sábado, 30 de junho de 2012

LICENÇA CRÔNICA: SONIA RITA SANCIO LÓRA


Sonia Rita Sancio Lóra (Sunny Lóra) ama as letras; tanto as que ela mesma rabisca e todas as outras de tantos escritores, todos os dias de sua vida. Teresense apaixonada por sua terra, Sonia mora em Vitória, tem dois filhos e uma neta. Sempre que pode corre para Santa Teresa, para abraçar sua mãe e os irmãos Nega, Tica, Toni e Paulo, muito unidos e amados. Faz parte da AFESL – Academia Feminina Espírito Santense de Letras, através da cadeira número 40, do Conselho Municipal de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico do ES. Colabora para a Seção “Pra Viver, Poesia”, do Diário Oficial do ES, desde 2005 e tem apresentado várias crônicas no Caderno “Pensar” de A Gazeta. Seus livros são “Portais da Alma” – 2005; “Lua Perfeita” – 2008; “Delicatta”, 2008 e “Contos de Saudade”, 2010, este em parceria com sua irmã Nega, a Maria Cecilia. Tem participação em oito Antologias. Seu site é www.sonialora.art.br e seu blog é www.amordepoeira.com. Abaixo, a crônica “Paixão, o amor que aprisiona”:

PAIXÃO, O AMOR QUE APRISIONA

... E não pense em falar mentiras, porque elas são sentidas. (Sonia Sancio Lóra)

Quando li “Paixão de Cárcere” um livro belíssimo e intenso de Lacy Ribeiro, fiz algumas anotações que coincidiam com minha própria experiência. Guardei estas anotações por muito tempo e somente agora posso publicar uma mínima parte delas.

Eu sempre fui desatenta, carente, obediente e resignada. Muitas vezes cheguei à absurda condição de humilde e achava que era o máximo ser taxada de “boazinha”. Ficava feliz e alimentava meu coração que era tão grande que não cabia dentro do meu pequeno corpo, como meu pai me disse um dia. Aceitava tudo que me acontecia com resignação e paciência e dificilmente alguém teve a oportunidade de me ver responder uma provocação e nas poucas vezes que reagi, não obtive bons resultados.

Minha vida transcorria sem maiores novidades e trabalhar muito era o meu ápice de satisfação. Na vida pessoal não havia mais espaço para sorrisos e os momentos de alegria foram se tornando escassos, até que eu fui totalmente excluída, sem chance de volta, mesmo que eu me esforçasse para um convívio que fosse, pelo menos, socialmente aceitável.

Nos encontros com os amigos em comum eu ficava sempre num cantinho e raramente falava alguma coisa no grupo, pois era inevitável que fosse repreendida publicamente. Envergonhada, voltava para casa sempre antes de todos e eu considerava um céu estar sozinha com os meus animais, livros, música e sentir que podia respirar. Quando finalmente acabou, guardei comigo algumas lembranças, algumas boas e outras nem tanto. Alguns anos voaram e eu pude sentir o meu eu, resgatei valores, escrevia muito e descobri uma pessoa em mim que não conhecia, mais vibrante e bela.

E então o amor voltou e desta vez, para me virar de cabeça para baixo. Um sorriso lindo passou a fazer parte dos meus dias. Não havia um segundo de minha nova vida que não fosse para ele e por ele. Sua presença não era uma constante, mas as mensagens que trocávamos serviam-me de alimentação para o próximo encontro, quando eu lhe levava presentes de todos os tipos. Ele me lançou num mundo desconhecido, profundo, intenso. Se demonstrasse um mínimo sinal de querer algo, eu me colocava à frente e fazia-lhe surpresas no meio da tarde. Com o tempo, ele foi mudando fisicamente mais e mais e tudo nele era mais bonito. E como era... Eu deixava de comprar um mínimo para mim para que não deixasse de presentear o meu amor bonito.

Eu não era capaz de ver um centímetro sequer à frente de mim que não fosse ele. Estava acorrentada e dificilmente sairia de suas garras. Mas não foi assim para sempre. Uma pessoa deixa de amar a outra. Ou nunca amou. Ou simplesmente percebe que a fila anda e esta pessoa se acha no incrível poder de colocar quem quiser para fazer parte dela.

Descobri que aquele meu amor enorme era mentiroso, cheio de vaidade e frieza, competidor e não admitia derrotas e, o mais importante, não queria partilhar. Assim, descobri, para minha insanidade temporária, que ele nunca foi meu, mesmo nos raros momentos que eu pensava que fosse. Depois do rompimento, recheado de mentiras, passei a me aprofundar na saudade. Eu pensava nele 25 horas por dia. Era uma tortura contínua de reler mensagens de texto, ouvir seus recados, recordar beijos, abraços. Pegava no telefone trezentas vezes por dia e chorava, porque sabia que eu não fazia mais parte de sua vida. Chorava nos momentos mais loucos; qualquer coisa era motivo para lavar o rosto inteiro com lágrimas abundantes.

Não comia absolutamente nada e para me manter viva eu tomava sucos de frutas em caixinhas ou comia uma caixa inteira de bombons. Eu não conseguia escapar dele nem quando o sono me vencia. Não posso mensurar quanto tempo este sofrimento durou. Era inaceitável perder quem eu amava tanto.

Mas como perder algo ou alguém que nunca foi seu?

O amor verdadeiro coloca-nos para cima, nos torna pessoas melhores. A cada minuto que passa, conquisto a vida que não tive. Se chegar, verdadeiramente, que seja leve, bom, suave e que eu possa dizer que sou feliz, porque eu me amo, eu sou a pessoa mais importante para mim e capaz de ser amada, sou sim!

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