Ainda em comemoração ao aniversário de um ano do Outros 300 teremos um sábado especial no "Licença Cultural" destinado a três produções de Sandro Bahiense, um dos blogueiros do Outros 300. Confiram, nas próximas postagens, uma crônica, um conto e uma poesia.
Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas.
A CURA DA MORTE
Ontem assistindo os programas noturnos de notícias (cada vez menos "Fantásticos ou Espetaculares") me
deparei com reportagens envolvendo um caso de uma jovem que brigava
judicialmente para poder congelar o pai dela, num processo criado nos
Estados Unidos (sempre eles né?) onde humanos, após mortos, são
congelados em temperatura ultra baixa esperando pela "cura da morte".
Isso mesmo, eles acreditam, segundo a empresa que mantem várias
cadáveres congelados que, em cerca de 50 anos os homens terão descoberto
uma forma de não morrer, ou morrer e viver de novo, enfim, um desparate
que eles acreditam que irá acontecer daqui a meio século de estudos
mais ou menos.
Imaginem
a cena: Supondo que a "cura da morte" ocorra como será seu processo?
Será barato (provavelmente não)? Como será que as pessoas "recém-vivas"
lhes darão com a perda de vários e vários parentes e amigos queridos? E a
religião? Alguma dúvida que será terminantemente contra? Imaginem a
cena: Não consigo pensar em outra coisa senão o caos!
O
medo da morte é um mal que aflige a sociedade desde sempre. Querer
driblá-la é algo que ocorre a muito tempo, sempre, claro, sem sucesso e,
a rigor, é o que mantem nossa sociedade como está. Imaginem um mundo
sem morte. Limites serão desprezados e a negligência com a vida humana
será ainda maior. As religiões perderão sentido e, se partirmos do
pressuposto que, por fim, elas que regulam as leis, viveremos numa terra
de ninguém. Haverá a situação inusitada de termos alguns humanos que,
por convicções, preferirão "continuar mortos". E anos e anos de estudos
científicos, filosóficos e religiosos cairão por terra, quando
finalmente descobrirmos o que há post-mortem.
Sempre
tive muito mais medo das coisas da ciência do que de qualquer coisa que
envolva religião e, admito, tenho tido ainda mais medo nos últimos
tempos. Tem gente que diz que temos medo daquilo que não conhecemos, eu
tenho medo exatamente do contrário, tenho medo daquilo que exatamente eu
conheço, que é a hipocrisia, a ganância e a arrogância humana.
Por favor só não me tirem o direito de poder morrer em paz, e sem volta.
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