1979 – Quatro anos longe dos holofotes fizeram uma grande diferença. John já não tinha aquele furor quando gritava “amor e paz” pra todo mundo, estava magro, o cabelo ralo, devido também a dieta macrobiótica, imposta por Ono. Cuidar da casa também não era uma coisa que ele costumara fazer, nem nos tempos em que morava com a dura tia Mimi. Talvez fazer pães desse mais trabalho que cuidar de uma criança de 4 anos.
Apesar de não estar fazendo suas próprias músicas, John escutava o que os outros faziam. Tinha se encantado com Bob Marley e por uma música chamada “Goodnight Tonight”, que segundo ele, tinha um baixo do demônio. Uma forma simplista, mas muito John Lennon, de elogiar o novo single de seu velho amigo Paul McCartney.
1980 prometia ser um ano fantástico para John Lennon. Depois de quase 5 anos dedicados ao pequeno Sean, o artista que ainda vivia dentro de Lennon pedia para sair. John olhava para a guitarra, que ganhara de Yoko 6 anos antes, e os dedos coçavam para tocar algo e dali sair uma nova canção. Não demorou muito para que isso começasse a atormenta-lhe a vida, como tudo que acontecia com John Lennon.
John precisava voltar para o lugar que pertencia: onde quer que a música estivesse. Mas ainda assim, procurava fazer outras coisas, como uma viagem maluca de barco que quase resultou em um naufrágio, se não fosse por ele e o capitão, que não enjoaram durante a tempestade, com o movimento do barco.
Enfim chegou onde queria: Bermudas. Depois de Sean se juntar ao pai, John ficou de perna pro ar, passeando com o filho, mas a idéia de gravar ainda lhe rondava. Não demorou muito para que as primeiras linhas do que virou “Borrowed Time” começassem a surgir. Claro que a primeira pessoa que ficou sabendo dos novos planos foi Yoko, que não gostou nada da idéia e repreendeu John. Os dois iniciaram um conflito que resultou num consenso de divisão: o disco seria meio a meio, com composições de John e de Yoko.
Em 24 de outubro de 1980 foi lançado o primeiro single do que seria a volta de John Lennon. Bom, “(Just Like) Starting Over” já dizia tudo pelo título. A faixa entrou em 3º lugar nos Estados Unidos, o que brecou a ida de John à Inglaterra no mesmo ano. Ainda assim, John sentia-se no auge, tanto na carreira quanto na vida, com sua família. Em novembro foi lançado o Double Fantasy que, apesar do nariz torto que todo mundo fez sobre a presença de Yoko, foi bem recebido por crítica e público.
Em 5 de dezembro, John abriu as portas de seu apartamento no Dakota para a revista Rolling Stone. A entrevista seria para a edição de início do ano de 81, comemorando a volta de uma grande artista, celebrando a música de Lennon. Entretando, o dia 8 de dezembro de 1980 ficaria marcado na história com um dos fatos mais chocantes e tristes que o mundo da música teria visto. Com 5 tiros à queima roupa, John Lennon tinha a vida tirada por um fã, que no mesmo dia havia lhe pedido um autógrafo. A Rolling Stone ainda foi para a banca com a entrevista de Lennon, mas o clima era de pesar, tristeza, perda. Yoko Ono passaria algum tempo em choque, sem falar. Julian era apoiado pela mãe, ainda que ela não o acompanhasse da Inglaterra aos Estados Unidos, e pela família de Ringo Starr. Paul McCartney se trancou em casa, acusado de agir de forma fria, também em choque e chorou a noite toda, lembrando de “Beautiful Boy”.
Em frente ao Dakota, fãs se reuniram, cantando “All You Need is Love”, um dos grandes sucessos dos Beatles, escrito por Lennon. Nas semanas seguintes, três músicas do Double Fantasy figuravam no top 5 dos EUA e do Reino Unido, fato inédito até hoje. Falar que John Lennon foi e sempre será uma figura importante, não só na música, mas na história da humanidade pode ser uma bobagem para uns, outros estão “cansados” de saber disto, mas acho que para nós, beatlemaníacos e principalmente os lennonmaníacos, como eu, celebrar a memória do cara que faz parte da trilha sonora de nossas vidas, nunca é demais. Hoje, escute sua música favorita, escrita ou cantada pelo John. Faça um brinde, como fez Paul. Espalhe a paz, como faz Yoko. Espalhe a mensagem de John à sua volta. Porque, como o próprio dizia, a vida acontece enquanto estamos fazendo planos.
Após a morte de John, seus antigos companheiros lhe prestaram homenagens do jeito que eles sabiam: música. George Harrison não se deixou abater pela tristeza e, quando a raiva que sentia, inconformado com o ocorrido, passou, escreveu “All Those Years Ago”, que foi gravada com os Wings e Ringo Starr. Ringo Starr também fez a sua. Usando o tema comum aos dois, paz, escreveu “Peace Dream”, que teve Paul McCartney no baixo. A linda “Here Today” (Vídeo abaixo), composta em 81, que entrou no disco “Tug of War”, que emociona a todos nos shows de Paul McCartney. É aquela conversa que eles nunca tiveram.
John Lennon não está presente de corpo, mas enquanto nós mantermos viva a lembrança do artista, da pessoa que ele foi, ele ainda estará presente.
“Let’s take a chance and fly away, somewhere…”
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