domingo, 17 de junho de 2012

ENTREVISTA COM O ESCRITOR FABRÍCIO COSTA


Fabrício Costa, capixaba, natural de Ecoporanga, estuda Geografia na UFES e é poeta por vocação. Escreve desde menino, mas foi em 2010, aos 22 anos de idade, que publicou seu primeiro livro “O Riso que Contrasta”. Nesta obra, o autor nos presenteou com uma coletânea de poemas escritos desde os 12 anos de idade. Atualmente, Fabrício trabalha em um novo projeto que deverá ser publicado em 2013. Confira, abaixo, a entrevista com o autor:

1 – Olá, Fabrício. Primeiramente, queremos saber quando e como se deu seu interesse pela literatura e pela poesia?

Resposta: Eu acredito que a poesia seja o mais subjetivo dos gêneros literários, por isso considero impossível estabelecer uma data para esse “despertar poético”, mas, em algum momento, aconteceu. As coisas sempre acontecem, por mais subjetivas que sejam... Minhas memórias da infância não me enganam, eu não sabia o que era poesia, mas já tinha a sensibilidade e a percepção de um poeta.

A solidão me apresentou à poesia. Eu vivi parte da minha infância no sítio dos meus avós e encontrei na natureza a razão para viver sem tédio. Eu conversava com as plantas e flores e achava normal, ainda acho, apesar de ter sido chamado muitas vezes de louco por isso. Mal sabem as pessoas o quanto é bom ser louco e como as plantas são boas companheiras. Elas contribuíram para que eu descobrisse a poesia.

Na adolescência, não vivia mais no sítio, e essa fase - cruel que é - me ensinou a transformar sentimentos em palavras, me ensinou a grafá-las. Drummond, em seu poema “Procura da Poesia”, fala sobre “colher” o poema, antes que ele caia ao chão e se perca, foi nessa fase que aprendi a colhê-los.

As paixões, as revoltas, o senso crítico sempre aguçado, as opiniões tempestivas, as leituras incomuns... Eu me desviava do senso comum e isso me transformou em um adolescente mais interessado pela poesia e pelos livros do que por outros adolescentes.

Minha poesia amadureceu muito desde esta época, mas o amadurecimento é infinito, nunca amadurece. Eu nunca aprendi a ser poeta, eu apenas sou e não existe explicação precisa para isso.

2 – Como apreciador da arte literária e poeta, quais são seus maiores cicerones?

Resposta: Ferreira Gullar é minha referência, considero-o um poeta completo, idealista e desprendido, sua poesia é livre e leve, tem movimento. Drummond e Clarice Lispector são, para mim, dois dos mais sensíveis autores que passaram pela literatura, é impossível ler suas obras e não se inspirar.

3 – Quando e como se deu a idéia da publicação de seu livro? Fale-nos acerca de “O riso que contrasta”.

Resposta: O livro foi a junção de poemas que considerei publicáveis. Poemas que rascunhei desde os 12 anos. Não distribuí as poesias em ordem cronológica no livro, mas talvez o leitor perceba os contrastes que existem no “Riso que Contrasta”.

4 – No blog “O riso que contrasta” (www.fabriciocostapoeta.blogspot.com), você afirma que “em um país onde a criatividade, a fantasia, o real e irreal que sempre integram o processo criativo artístico em geral, são desprezados em nome do senso comum, não é fácil ser poeta”. Explique melhor tal fato.

Resposta: Não é fácil, porque não tem como se dedicar à poesia o tempo todo. Meu trabalho não tem relação com a literatura e é dele que vem o dinheiro que pagam minhas despesas. Eu adoraria me manter com a venda dos meus livros, mas sem uma editora e um contrato é praticamente impossível. Não acho que seja ruim trabalhar como Geógrafo e ser poeta, mas o volume da produção literária reduz, em função do trabalho.

Nossa sociedade está condicionada a não pensar criticamente. Os sentimentos, percepções, opiniões, estão cada vez mais padronizados.

Não é a intenção impor minha poesia a ninguém, mas tento, através do que falo e escrevo, estimular as pessoas, para que vejam o mundo com olhos críticos, que questionem os padrões, que se permitam sentir, sentir de verdade, sentir por conta própria. Quero despertar sentimentos, bons ou ruins, não importa.

Recentemente realizei uma oficina na cidade de Pancas, trabalhei poesia e imagem com professores da rede pública municipal e estadual, fiquei surpreso com os resultados. Pessoas que poderiam ser consideradas “senso comum”, mas se mostraram sensíveis e críticas quando provocadas.

Eu lamento o descaso com a poesia, mas também lamento o comodismo de alguns poetas. A poesia pode ser levada onde for e será sempre bem recebida. A falta de recursos e incentivos do público e privado são obstáculos, mas não são intransponíveis. Em resumo, o senso comum precisa ser desconstruído com provocação, o povo tem capacidade de assimilar qualquer gênero literário, cabe aos autores não subestimá-lo, mas instigá-lo.

5 – Seu livro é dividido entre poemas e contos. Por que essa proposta estética?

Resposta: Meus poemas nem sempre seguem o padrão poesia em verso. “O Nada” é o único conto do livro e apesar da estética fora do padrão não o considero algo fora de contexto. Eu o considero um poema em prosa, porque trata de sentidos, de sentimentos. Ele é apenas um dos contrastes presentes no livro.

6 - Percebemos que sua obra sofreu uma grande influência da Escola Moderna e, logicamente, de Carlos Drummond de Andrade. Como você explica tal assertiva?

Resposta: Eu gosto de escrever livremente, não gosto de nenhuma linguagem padronizada. A poesia, para mim, é uma explosão de sentimentos e não um relatório técnico. Nas leituras que faço de Drummond, vejo um poeta que foi livre, desprendido de regras, um ser encharcado de sensibilidade, vejo isso e me identifico. Ele ensinou a contemplar as palavras e a aceitar o poema da forma que ele se apresenta. É isso que quero para minha poesia, desprendimento, alma e sentimento.

7 - Como se dá a composição de seus textos? Mais inspiração ou mais transpiração?

Resposta: Acontece sem hora marcada. Inspiração, com certeza. Acho que qualquer produção literária depende do que você está sentindo. Ódio, paixão, revolta, indignação, paz, nostalgia... São sentimentos que mudam o sentido e que inspiram. Eu gosto de me inspirar em sentimentos para conseguir transformá-los em palavras.

8 – Como você enxerga nosso cenário cultural? E nossa literatura, tem vez?

Resposta: Tenho visto muita gente fazendo literatura de qualidade e fico feliz por isso, porque essas pessoas são, no mínimo, corajosas, já que a produção não é valorizada como deveria e é praticamente impossível sobreviver sendo escritor em nosso estado. Acho que temos um bom volume de publicações, mas falta espaço para que esses textos cheguem ao alcance das pessoas, existe um mundinho fechado que precisa ser ampliado, acho que nossa literatura terá vez quando nos desprendermos dos mundinhos e nos abrirmos a tudo que vier.

9 – Quais são os planos de Fabrício Costa para 2012? Podemos esperar um novo livro?

Resposta: Escrever para o próximo livro, levar a oficina “O despertar da sensibilidade poética” a outros lugares e deixar meu trabalho à disposição de todos que quiserem conhecê-lo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário