Francisco Grijó nasceu em Vitória-ES em 1962. É professor, escritor, contista, romancista e poeta. Criador do Blog IPSIS LITTERIS, escreve diariamente sobre “Livros, Música, Cinema & Afinidades”. Confira, abaixo, a entrevista com o autor:
1 – Olá, Grijó. Primeiramente, como surgiu sua paixão pelas artes?
Resposta: Não sei se posso me julgar um “apaixonado” pelas artes. Admiro-as, assim como admiro aqueles que a praticam. Essa admiração não me foi estimulada na infância ou na adolescência, embora meus pais apreciassem a música e o cinema. Não me recordo de essa admiração ter brotado de uma situação específica. Simplesmente apareceu – e a música se tornou o grande objeto de atenção. A literatura e o cinema vieram num contrapeso. E, claro, consumi os quadrinhos – principalmente aqueles em que os super-heróis eram as estrelas – com muita devoção. Eles me levaram a apreciar, hoje, a pintura.
2 – A escrita foi sua primeira paixão? O que você lia quando jovem? Quem lhe inspirou?
Resposta: A primeira “paixão” – chamemos assim, então – foram os quadrinhos. A literatura veio na juventude. Não fui um grande leitor até a adolescência. As peladas, o futebol de botão e os gibis eram muito mais interessantes, e consumidos numa velocidade que a literatura não permitia. Aos 18, por aí, comecei a me interessar, de fato, pela ficção. Li, naturalmente, algumas obras de Conan Doyle - contos sobre boxe, sobre guerra e algo de Sherlock Holmes –, alguns textos de Jules Verne, Jorge Amado e Graciliano (que não me agradava muito). Hoje, agrada. Depois, já no curso de Letras, e através de algumas pessoas em cuja opinião eu confiava, cheguei a autores que, hoje, são fundamentais para mim. Através deles, desses autores, fui conhecendo outros.
3 – Sabemos que você é um ser em extrema intimidade com a escrita, mas, nos diga, outros meios de artes o atraem? Quais? Tem alguma aptidão artística além da escrita?
Resposta: Interesso-me por música, cinema, desenho, pintura, dança. Nenhuma aptidão. Apenas admiração e, claro, consumo. Realizo-me apenas – e somente – com a literatura.
4 – Como e quando surgiu sua aptidão para a escrita? Quando você achou que era um escritor de fato?
Resposta: Iniciou-se no começo dos anos 80, quando me envolvi com oficinas literárias. Não parei mais. A primeira publicação se deu em 1987, quando meu livro de estreia, a coletânea de contos “Diga Adeus a Lornalove”, ganhou o prêmio Geraldo Costa Alves, da UFES. Aliás, parte do prêmio era justamente a publicação. Não sei se sou um escritor, de fato. Ou, por outra: não sei se me consideram um escritor de fato. De direito, sim.
5 – Você tem um lista enorme de livros lançados (“Diga Adeus a Lorna Love”, “Um Outro País Para Alice”, “Com Viviane ao Lado”, “Mulheres – Diversa Caligrafia”, “Licantropo”, “Todas elas, agora” e “Histórias Curtas para Mariana M”). Qual é a fonte para tanta inspiração?
Resposta: Basicamente as mulheres – tanto que muitos dos títulos envolvem esse assunto. Mas creio pouco em inspiração. Acredito mais no trabalho, na pertinácia, no talento.
6 – Quais as semelhanças e diferenças de cada obra sua? Qual sua marca registrada?
Resposta: Não sei responder essa pergunta. De verdade. Talvez um professor de literatura ou um estudioso de Letras consiga fazê-lo. Nunca li meus livros e não tenho a isenção suficiente para comentar sobre eles. Não estou sendo modesto nem arrogante. Realmente não sei responder.
7 – Como é seu processo criativo? Quais são suas fontes de inspiração?
Resposta: Escrevo todos os dias, exercito-me. Leio também todos os dias – o que é fundamental para saber escrever. Quem lê bem escreve bem. Desde que haja, evidentemente, talento para isso. Não tenho uma fonte específica de inspiração. Talvez o quotidiano. Ele quase sempre me surpreende.
8 – É possível viver no Brasil escrevendo livros? Por quê?
Resposta: É possível para alguns poucos. Principalmente para aqueles que possuem canais de divulgação, como jornais, programas de tevê e uma ajudinha do poder público. Ou que participem da “panela” que se autodivulga e autoprotege.
9 – O que você acha dessa massificação dos livros de autoajuda e de vampiros? Acha que é bom para o mercado de livros? E para a população?
Resposta: O mercado adora, os autores de autoajuda adoram – e possivelmente os vampiros também. A população faz uma escolha, e ela precisa ser respeitada. O que professores, intelectuais, jornalistas etc. têm a fazer é apresentar alternativas. E, claro, a família tem papel fundamental nesse processo. É ela que deve estimular o jovem leitor a ler algo diferente da lista da Veja, por exemplo.
10 – Segundo sua opinião, o que falta para o povo brasileiro consumir uma boa arte?
Resposta: Opções há. E cada vez mais há bons shows, boas exposições, grandes eventos culturais – inclusive aqui, em Vitória. Vários bons escritores são traduzidos, a boa música está à disposição na internet. O que falta é informação para se chegar até isso. E, claro, boa vontade.
11 – Você chegou ao mundo virtual através do blog IPSIS LITTERIS. Conte-nos como é ter um blog cultural em nosso estado e país?
Resposta: O Ipsis é resultado de minha vaidade. Aliás, não conheço blogueiro que não seja vaidoso, que não escreva seus textos e, indiretamente, não esteja implorando aplausos. Mas o Ipsis é secundário. Tentei torná-lo um local de bons debates, discussões, mas é difícil, embora eu não possa reclamar muito daqueles que aparecem para comentar. Ao contrário: ajudam-me bastante, com sugestões, correções, dicas, puxões de orelha, elogios, críticas. Mas digo a vocês que a maioria usa a web para se divertir, para entretenimento. Falar sério, num blogue, é quase sentença de chatice. Vou adiante porque, além de vaidoso, sou chato.
12 – Você é um defensor da revitalização do Centro de Vitória. Nossa capital pode ser um pólo cultural?
Resposta: Não chego a ser um defensor dessa revitalização. Lamento que o centro seja deixado às moscas, afinal é uma usina de boas histórias – além de ter sido palco de uma produção bastante efetiva de poesia. Não creio que Vitória possa se tornar um polo cultural, principalmente porque a definição de “cultura”, disseminada por alguns setores dominantes da cidade e do estado, gera “panelinhas”, “corporativismo” e, claro, como consequência, mediocridade. E há – para piorar! – um preconceito muito grande por parte da população, que prefere consumir produtos que não sejam domésticos, a não ser que sejam gratuitos. Lamentável.
13 – O que podemos esperar de Francisco Grijó para 2012? Teremos projetos novos por aí?
Resposta: Terminei “Todas Elas, Agora”, um novo volume de contos, que deve ser lançado até o fim do ano, mas há a possibilidade de eu reunir todos os meus contos – inclusive os desse citado livro – numa coletânea. Ainda não decidi o que fazer. E estou envolvido num projeto com o Murilo Abreu, escrevendo sobre contracultura no ES tendo como base o primeiro grupo de rock da ilha, a banda “Mamíferos”. Estou na fase de entrevistas, depoimentos, pesquisa. Deve ficar pronto em 2013. O título, provisório, remete a uma música da banda, “Agite antes de Usar”.
Abaixo, um trecho do conto "O Jantar" (publicado no livro "Um Outro País Para Alice"):
“Sim, Marilyn é uma ótima garota, sempre digo isso para mim mesmo, como se quisesse me convencer sobre algo de que já desconfio, e tudo fica mais fácil, tão fácil a ponto de levá-la para jantar em minha casa, a despeito de todos os protocolos e insanidades. É uma ótima garota, sei, cabelos louros, o maxilar corrigido por uma cirurgia que custou alguns meses de meu salário, pernas firmes, andar levemente falsificado, percebo, após uma tarde entre telas e história. Finge estar sempre muito bem, é rigidamente dietética em sua alimentação, fala devagar e raciocina também da mesma maneira, com certa dificuldade sedutora, dessas que pedem auxílio para pronunciar o nome Delacroix várias vezes, enquanto se espanta (mas não me surpreende) por não entender que motivo levou Jackson Pollock a vomitar novas fórmulas para a plástica. Desculpe-a por isso, Mr. Pollock! Gosto quando arremessa seus muito bem distribuídos cinqüenta e sete quilos para a frente, e os alicerça com a ponta dos dedos dos pés, esteja ela descalça ou usufruindo desse tórrido prazer que é calçar salto alto. Poucas mulheres sabem usar a expressão oh querido com a mesma suavidade inesperada, e nas horas ainda mais impróprias, como da última vez em que saímos para saborear soufflé de algas, e o garçom excitou-se, a olhos nus, quando ela fixou o olhar em meus lábios e disparou uma sofrida repreensão por esquecer-me de que os guardanapos existem e têm uma função.”
Simplesmente maravilhosa, toda entrevista.
ResponderExcluirSou fã do Francisco Grijó.
Parabéns pela entrevista!
Suzy
sou do colegio sagrado coração de maria e vou fazer um trabalho sobre vc
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