Renato Casanova é músico, produtor musical e vocalista e principal compositor do grupo Casaca. Site do grupo Casaca: www.bandacasaca.com. Confira, abaixo, a entrevista com o cantor:
1 – Sabemos que você pertence a uma família de músicos (seu pai foi cantor sertanejo em São Paulo, seus irmãos tinham uma banda...). Então, podemos dizer que a música foi uma “imposição” em sua vida? Sabemos que em uma época você queria ser jogador de futebol...
Resposta: A música sempre esteve ao meu lado, através de meu pai e de minha família. O contato com a musica veio por um acaso, adolescente, no meio de uma banda e ali tinha meninas e festas, enfim, aí veio a paixão pela música, o bem que ela me fazia e me faz, ela me coloca em um mundo paralelo, onde posso observar o mundo em alguns minutos do lado de fora...me dá tranqüilidade de vida. O que me levou a música era saber que ali era um mundo diferente, sem preconceitos e discriminações, mas vou ser um jogador de bola frustrado pelo resto de minha vida...
2 – Depois disso rolou uma banda com seus irmãos a “Última Forma” que você tocava baixo. Conte-nos como foi essa época. Porque que não teve continuidade o projeto? Imaginava - se no futuro sendo vocalista?
Resposta: A banda “Última Forma” foi minha escola de música, ali eu aprendi tudo sobre o que era ser musico de verdade: viajando, carregando caixas nas costas, pulando de um lugar para outro, a maioria das vezes sem ganhar um centavo. Ali, eu aprendi a compor com meu irmão João Fernandes, que sempre foi um guerreiro para todos de minha família, mas chegou uma hora que cada um seguiu seu rumo, hoje todos da banda Última Forma ainda trabalham com musica. Isso é legal. Agora cantar, eu sempre gostei de cantar, mas ser vocal de banda veio com a necessidade de trabalho. Deu certo. Ainda bem.
3 – O Casaca começou como uma banda de forró (chamava-se, a época,Calangocongo) é verdade? Como rolou essa mudança para o congo?
Resposta: O Calangocongo era uma banda bem legal, mas tinha uma diferença musical muito grande ali, a gente não sabia o caminho “cover, som proprio, baile, sei lá”. Nessa época, eu estava muito ligado ao congo, vivendo ali dentro da casa de tia Dorinha (hoje “Congo Jacarenema”) e o congo não era bem quisto nas rádios e televisão, a galera tinha que apostar no som e não foi assim, logo surgiu as confusões e a banda se separou e depois formamos o Casaca.
4 – Aliás, o Casaca mistura elementos do congo com outros do rock, reggae e pop. Como vocês classificam sua música? “Congo/pop” , “rock/congo” ou preferem não ser rotulados?
Resposta: Na minha opinião, não tem uma classificação e sim uma mistura, o diferencial, claro, são os tambores, mas a gente expõe o sentimento, e a música toma o caminho do rock, reggae, forró, adaptados com os tambores. Por exemplo, fora do Brasil, o Casaca é conhecido como uma banda de Jazz. Engraçado isso.
5 – Em 2000/2001, No tambor, na casaca, na guitarra conseguiu o que absolutamente nenhum artista do estado obteve (a exceção do Roberto Carlos, claro) que é vender mais de 50 mil cópias. E o mais impressionante: Quase que toda a maioria para o próprio público daqui. Hoje em dia você já consegue ter uma ideia de como isso aconteceu? Você tem a chave desse sucesso? Ou foi o bom e velho acaso?
Resposta: Haviam vários festivais e isso ajudava muito. Outra coisa, eu acho que vendemos mais para os mineiros, eles consumiram bastante. O Casaca foi uma banda que apareceu no verão e isso ajudou também. A Lona Records (selo capixaba) foi a grande responsável por levar o CDs aonde o publico estava, não só do Casaca mas de outras bandas também. As rádios tocavam bastante musicas do estado e tudo isso contribuiu, o trabalho foi em conjunto e o resultado foi positivo.
6 – Outras bandas como Rastaclone, Manimal e Dead Fish fizeram relativo sucesso aqui no estado, mas nada que se comparasse ao Casaca. Porque você acha que o sucesso do “produto da terra” não foi à frente? O que falta, segundo sua opinião, para que tenhamos novos Casacas?
Resposta: Acho que os projetos deram certos sim, a galera continua tocando, mais fora do estado do que dentro, só não conseguimos atingir a mídia nacional e para muita gente se não aparece na TV, não faz sucesso. Uma banda daqui fazer sucesso é difícil, é muito dinheiro que tem que ser investido. Morar aqui e fazer parte da turma de Sampa e rio é caro, por isso, continuamos devagar, mas com um certo espaço, vivendo de musica, isso é bom. O legal é que tudo que aconteceu aqui ainda é novo pra quem ta de fora e as chances de voltar um movimento ainda existe.
7 – Após o estrondoso sucesso de No tambor, na casaca, na guitarravocês ensaiaram uma carreira de nível nacional (Da, da, da e Anjo Samilechegaram a fazer muito sucesso fora do ES). Como você avalia esse passo? O que nos falta para atingir o público de todo o Brasil?
Resposta: É o fato das pessoas escutarem a música, o trabalho. A gravadora foi importante nesse passo, levou a música para o Brasil, fazendo as pessoas ouvirem e isso proporcionou um reconhecimento nacional. Hoje, no meu ponto de vista, falta estratégia ou um modo de lidar com as redes sociais, já que elas são o meio mais rápido de divulgação. Trabalho bom no ES tem bastante, agora temos que descobrir como levar para o país e até para fora dele.
8 – O disco No tambor, na casaca, na guitarra teve uma vendagem impar, mas nós percebemos que houve uma queda de venda de um disco para o outro. Você atribui isso a algum fato ou as novas mídias (downloads, por exemplo) trazem isso como uma tendência mundial?
Resposta: No meu ponto de vista, o primeiro cd a gente tinha mais controle, a gente vendia nos shows e o cd ia onde as pessoas tinham a curiosidade, isso ajudava. O fato do download não ser tão escancarado, fazia com que as pessoas corressem atrás, não só do casaca, mais de todas as banda do ES. O 2º cd já era pela gravadora, era uma parada bem profissional, mas que a gente não tinha mais o controle, ele saiu da Sony com 25 mil e depois a gente não sabia mais nada e ai veio a turbulência do mp3 que acabou com o mercado fonográfico. A gente viajou o Brasil todo sem CDs e as pessoas não sabiam onde encontrar, isso era o que muita gente me falava.
9 – Da, da, da despertou o robô da NASA em 2004 (e ficou conhecida mundialmente). Como foi pra vocês quando souberam da notícia?
Resposta: A gente não espera e também não sabia o tamanho que era aquilo. Quando veio a repercussão da noticia, a gente já estava ali, meio sem saber o que falar, pois era o mundo perguntando e querendo saber como uma musica de uma banda pouco conhecida chegou tão longe. Ai vieram os convites internacionais, já não era mais uma banda desconhecida e a gente colheu bons frutos desse episódio tão prazeroso.
10 – Com mais de 12 anos de carreira o Casaca continua vivíssimo na memória dos capixabas (vide os shows sempre com grande público). Todo mundo canta Sereia como se a música tivesse sido lançada na semana passada. Porque você acha que isso acontece? Podemos entender que o Casaca marcou a história da música do estado?
Resposta: O Casaca fez parte de um movimento capixaba forte na música. Pra mim, as pessoas que acompanhavam os festivais e shows acabavam se identificando muito com o casaca, isso fortalecia. O ritmo era estranho, mas era dançante, devido aos tambores, primeiro as pessoas dançavam e depois descobriam as letras, que acabavam fazendo parte de algum momento de sua vida e os pais passam isso para os filhos. O nosso publico de hoje são as crianças de quando começamos a 12 anos atrás. A energia gostosa do show também atrai muitas pessoas até hoje.
Alexandre Lima e Renato Casanova formam um novo projeto.
11 – Falando em shows lotados... Você e o Alexandre Lima bolaram uma (bela) dupla para fazerem alguns shows no inicio deste ano. Conte-nos mais sobre essa parceria. Como surgiu a ideia? Já rolou até música inédita, não é?
Resposta: Bom, com a entrada do Alexandre Lima no Casaca, a gente passou a conviver mais e através disso eu comecei a gravar algumas composições no estúdio dele. Então, ele foi fazer uma apresentação no Deep Pub em Linhares, que é uma casa de shows de um amigo, o Lindomar, daí eu aproveitei que não estava fazendo nada e fui junto, acabei fazendo parte de seu show e ai vieram os convites para apresentação dos dois juntos. Fomos tocar em Governador Valadares e precisamos de uma música que não fosse do Casaca e nem do Mahnimal, então, decidimos compor algo novo para divulgar esse encontro, e parece que está dando certo. De Janeiro até agora, já fizemos uns 30 shows. O projeto está caminhando bem, isso é bom.
12 – Quando soubemos da parceria com o Alexandre criou-se uma expectativa que você poderia deixar o Casaca, o que não é fato, certo? Aliás, porque tantos integrantes da formação inicial deixaram a banda?
Resposta: Não pretendo deixar o Casaca nunca, ele é minha vida, é minha historia. O Casaca continua com uma estrutura grande e menos shows, em vista disso, eu que adoro fazer um som junto com Alexandre, criamos um novo projeto, mas continuo no vocal, viajando e fazendo shows com o Casaca. Com os integrantes da 1ª formação, meio que rolou uma saturação de convivência e isso trouxe uma divergência musical, fazíamos de 3 a 4 shows por semana, ai vinham as viagens, o cansaço, etc. Existiam os talentos individuais, a falta de maturidade e uma falta de psicologia amigável. Devido a esses fatores, cada um resolveu a vida do jeito que coube melhor.
13 – Com gente nova, gente velha, o Casaca foi, é e sempre será um grande sucesso. O que podemos esperar de novidade de vocês?
Resposta: A gente procura sempre está misturando vários tipos de músicas ou ritmos com o nosso estilo, uma coisa que temos certeza é que os tambores jamais saírão da banda. Com a entrada de novos integrantes, a gente sempre tenta trazer suas preferências musicais e assim dar cara nova ao nosso trabalho, que hoje é feito mais em grupo. Faz parte do nosso projeto desse ano o DVD e um trabalho gravado na Europa. Se tudo der certo, vem coisa boa por ai.
14 – Rola algum projeto solo seu? Tem algo em vista? A parceria com o Alexandre Lima continuará? Quais são os planos do Renato Casanova para 2012?
Resposta: Eu tenho algumas músicas bem praia, bem luau mesmo, mas estão guardadas, para um futuro, quem sabe. A parceria com Alexandre sempre vai haver porque é um modo da gente fazer uma coisa menor para suprir nossa vontade de estar fazendo músicas e perto do público. Meus planos para 2012: fazer muita música, muitos shows e poder ser feliz ao lado de minha família. É isso.
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