sábado, 15 de setembro de 2012

LICENÇA CRÔNICA: ANTONIO ROCHA NETO


Antonio Rocha Neto é economista, cronista, filósofo e membro da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Confira, abaixo, a crônica “Sobre supermercados, incêndios e domingos":

SOBRE SUPERMERCADOS, INCÊNDIOS E DOMINGOS

Eu adorava fazer compras nos supermercados aos domingos. Quando vou ao Rio, morro de inveja dos cariocas, saindo da missa e dando uma passadinha no “super” para comprar os ingredientes que faltam para o almoço. Sim, porque sempre falta alguma coisinha, que na padaria da esquina custa uma fortuna, especialmente em Vitória, onde não temos para onde correr ou, dizendo mais claramente, onde não temos supermercado para onde correr!

Eu estava, no dia do incêndio do Supermercado Perim da Mata da Praia, ajudando a fechar a edição do dia seguinte do jornal impresso da empresa de comunicação onde trabalho, ou melhor, trabalhava. Fui encarregado de escrever a matéria sobre o episódio, e tinha pouco tempo para fazê-la, mas ainda assim a fiz. E continuo acreditando que a fiz com competência e criatividade, apesar de estar correndo contra o relógio e ao contrário do que disse aquele Chefe de Redação idiota, cujo nome a ética profissional me impede de dizer. A matéria que propus tinha como título “Supermercado Perim não abre aos domingos e sofre incêndio devastador”. A íntegra da matéria está reproduzida abaixo:

“ Ainda são desconhecidas as causas do incêndio que, na tarde de ontem, destruiu parte do Supermercado Perim da Mata da Praia. Peritos estão investigando as causas, e acreditam que, até o início da próxima semana, as razões do incêndio serão conhecidas. Uma coisa, no entanto, já podemos antecipar, até mesmo para auxiliar nas investigações do Corpo de Bombeiros: nunca houve um incêndio de tamanhas proporções em supermercados no Espírito Santo no período em que estes estabelecimentos comerciais funcionavam aos domingos. A população capixaba espera que o ocorrido terça-feira possa levar a Associação Capixaba de Supermercados a rever a proibição de funcionamento aos domingos de seus afiliados. Uma coisa nos parece inquestionável: se aquele estabelecimento comercial abrisse aos domingos, o motivo, seja ele qual for, do incêndio, não teria tido 34 longas horas (das 22h do sábado às 8h da manhã de segunda-feira) para, longe dos olhares vigilantes e atentos de seus zelosos funcionários, desenvolver-se de forma tão letal!. Assim, somos forçados a concluir que, pela segurança dos trabalhadores e da população em geral, os supermercados devem voltar a abrir aos domingos.”

Bom, esta foi a matéria que ninguém leu, ou que ninguém havia ainda lido. Por sinal, minha última matéria, como já antecipei. O incompetente do Chefe de Redação me demitiu, tão logo leu a matéria. É bem verdade que os Supermercados Perim nunca abriram aos domingos, ao contrário dos demais, como ele observou, mas isto, a meu ver, não diminui a força de meu argumento. Pelo contrário, penso que ainda mais o reforça, uma vez que o acúmulo de domingos de portas fechadas pode ter sido o ambiente perfeito para que a causa do incêndio tenha criado força para se manifestar. O Corpo de Bombeiros, em breve, irá mostrar ao mundo que tenho razão! Mas está tudo bem. Eu já dei um jeito de fazer chegar ao conhecimento do Chefe de Redação daquele jornal que fiquei poucos dias desempregado, e que, por ironia do destino, consegui um novo e melhor emprego justamente aqui, no Perim, no Departamento de Marketing, onde trabalho de segunda a sexta-feira, em horário integral, e aos sábados até ao meio-dia, folgando aos domingos, graças a Deus, porque, cá entre nós, revendo meus conceitos, cheguei à conclusão de que trabalhar aos domingos deve ser fogo!



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