quinta-feira, 19 de abril de 2012

ROBERTO CARLOS 71 ANOS: O QUE O REI CANTAVA EM 1971?

Roberto Carlos Braga, ou simplesmente Roberto Carlos, está completando 71 anos nesta quinta-feira. Sempre procurando manter a discrição e com seus sucessos cada vez mais consolidados como clássicos eternos da Música Popular Brasileira. E falando no número 71, o que o Rei estava cantando em 1971, quando lançou mais um disco de sucesso, "Roberto Carlos" (1971)? O álbum é tão importante que na programação da MTVr de hoje, "Roberto Carlos" (1971) será tocado integralmente às 9h e às 18h.

Inicia-se a maior transformação de identidade da história do artista. Roberto Carlos abandona as personas de roqueiro rebelde e baladeiro soul rumo à construção do ícone romântico, inspirado em cantores como Frank Sinatra. Entretanto, a capa, de Carlos Henrique Lacerda, não passou em branco. Ao invés de uma foto, a capa do disco traria um desenho, fato raro na discografia do Rei. A obra gerou algumas lendas. Alguns comparam o desenho com o rosto de Cristo. Por utilizar o preto e dourado sobre o branco, muitos também acreditam que aquilo era uma forma de o Roberto assumir que era o Rei.

A primeira faixa é uma balada singela de ciúme cujo refrão acabou se transformando em uma espécie de bordão no imaginário coletivo, além da flauta tocada por Altamiro Carrilho na introdução: "Detalhes": "Detalhes tão pequenos de nós dois / São coisas muito grandes pra esquecer".

A idealização ingênua e perfeita da companheira está presente na terceira faixa, "A namorada", autoria de Maurício Duboc e Carlos Colla: "A namorada à minha espera / Meu refúgio, meu regresso, minha vida, meu amor / Você, um lembrança, uma esperança / O sonho mais bonito, que viveu pra se acabar". Roberto resvala para o esnobismo na convencida "Você não sabe o que vai perder": "Sei que cedo ou tarde / Alguém vai lhe dizer / Se você me deixar / Não sabe o que vai perder".

O Rei também mantinha instantes de catarse confessional. O exemplo é "Traumas", cuja letra retrata o desafio de encarar a realidade da vida mais cedo ou mais tarde: "Meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse / Mas ele também se esqueceu de me dizer a verdade / Da realidade do mundo que eu ia saber / Dos traumas que a gente só sente depois de crescer". Curiosamente, a faixa seguinte "Eu só tenho um caminho" (Getúlio Cortes) trata do mesmo tema, mas desta vez sem o abatimento da faixa anterior, em ritmo de música gospel: "Eu só tenho um caminho / (E não vou sozinho) / Vou mudar meu rumo /(Assim me acostumo) / Só se vive uma vez / (Ou menos de um mês) / Eu não posso ficar / (Preciso mudar)".

Falando em gospel, Roberto Carlos deu o seu toque de religiosidade e profecia que iria marcar cada disco que faria nos anos seguintes com a divertida e didática "Todos estão surdos": "Não importam os motivos da guerra / A paz ainda é mais importante que eles / Esta frase vive nos cabelos encaracolados / Das cucas maravilhosas / Mas se perdeu no labirinto / Dos pensamentos poluídos pela falta de amor / Muita gente não ouviu porque não quis ouvir / Eles estão surdos!".

O cantor também transformava o amor em humor na faixa "I love you", com direito a mudança de entonação na interpretação: "Uma calça Lee agora vou comprar / Vou ficar moderninho pra chuchu / Vou até aprender falar inglês / Pra lhe dizer: I love you, I love you".

Caetano Veloso teve duas participações no disco de 1971, uma direta e a outra indireta. Diretamente, foi o autor da revoltada "Como dois e dois", um desabafo depressivo: "Tudo vai mal, tudo / Tudo é igual ... Meu amor / Tudo em volta está deserto / Tudo certo / Tudo certo como / Dois e dois são cinco..." . Indiretamente, recebeu a homenagem do amigo em "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", uma vez que o compositor baiano ainda amargava o exílio em Londres causado pela implicância do Regime Militar.

Outras músicas que fazem parte do disco são "Se eu partir" e a antológica "De tanto amor". E na última faixa, umas das preferidas pelo público feminino: "Amada amante", onde Roberto derrama sensualismo: "Esse amor demais antigo / Amor demais amigo / que de tanto amor viveu / Esse amor sem preconceito / Sem saber o que é direito / Faz a suas próprias leis... Amada amante...". Na sequência, um vídeo com a música "De tanto amor".

*Ricardo Salvalaio com base no texto de Leonardo Guedes (SRZD)

Nenhum comentário:

Postar um comentário