Helder Trefzger é maestro Titular da Orquestra Filarmônica do Estado do Espírito Santo desde 1992, é Bacharel em Música-Regência, tendo iniciado seu curso na UnB – Universidade de Brasília – e concluído na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Teve como principais professores o maestro e compositor Cláudio Santoro, além dos maestros David Machado e Roberto Duarte. Já dirigiu como convidado algumas das principais orquestras brasileiras, como a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, dentre outras, além da Orquestra Artave (Portugal), New World Young Orchestra (Brasil, Itália e Bulgária) e a Orquestra Sinfônica de Bourgas (Bulgária). Confira, abaixo, a entrevista com o maestro:
1 – Olá, Helder. Maestro, como começou a sua paixão pelas artes – e em especial para a música – foi uma coisa sua, de estalo, ou teve influência familiar?
Resposta: A paixão pela música começou de forma natural, despertada pela vontade de aprender a tocar um instrumento e, posteriormente, pela audição de obras-primas da música clássica.
2 – Quando que essa sua paixão pela música iniciou? Foi ouvindo algo em especial? Sua “primeira namorada” foi diretamente a música clássica ou outros nichos musicais o atraiam?
Resposta: Essa paixão começou na adolescência e a primeira obra a me atrair foi a Sinfonia n.º 6, de Beethoven – a Sinfonia Pastoral.
3 – Você conseguiu bolsas para estudar música nos Estados Unidos. Conte-nos como foi essa experiência.
Resposta: Nos Estados Unidos participei de um curso com professores trazidos diretamente do renomado Conservatório de Moscou. Convivia com nomes como Lazar Berman, Nicolai Petrov, Oleg Krysa, Igor Bezsrodny – verdadeiras lendas do mundo da música.
4 - Como foi estudar com o Maestro Francesco La Vecchia lá na Itália?
Resposta: Foi uma experiência muito gratificante, pois, além dele, estudei com o búlgaro Ivan Kojuharov e tive a oportunidade de dirigir importantes obras da literatura orquestral com a Orquestra Sinfônica de Bourgas.
5 – Aliás, a música já te levou a várias partes do país e do mundo (EUA, Portugal, Itália...). Como foi conhecer esses vários lugares? Quais são as principais semelhanças e diferenças musicais entre o Brasil e o exterior?
Resposta: A música é a linguagem comum que une as diferentes culturas. Conhecer outros lugares, trocar informações, aprender novas técnicas é sempre enriquecedor. No Brasil, temos muitos talentos, assim como nos demais países. Por isso acredito que, com organização e investimentos, poderemos nos tornar uma referência também no campo da música clássica. É o que já acontece em São Paulo, com a OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
6 – Você já dirigiu como convidado algumas das principais orquestras brasileiras, como a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, dentre outras. Quais são as grandes diferenças destas para a Orquestra Filarmônica do Estado do Espírito Santo?
Resposta: Essas orquestras tradicionais do Brasil sempre foram referências. O que está acontecendo agora é que a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo está crescendo e também se tornando uma referência. A cada ano conquistamos um pouco mais de espaço e de reconhecimento, o que é muito positivo, pois isso é fruto de muito trabalho.
7 – Devemos alguma coisa em relação às grandes orquestras de outros estados?
Resposta: Estamos crescendo e encurtando as distâncias. A nossa meta é a qualidade, a excelência e o nosso referencial no Brasil é a OSESP. Mas queremos uma orquestra presente e atuante na nossa comunidade, no nosso Estado, fazendo parte do cotidiano das pessoas, tanto da Grande Vitória como dos demais municípios. Queremos a orquestra nas escolas, ajudando na construção da cidadania. Por isso devemos trabalhar com afinco para alcançarmos esses objetivos.
8 – Como é que você explicaria, para um leigo, o que é uma orquestra sinfônica e uma filarmônica? Aliás, é possível atrair a grande massa para a música clássica?
Resposta: Sim, é possível. É claro que a música clássica, por sua elaboração e multiplicidade de estilos, dificilmente será tão popular como outros estilos, mas é possível torná-la mais presente na vida das pessoas. Para isso é preciso torná-la acessível, e isso já vem acontecendo no País. Os termos “sinfônica” e “filarmônica” diferenciam basicamente a forma de gestão. Na sua origem, uma orquestra sinfônica é uma orquestra pública e uma orquestra filarmônica é uma orquestra ligada a uma associação ou a um grupo de pessoas, os filarmônicos, ou amigos da música. Mas, hoje em dia, com o surgimento de novas modalidades de gestão, nem sempre essa nomenclatura é seguida à risca.
9 – Maestro, suponho que ouças outros tipos de música além da clássica. O que um Maestro Titular de uma Orquestra Filarmônica Estadual ouve quando está em casa?
Resposta: Como sou bem eclético, ouço um pouco de tudo, principalmente mpb, música internacional, jazz etc.
10 – Quais são as grandes semelhanças e diferenças entre a música que toca nos rádios em nosso dia-a-dia e a música clássica? Elas se encontram em algum momento?
Resposta: Acho que a grande diferença é que a música clássica quase não toca nas rádios abertas. Se tocasse, certamente seria mais difundida e apreciada. Os estilos são diferentes, mas no fundo tudo é música. É claro que há muita coisa mal feita por aí - e de gosto duvidoso. Mas também há muita música boa e criativa.
11 – Inclusive tem sido cada vez mais comum bandas de rock dividirem o palco com orquestras, o que você acha dessa união?
Resposta: Acho esse diálogo é fantástico – inclusive grandes orquestras, como a Filarmônica de Berlim têm feito isso.
12 – O que falta para o brasileiro gostar e ter o hábito de ouvir música clássica?
Resposta: Divulgação e incentivo. Mas falta também, em minha opinião, um pouco de bom senso na elaboração dos programas e na escolha do repertório, principalmente quando você está querendo conquistar um público, trazê-lo de novo ao teatro. A pessoa tem que querer retornar, mas já vi muita gente saindo de concertos pra nunca mais voltar!
13 – Apesar do (infelizmente) desconhecimento de grande parte da população, as apresentações da Orquestra Filarmônica do Estado do Espírito Santo são um grande sucesso de público, como se explica isso?
Resposta: A OFES visita regularmente os municípios do interior, se apresenta nas escolas, com um repertório diferenciado, traz grandes solistas e maestros e interage com a comunidade. Além disso, a programação é elaborada com antecedência e seguida à risca, sem surpresas. Os concertos começam pontualmente e não são longos. Acho que tudo isso ajuda no sucesso das nossas apresentações. Mas é claro que o apoio da imprensa capixaba na divulgação dos eventos tem sido fundamental. Particularmente importante tem sido a parceria com a Rede Gazeta, que divulga os nossos concertos nas TVs, nas rádios e no jornal A Gazeta, contribuindo de forma inequívoca para o nosso sucesso. Importantíssimo também é a abertura de novos espaços de divulgação, como o boletim semanal “Clássicos CBN”, no qual posso apresentar diversos temas da música clássica além de divulgar os concertos da OFES.
14 – O que podemos esperar da OFES para o ano de 2012?
Resposta: Muita música boa, solistas de alto nível, maestros consagrados. Enfim, uma temporada muito agradável para o nosso público.
15 –Maestro Helder Trefzger, quais seus projetos futuros?
Resposta: Meu grande projeto é alavancar o crescimento da OFES, tornando-a uma referência no País, ajudando a divulgar as potencialidades desse Estado maravilhoso, que é o Espírito Santo, do qual tenho tanto orgulho.
Abaixo, a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (OFES) apresenta, sob a regência do maestro Helder Trefzger, uma das mais emblemáticas obras do repertório sinfônico-coral, a "Sinfonia n.º 9", do compositor alemão Ludwig Van Beethoven.
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