Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das
coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e
de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta",
trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido
entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de
crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas.
Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço
é http://sandrobahiense.blogspot.com/.
Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira,
abaixo, o conto 'O homem que só queria um amigo':
O HOMEM QUE SÓ
QUERIA UM AMIGO
Desceu para ir à rua. Ao chegar ao
calçadão de seu prédio percebeu uma estranha quietude. Ninguém nas ruas...
Nenhum carro nas avenidas... Zero de barulho... Não havia nada nem ninguém na
rua, só um imenso e gigantesco silêncio.
Meio sonolento achou estar tendo algum
louco sonho ou coisa do tipo. Esfregou os olhos, e sacudiu a cabeça. Mas tudo
continuava igual, a mesma falta de algo.
Caminhou rumo à avenida principal de seu
bairro, normalmente muito movimentada naquele horário, mas... Nada! Parou na
banca de jornal, aberta, e pegou o primeiro jornal que viu a sua frente. Leu-o
rapidamente a procura de alguma notícia, mas nada falava a respeito de uma
estranha evacuação geral ou coisa do tipo.
Foi à padaria próxima à banca. Encostou a
mão no pão e sentiu-o quente. Logo deduziu que seja lá o que tivesse acontecido
teria acontecido próximo ao seu despertar. Tentando manter a calma, pegou o
pão, pôs-lhe mortadela, esquentou um pingado de leite com café e lanchou. Em
seu relógio marcava 10h15min da manhã.
De barriga cheia, voltou a tentar
decifrar do por que do sumiço geral. Acreditou em apocalipse ou algo do tipo,
mas logo estranhou ter sido o único sobrevivente. Começou a cogitar que tivesse
morrido, mas estranhou o céu (ou inferno) ser exatamente igual a seu bairro.
Pôs-se a caminhar, a fim de tentar
perceber se tal fenômeno era local ou de maior amplitude. Depois de meia hora
de caminhada, com sol a pino, continuou vendo-se sozinho, sem nenhuma viva (ou
morta) alma a qual perceber.
A calma, d’antes tão sólida em si,
começou-se a dissipar-se. Um mix de sensações tomou o seu corpo: Medo, raiva,
irritação, ira, novamente medo... Quis chorar, mas as lágrimas não viam. Pensou
em clamar a Deus, mas logo desistiu de tal ideia.
Começou a vagar a esmo, apenas... Esperando...
Horas e horas se passaram e nada de novo
aconteceu. Continuava ele, dono do mundo, senhor de sua rua, mas sem
absolutamente ninguém a observá-lo, a questioná-lo, a saber, de sua existência.
Provou de uma grande, pontiaguda, quase
irresistível dor. Queria falar, queria questionar, queria alguém, um mísero
amigo, unzinho que fosse pra poder falar, pra poder botar pra fora tudo que
estava sentindo, mas não havia ninguém, não havia nada...
Foi pra casa, tentou dormir, em vão.
Voltou à desértica rua. Caminhou até seus pés fazerem calo. Descalçou o surrado
tênis. Continuou de pés no chão, até fazer sangrá-los da viagem. Andou muito,
até tentar esquecer.
Mas como esquecer a dor de não ter um
amigo? Como esquecer a dor de estar só? Essa dor é crônica, incurável,
imbatível... Tentou voltar, mas não tinha mais caminho. Seu caminho era estar
pra sempre só, pra sempre só.
Percebeu que as pessoas sempre estiveram
ali. Elas não estavam invisíveis. Quem esteve invisível, o tempo todo, era ele,
o homem que só queria um amigo.
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