciais da vida. Quase como subliminarmente, é como se a cantora convocasse os ouvintes a apreciar o antigo mundo, mais real e menos virtual.

Esse saudosismo pode vir na celebração de canções de amor, correspondidos ou não, como na primeira música de trabalho, "Ainda Bem" ("O meu coração/ já estava acostumado/com a solidão/quem diria que ao meu lado/você iria ficar"), ou "Depois" ("Depois/ de tantos desenganos/nós nos abandonamos/como tantos casais"). Marisa sabe bem que amor é algo que nunca sairá de moda.

Músicas como a faixa-título (com os versos "Solte os seus cabelos ao vento/não olhe pra trás/ouça o barulhinho que o tempo/no seu peito faz/faça a sua dor dançar"), "Seja Feliz" ("Seja feliz/com seu país/seja feliz/sem raiz"), ou "Nada Tudo" (de André Carvalho, que começa com "Nada, nada, nada/Tudo, tudo, tudo/ nada e tudo, eu não sei mais/o que não é inteiro") evocam um espírito hippie de desapego, de busca pelo essencial.

Há ainda a questão mais puramente prática de toda a operação. Marisa tem usado seu site e seus perfis nas redes sociais como única ferramenta de comunicação com o público, assim como Chico Buarque fez recentemente. É a eficaz maneira de interagir com multidões, manter a privacidade e evitar superexposição (além de perguntas inconvenientes de jornalistas).

E, principalmente, é o constante refinamento de sua maneira de produzir que garante o interesse de "O que Você Quer Saber de Verdade". Se tudo soa mais ou menos como nos discos anteriores, é porque Marisa sabe, como poucos artistas, cercar-se de amigos e algumas das melhores mentes do momento. Mantém a antiga parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown em várias faixas (quem quiser, vai encontrar ecos dos Tribalistas no disco). Se o disco não tem samba, outros gêneros, como tango, xote, mariachi estão ali, graças a participações de nomes como Pupillo (bateria), Dengue (baixo) e Lúcio Maia (guitarra), da celebrada Nação Zumbi, ou Rodrigo Amarante e Marcelo Jeneci. Até no videoclipe de "Ainda Bem" entra uma figura popularíssima, como o lutador Anderson Silva. A união faz a força, sabe Marisa.

Para quem quiser baixar esse grande disco, segue o link: http://www.mediafire.com/?smexs3kj4uqc7l4

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