AS VISITAS A CASA TORNAM
A garagem mal tinha começado a se fechar, que dois homens adentram por ela, tinham, cada um deles, a arma em punho como era comum nestes casos inoportunos. Bartolomeu, o dono da residência, olhou-os como se os conhecesse por longa data e sorrindo comentou:
– O que é isso? Meu chapa... Já somos da família – e, revirando-se para a mulher, ordena:
– Vá passar um café para as visitas, Zenaide... e não se esqueça de preparar algo para os rapazes, os pobres coitados devem estar famintos!
Os bandidos se entreolham como se aquilo fosse uma pegadinha ou um desses quadros de humor barato que passam no domingo, mas como era meio de semana acharam pouco provável. Apesar de acreditarem no seu Bartolomeu, continuaram a apontar seus revólveres para a família, afinal de contas a aparência é a alma do negócio.
Como manda o figurino do bom acolhimento doméstico, seu Bartolomeu convida-os para entrar e sentar. Ele, como já estava em idade avançada, já tinha se assentado. Fala com suas visitas sobre a pobre vida de um aposentado, filas, remédios, doenças... Quando se lembra do café e grita para a mulher que estava na cozinha:
– Zenaide, cadê o café dos rapazes? Ela prontamente responde da cozinha:
– Calma, amor, já estou acabando de fritar os bolinhos de chuva...
Após alguns minutos, a pobre Zenaide aparece esbaforida com a tigela cheia de bolinhos e uma garrafa térmica cheia de um escaldante café. Os meliantes, ao se depararem com o pequeno banquete, colocam suas armas na mesa e começam a comer como glutões. Após ficarem roliços com o lanche, dão um uníssono arroto, batem na mesa, e o que parecia ser o chefe da dupla acrescenta:
– O café está bom, assim como a conversa, mas a gente temos um serviço a cumprir...
Seu Bartolomeu, sereno e calmo, retrucou:
– Claro, rapazes, conhecemos o protocolo!
Revirando os bolsos, retira um papel minuciosamente dobrado e o abre:
– Para facilitar o trabalho de vocês, mandei confeccionar uma planta da casa com o detalhamento minucioso dos pertences com o intuito de facilitar o trabalho de vocês e o nosso, pois da última vez a casa ficou toda revirada!
Os dois assaltantes se entreolham, dão de ombros e seguem pelos cômodos e carregam os pertences com a ajuda de seu Bartolomeu e seus dois filhos. Carregam todos os eletrônicos para o carro da família, colocando-os de forma ordenada, não poderiam perder espaço.
– Vamos ter que levar o senhor, seu Bartolomeu! Acrescentam os assaltantes, após despelarem a casa de seus pertences.
– Que nada... Temos um quarto gradeado, sem telefone e a prova de som, a única forma de comunicação exterior é por essa janela fechada que só abre após duas horas devido a este dispositivo eletrônico que é ligado pelo lado de fora. O quarto foi construído especialmente para essas ocasiões, os senhores podem ir sossegados que não causaremos nenhum transtorno.
Os salteadores, após verificarem a veracidade da fala do seu Bartolomeu, abraçam-no e dizem que foi um prazer passar aquelas horas com ele. Seu Bartolomeu, por costume, ou por educação, diz que o prazer é todo dele e ensina-os como abrir o portão com o controle (da última vez, eles tinham arrancado o portão com o carro, dando um belo de um prejuízo), liga o dispositivo eletrônico para abrir a janela e, antes de se trancar em sua cela particular, recomenda:
– Voltem sempre! Não se esqueçam de fechar o portão, vai que alguém entra?!
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