sexta-feira, 1 de junho de 2012

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Maga de lãs Calles”:


Magá de las Calles

Mis huesos estão doendo pra... caramba. Não sou tão frívola como parece (nem como a TV mostra). Soy brasileña, mis padres eran chilenos... Não é como a TV aparenta, esqueceram que somos seres pós-modernos, sem fronteiras e limites.

Minha cabeça dói, no auge de meus sessenta e quatro anos, eu aqui enjaulada, lembro de uma música: When I’m sixty four, mas não preencherei formulário, nem economizarei (adoro o Paul McCartney, ele é encantador, chego a ficar molhada. Ah! Dane-se! Chega de reprimir minha sexualidade! Já não tenho tempo). Estou enjaulada...

Nesta vida tão atribulada e cheia de dívidas na farmácia, na padaria, no buteco, no motel... Somos velhos, mas também comemos e fodemos, temos as necessidades da carne, como qualquer jovenzinho brocha por aí. Na dificuldade, vê-se a facilidade, num país que rouba pra cacete, por que não poderia pegar o meu quinhão? Era pra ter me candidatado a vereadora... Nunca teria sido presa!

Não tem aquele senador, o Torres, que ganhava com jogos e ainda continua no game e não foi para o xadrez? E eu ¡Una pobre vieja! Estou aqui, apodrecendo nesta cela fria e úmida. Eu furtei, mas foi para pagar a farmácia, não consigo pagar percebendo aquele salário. Aliás, nem chego a perceber nada! Na primeira semana tinha tudo ido para o beleléu. Eu ficava a ver navios e com os burritos n’água.

Depois aqueles outros, na câmara de vereadores, aumentaram seus salários para aquela fortuna... Também quero o meu quinhão! Ah! Uma coisa que se percebe é que afanam a grana, metem a mão no seu bolso, enquanto os ferrados os chamam de “dotor”.

Por que fui presa? Exijo que me soltem! Se muitos roubam e não vão para a penitência diária de cada dia, eu também não devo ir. Apesar, é claro, de ser bem tratada aqui pelas minhas companheiras que me chamam de vovozinha e me pedem benção, tenho o meu sonho de liberdade. Agora vou para o banho antes que a água acabe.

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