segunda-feira, 18 de junho de 2012

PAUL MCCARTNEY 70 ANOS: "A LONGA E BEM-SUCEDIDA ESTRADA"

Em “When i’m sixty-four”, do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967), dos Beatles, Paul McCartney se indagava se ainda precisaríamos dele quando ele tivesse sessenta e quatro anos. A pergunta era uma ironia - haja vista que a expectativa de vida inglesa na época era de sessenta e três anos -feita pelo músico mais bem sucedido da história da música pop. Nesse mês, Sir Paul McCartney completa setenta anos com muito êxito e a gente ainda precisa dele. Passando pelos Beatles (anos sessenta), Wings (anos setenta) e sua carreira solo desde os anos oitenta, o êxito sempre foi um fator marcante na vida do cantor, compositor, multi-instrumentista (baixista, pianista, guitarrista, violinista, percussionista, baterista), produtor cinematográfico e musical, escritor, poeta e pintor.



Yesterday

Paul McCartney formou com John Lennon a melhor dupla de compositores do século XX. A dupla dinâmica compôs verdadeiras pérolas do cancioneiro mundial, mas enquanto John compunha sobre si mesmo (após conhecer o trabalho de Bob Dylan), Paul se divertia em escrever na terceira pessoa, sempre descrevendo cenas e personagens urbanos com pitadas de surrealismo bem-humorado. “Eleanor Rigby”, “Penny Lane” e “She’s leaving home” são bons exemplos dessa sua verve. “Paul é um joalheiro e um malabarista quando se trata das palavras. Suas letras são cheias de surpresas. Algumas vezes são leves como plumas, mas, às vezes, escreve versos tão pesados quanto um ônibus de dois andares ou o próprio coração”, afirma Adrian Mitchell, organizador do livro de poemas de McCartney, “O canto do Pássaro-preto – Poemas e Letras 1965 – 1999”.

“Macca” compôs “Yesterday”, a balada mais gravada da história da música, tendo sido cantada por Ray Charles, Frank Sinatra, Elvis Presley. “Yesterday” possibilitou a Paul ser ouvido por as mais variadas pessoas ao redor do mundo. A partir dela, o compositor começou a flertar com os instrumentos clássicos. Assim, “Here, there and everywhere” e “For no one”, por exemplo, transformam McCartney em um Bach moderno, ao compor pequenas sinfonias ao invés de simples canções de amor. Ademais, as mais belas baladas dos Beatles são dele: “Hey Jude”, “Let it be”, “Michelle”, “The long and winding road”, “All my loving”. Por essa característica, os críticos alegavam que o cantor só realizava baladas, ao que ele respondeu com “Helter Skelter”, que é considerada uma das primeiras músicas de heavy metal da história. Seu próprio parceiro John dizia que ele só produzia “canções bobas de amor”, Paul respondeu da melhor forma, com música, compôs “Silly Love songs” (1976): “Você deve pensar que as pessoas já têm canções bobas de amor suficientes, mas eu olho a minha volta e vejo que não é assim. Algumas pessoas querem encher o mundo de canções bobas de amor. O que há de errado nisso?”. Também é mito dizer que o ex-beatle é alienado, já que “Blackbird” é uma metáfora sobre os conflitos raciais e direitos civis nos EUA, principalmente da situação das mulheres negras.

Destarte, o baixista nunca foi um compositor redundante, pelo contrário, foi ele que, baseado em John Cage e Stockhausen, inseriu os loops e efeitos esquisitos em “Tomorrow never knows”, pôs metais em “Got to get you into my life”, além de criar os conceitos dos álbuns “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “Magical Mystery Tour”. O cantor também compôs música eletrônica, trilhas de filmes e música erudita, e é insuperável o seu talento para escrever melodias que vão direto ao coração e lá se agarram, pois qual compositor, hoje, pode fazer um show e cantar quarenta sucessos de sua autoria em três horas e ainda assim deixar de fora quarenta hits? Com trinta e duas músicas que chegaram ao topo da Billboard, não deve ser tarefa fácil escolher quarenta músicas dentre um conjunto de obras que marcaram época nos últimos cinquenta anos. Em 1979, o Livro dos Recordes declarou-o como o compositor musical de maior sucesso da história da música pop mundial de todos os tempos.



Wings

Após o fim dos Beatles, Paul criou, com sua esposa Linda e com Denny Laine, um novo conjunto chamado “Wings”. O grupo foi uma auto-terapia para o músico e revelou algumas das características mais marcantes de McCartney: o ótimo cantor, o multi-instrumentista e o hitmaker. O grupo durou de 1971 a 1979, teve muito sucesso e até ganhou Grammys. Assim, Paul continuou em evidência na década de 1970. Satisfez a ambição de voltar a grandes turnês e realizando shows de surpresa em universidades. Não demorou muito, o Wings se tornou um grupo de rock com tudo a que tinha direito, no estilo dos anos setenta, fazendo enormes turnês pelos estádios americanos, vendendo milhões de discos e garantindo que uma nova geração de fãs viesse a identificar Paul não como ex-beatle, mas como ex-wings. Dentre as canções de destaque desta época, podemos elencar “Another Day”, “Every night”, “Maybe i’m amazed”, “My Love”, “Live and let die”, “Let ‘em in”, “Mull of Kintyre”, “Band on the run”, “Jet”, “Let me roll it”, “Goodnight tonight”, “Listen to what the man said”.

Já na década de 1980, após a morte do amigo John Lennon, Paul McCartney fica por nove anos sem realizar shows e, como todos da década, sua carreira segue um caminho mais pop, com suas canções abusando do uso de sintetizadores. Nessa época, volta a trabalhar com George Martin, produtor dos Beatles, e realiza parcerias com grandes nomes da música internacional, tais como Stevie Wonder (“Ebony and ivory”), Michael Jackson (“Say, say, say”) e Elvis Costello (“My brave face”). Dos anos noventa para cá, o compositor continua prolífico, sempre lançando algo novo e nunca vivendo apenas do passado.

Símbolo libertário

Paul McCartney é abençoado com umas das mais sublimes e calorosas vozes cantantes de nosso tempo. Compositor que embalou muitos romances pelo mundo, ele é o símbolo libertário de toda uma geração, convertido em pacato e conservador pai de família, e homem de negócios. Sem ele, é muito provável que o planeta seria muito mais chato. Na composição química dos Beatles, Paul foi sucessivamente fator de sedução e glamour, agente regulador da fórmula, elemento condutor de energia e foi muito estratégico. O homem é enorme. Inevitável. No mundo inteiro, para várias gerações, sua musicalidade tem o toque divino e fez mais feliz a vida de muita gente ao mostrar à humanidade o caminho do amor.

(Ricardo Salvalaio – Publicado no dia 16/06/2012 no Caderno Pensar, de A Gazeta)

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