domingo, 27 de novembro de 2011

ZECA BALEIRO

Raimundo Fagner, Zeca Pagodinho, Carlos Dafé. A variedade de parcerias é diretamente proporcional à sua diversidade musical. Para Zeca Baleiro, 45 anos, transitar entre várias manifestações rítmicas, tal como confundir a opinião pública e os fãs sobre o espaço que ocupa no mercado fonográfico, é satisfatório. “Pra alguns sou alternativo, pra outros sou mainstream. Pra alguns sou pop, pra outros MPB. É bom assim, vou transitando entre um e outro”, diz o músico.

Ironias desse processo de exposição, que se iniciou em 1997 com o lançamento do primeiro disco “Por Onde Andará Stephen Fry”, se convertem em situações ímpares. Em alguns círculos autointitulados alternativos, composições de repercussão massiva como “Telegrama” e “Lenha” chegam a ser, de certo modo, “proibidas”. Um extremismo menos ligado à qualidade das letras e dos arranjos do que ao simples fato dessas músicas ocuparem o terreno do popular. “Não sabia disso. Mas estou em boa companhia. Sabia que Stairway To Heaven, do Led Zeppelin, foi proibida de ser tocada pelos guitarristas em lojas de disco americanas?”, retruca o maranhense.

Para não perder o embalo, e garantir que sua cara on the road não estremeça, o rapaz que nos tempos universitários tinha mania de andar com balas e chicletes no bolso e cometeu “a insensatez” de abrir uma loja de doces – por isso o vulgo “Baleiro”–, projetou para o início de 2012 o lançamento de um novo CD de inéditas. Convidados vêm a rodo. “Estou produzindo um novo disco que tem vários parceiros, entre eles Frejat e a compositora japonesa Kana. E o disco ainda terá 10 produtores - Luiz Brasil, Fernando Nunes, Beto Villares e Tuco Marcondes entre eles”.

O processo criativo, cujo resultado é sempre um mar de aliterações, estrangeirismos e metáforas, permanece o de sempre. “O melhor é quando vem tudo junto - letra e música. Mas não tenho métodos, é tudo muito caótico, a qualquer hora, em qualquer situação”, comenta Baleiro, que escolhe momentos de calmaria para organizar as ideias e finalizá-las.

As conquistas do menos conhecido pelo nome real que não esconde sua origem maranhense, José de Ribamar, são dignas de brinde com Möet Chandon. São cinco discos de ouro, três prêmios Sharp, três indicações ao Grammy Latino, sem contar trilhas sonoras para novelas como “Da Cor do Pecado” (Samba do Approach) e filmes como “Bicho de Sete Cabeças” (trilha homônima). Afora tudo isso, suas criações já foram parar na boca de Gal Costa, Elba Ramalho, entre outros intérpretes.

Atravessa, com esse background, duas fases diferentes. A cada vez mais distante época em que as gravadoras centralizavam a produção e difusão artística e a evidente digitalização musical, em que um músico grava e se projeta com um laptop e uma conexão para internet. Baleiro não enjeita as ferramentas provenientes da era da informação. “No meu site é possível ouvir todos os meus discos em streaming e costumo colocar faixas para download gratuito quando lanço novos trabalhos”, afirma.

Em contraponto a essa necessidade de divulgação por meios tecnológicos, Zeca Baleiro enfatiza que é essencial a manutenção do clássico apelo de ligação com o público, o disco propriamente dito. Por experiência própria – com fãs comprando seus álbuns após ouvirem as músicas online -, ele argumenta que há mercado para que o método tradicional de promoção de um artista não saia de cena.

“Acho que temos que jogar em todas as frentes. A internet é importante como meio de divulgação sim, mas o disco não vai morrer tão cedo. Eu mesmo sou um comprador de discos, sou apaixonado pelo objeto, gosto de ler encarte, ver projeto gráfico, ficha técnica. Enquanto houver uns malucos amantes do disco, ele sobreviverá”, diz.

O músico fica no meio-termo entre liberdade de informação da internet, em xeque com um projeto de lei em análise nos EUA, e a defesa do direito autoral. Sua crítica maior é de que o universo digital não pode se tornar a plataforma definitiva para todo o processo de difusão artística, mas sim como mais uma ferramenta disponível. “Logo, me parece sábio usar isso como mais um recurso, e não "o" recurso. Sou apaixonado pelo disco e continuarei produzindo, mas se temos essa ferramenta ao alcance das mãos, vamos usá-la então. Por outro lado, é preciso encontrar uma maneira de garantir os direitos autorais”.

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