Paulo Roberto Sodré nasceu em Vitória-ES em 1962, onde fez todos os seus estudos, formando-se em Letras-Inglês pela UFES em 1986. Possui mestrado em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor de Literatura Portuguesa na UFES. Entre suas principais obras, podemos citar: “Interiores” (1984) “Ominho” (1986), “Lhecídio” (1989), “Dos olhos, das mãos, dos dentes” (1992). Confira, abaixo, o poema "Sete pontos":
Sete pontos
(a um pedido de poema de Jean)
1.
Pontilham-se
as frases
de Jean.
Pontos de giz;
pontas de luz,
vaga-lumes.
Pontuam-se
as leituras
por Jean.
Pontas de lis;
pontos de nus
pirilampos.
2.
Em cada ponto
um grão de enigma
preenche a frase:
multidão de sombras
vagas, ternas, dóceis.
Um mundo no ponto:
cavanhaque, sorriso,
relógios, estradas,
castanhos óculos
nos pontos cardeais.
Não o decifro.
Devora-me, então?
3.
Ponto de frase,
ponto final
de São Paulo à Ilha,
estrada virtual.
Canta Milton
os pontos tantos
de areia, de nuvem,
de poeira, de lúmen.
Frases de pontos
johann, ivan, joão, jean,
nome de graça
e reticências.
4.
Tantos sentidos
têm o ponto, sim:
termo, fim, parada,
erro, quinau, falta,
adição, aumento,
ato, feito, passo,
grau, estado, lance,
assunto, tema,
mira, alvo, interesse,
lugar, sítio, local,
altura, marcha,
questão, dúvida,
indivíduo, sujeito.
O dicionário
se cala, sem mais.
Os sentidos
tantos dos pontos:
estrela, amora, pólen?
Ou sorriso de Jean?
5.
Brinco de esperar
em cada ponto
um grão, um broto
de aceno suave.
Em cada um...
a folha, a flor,
um fruto afeito
ao céu da boca.
Cada ponto
anoitece a frase
e se deixa
ao sereno.
Amanhã?
6.
Quem conta
um ponto
remata um canto
para quem lê.
Tanto de lembrança:
o pontilhado
do que se vê
e do que se apronta,
do que se adivinha
e do que encanta
inad(i)vertidamente.
7.
Aponte
o ponto, a ponte
entre o que escreve
e o que, pronto,
leio.
Apronte
a ponta
a indicar
o rio, a eira, o leito
onde me deite,
onde me solte
sobre o que pontua
sua frase
de pontos
castanhos.
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