Sociedade dos nomes próprios
São
tantos os nomes ou sobrenomes engraçados e curiosos que pais e mães dão
aos seus filhos. Eles só se esquecem de uma coisa: O que seus filhos
vão pensar e achar disso. A maioria tira de letra, mas alguns sofrem
muito com isso, e, para tanto que existe a F.O.D.A. Mas calma isso não é
um palavrão! É simplesmente a sigla de Fundação de Opositores De Alcunhas Adquiridas,
com sede na capital paulista há mais de dez anos. Ela que é
administrada por um rapaz chamado Antônio serve para ajudar quem tem
dificuldade de lidar com seu nome e/ou sobrenome. Uma dessas pessoas era
Oscar. Ele simplesmente tinha ojeriza de seu nome todo. Como sua
família era de origem espanhola seu sobrenome era Haio Roucho. Imagina
quando liam em voz alta o nome completo dele “Oscar Haio Roucho”! Ele
foi, e é altamente complexado por causa disso. Morria de vergonha na
escola. No serviço militar foi motivo de horas de riso do cabo que o
atendeu. Nunca namorou preocupado com o nome, até finalmente achar sua
esposa, Irene, que por sinal foi quem lhe indicou para o F.O.D.A sem ele
saber. Quando namorou com Irene mudou o sobrenome para Silva só para
não assusta-la. No dia do casamento quando o padre disse seu nome todo
teve que agüentar risinhos comedidos dos convidados. No trabalho,
conseguiu esconder dos colegas por muito tempo seu nome completo, até
seu documento cair na mão de um dos amigos mais gozadores da turma,
resultado: Ele é sacaneado a cada quinze minutos. Tudo isso foi
combustível para Irene mandar a carta para a fundação. Em um belo dia
Oscar recebeu um bilhete, com letras e números recortados de revistas
dizendo: Você é o número 70. Oscar não entendeu nada e achou que era algum trote. Depois recebeu outra carta desta vez com os dizeres: Sabemos
de seu problema quanto ao seu nome. Ligue para este número e receba
maiores instruções. Apenas diga que você é o número 70. Não conte isso a
ninguém.
Curioso Oscar ligou:
_ Fundação bom dia!
_ É... Bem, sou o número 70.
_
Ah sim, senhor Oscar, seja muito bem vindo a nossa fundação. Precisamos
que o senhor anote um endereço. E imprescindível que o senhor venha
hoje aqui.
Ele correu e anotou tudo. Decidiu ir até o endereço, lá encontrou uma padaria chamada Padaria Leva um Cacetinho e
definitivamente achou que era um trote de mau gosto. Mas, antes que
fosse embora viu um homem de origem árabe se aproximar e dizer ao pé de
seu ouvido:
_ Número 70, estávamos lhe esperando, venha comigo.
Oscar
foi. Chegando aos fundos da padaria ele subiu uma pequena escada e
chegou à sede. Leu na porta de vidro F.O.D.A. Perguntou?
_ Foda? Que porra é essa?
Ele
mesmo riu do trocadilho que acabou fazendo sem querer. O homem que lhe
acompanhava pareceu não gostar muito do comentário de Oscar. Eles
chegaram e foram ao encontro de Antônio, líder da fundação:
_ Aqui está ele senhor Antônio. Ele tem um péssimo senso de humor!
_Obrigado Voulin, pode deixar que agora eu falo com ele.
Oscar viu ao longe várias pessoas no que parecia ser uma sessão de auto-análise. Porém o dialogo entre os dois começou à parte:
_ Bem Oscar sabe por que está aqui?
_
Pra falar a verdade não. Sei que sou o número 70, seja lá o que for
isso. Está tudo muito estranho a começar por essa padaria levar um
cacetinho. Não tinha nada mais sexual não?
E riu. Antônio continuava sério.
_
Realmente seu senso de humor não é dos melhores. Voulin tinha razão.
Olha, quanto à padaria, já tentamos falar com o número 30, ou melhor,
com o Manuel, para mudá-la várias vezes, mas como cacetinho é o nome do
pão que é sua especialidade, e esse era o slogan dele...
_ Número 30?
_ É. É o senhor Manuel Boa Morte. Acredita que ele está aqui mais por causa do Manuel do que pelo Boa Morte? Ele sempre achou que esse estigma de português, bigodudo, chamado Manuel era o fim. Agora que ele está se adaptando.
_ Ah ta. E esse foda aí da porta?
_ Bem. Foi criação de meu pai. Fundação dos Opositores De Alcunhas Adquiridas.
Quando ele bolou o nome da fundação ele nem imaginava essa sigla. Mas,
como ele faleceu e essa foi sua vontade, eu a manterei.
_ Ahã, ta bom. E... Que papo é esse de número 70?
_
Bem na verdade o senhor seria o número 69, mas como achamos esse número
muito sugestivo decidimos muda-lo para 70. Também não temos o número 11
por ser um atrás do outro e o 24 por motivos óbvios.
_ Hum... Sei. Entendi. É um lugar pra quem tem o nome esquisito como eu.
_ Exato.
_ Mas igual ao meu não tem.
_ Aé? Ta vendo aquela loira linda ali sentada a sua direita?
_ Sim.
_
Ela é da sessão de nomes estrangeiros. Ela é italiana chama-se Cecília
Bucceta. Igual ao nome daquele mafioso lembra? Também pronunciamos Brusqueta aqui para ela não ficar sem graça.
E aquele outro ali é de família espanhola como você, ele se chama
Álvaro Porra. Que sobrenome né? E o Voulin? O sobrenome dele é Rabáh.
Leia o nome dele rápido pra você ver. Ta vendo o japonês lá na ponta?
Ele se chama Tacofuro Naraxa. Imagina como ele foi constrangido na
escola por causa desse nome?
Oscar
não agüenta e cai na gargalhada. Antônio fica sério. Depois de alguns
instantes o rapaz pede desculpas. Antônio as aceita parcialmente. Oscar
continua:
_ E você? Antônio. Nome bonito.
_
É. Sem dúvida. Mas meu sobrenome... Eu estou na sessão cacofonia. Meu
sobrenome é Botelho Pinto. Assim como de meu pai. Agora sabe por que ele
criou a fundação!?! Mas... Tem mais. Ta vendo aquele rapaz careca ali
na janela. Ele é o Armando Pinto. Hoje faltaram, mais tem o Caio Pinto, o
Felipe Pinto Soutto, o Adolfo Dias, e o campeão, coitado, o Serafim do
Pinto. Oscar pragueja:
_ Jesus Cristo.
_ Tem também.
_ O que?
_
Jesus Cristo. É aquele ali de jaqueta jeans, ele faz parte da sessão
nomes por homenagem. Tem também o Elvis Presley e o Pelé, isso mesmo,
Pelé da Silva Oliveira.
_ Caracas.
_ Hum. Precisa ver o número 8 chama-se Barriga. Seus pais deviam estar muito drogados no dia que o batizaram. Tem o Usnavy também.
_ Que diacho de nome é esse?
_ Não lhe é familiar? U.S.Navy. Seu pai era muito fã da marinha americana. Tem a Tesuda também.
_ E ela é gostosa mesmo?
_
Não. Sim. Quer dizer, não sei. É nome, não apelido. Seus pais quiseram
homenagear as tias em seu nome e como elas eram Teresa, Sueli e Damiana
já viu no que deu né?
_ Nossa já me sinto bem melhor sabendo que não sou o único com o nome esquisito no país.
_ Que bom. Essa é a idéia do F.O.D.A.Vai se filiar?
_ To dentro.
_
Lembre-se nossa fundação é secreta. Se isso cair nas mãos de algum
jornalista, ou principalmente de algum comediante estamos ferrados!
_ Pode deixar serei sigiloso. Hein, como vocês me acharam?
_ Sua esposa, Irene.
_ Ah.
_ Ela é a número 2.
_ O QUE???
_ Nunca a perguntou por que ela não voltou mais a cidade onde nasceu?
_ Não. Por quê?
_ Bem, ela não vem mais as sessões. Faz uns cinco anos mais ou menos.
_ Cinco anos? É o período que eu a conheço.
_
Pois é. Você foi o primeiro namorado dela também. Ela só namorou
alguém, que por acaso foi você, depois que conseguiu tirar o sobrenome
da identidade. Ela era super humilhada na cidade onde nasceu por causa
do sobrenome.
_ E qual era esse sobrenome afinal?
_ Lembre-se do sigilo.
_ Claro. Qual era?
_ Xereca.
Oscar ri copiosamente e uns dez minutos depois diz, ainda rindo:
_ Não vou participar da fundação!
_ Por quê?
_
Porque vou quebrar o voto de sigilo. Desculpe. Mas... Dá licença que
agora vou correr pra casa e zoar muuuuuito a minha mulher!!!
Tempos depois nasceu o filho deles – OSCAR HAIO COM XERECA JÚNIOR.
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