Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita.
Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a
coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um
pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por
fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também
escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem
ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/.
Sandrotrabalha também,
claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, o conto “Carrasco
de sangue”:
CARRASCO DE SANGUE
Indiana, Ohio, Estados Unidos, 1955. Eis que caminhava
pelo corredor, passos largos como se quisesse enganar o tempo. No silêncio
daquela noite podia-se ouvir as batidas do seu coração. Seu olhar fixo avistava
a um ponto nu, e todos a sua volta podiam sentir sua angústia. Não sentia ira, nem raiva do seu destino, sua
sentença, nem mesmo de mim, seu carrasco, só caminhava, sabedor certo do que
aconteceria a alguns instantes.
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E eu, o carrasco, o acompanhava pelo corredor que estava à
meia-luz, também sabedor do que aconteceria a alguns instantes, o mataria. Mais
uma vez cumpriria o meu papel, como o fizera dezenas vezes, mas o suor em
minhas mãos me denunciava, estava apreensivo como um principiante, e nada ia me
acalmar.
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Chegava à sala de execução, ainda calmo, mais evitava
olhar os olhos das pessoas que ali estavam. Pois essas pessoas estavam tomadas
por um misto de repúdio e vingança, o que parecia lhe incomodar. Caberia a mim
lhe por o capuz, praxe naquele tipo de execução. E quando me aproximei, notei
que me olhava bem no fundo de meus olhos fixamente como se quisesse me dizer de
que, apesar do que fez, morreria em paz, pois acreditava que merecia aquilo, e
que eu, deveria cumprir minha tarefa sem me abalar.
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Fazia calor naquele verão de 55 e eu transpirava muito, me
lembro de meus pés suados que me atrapalhavam chegar até a chave de energia. Li
a sentença de morte de Zen Arns Taylor, 25 anos, que havia matado um fazendeiro
da região a pauladas, terminando clamando a Jesus que tivesse piedade de sua
alma. Liguei a energia e vi seu corpo tremer num momento que não passava nunca.
Ele morreu. Foi retirado da cadeira elétrica.
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E eu? Bem. Sabia que havia cumprido minha missão. E sabia
também que dessa vez havia de ser diferente, pois aquele homem em que correu
500 watts em seu corpo não era um estranho. Sempre desconfiei, apesar do nome
falso. Senti algo diferente daquela vez... Depois eu soube, aquele homem era
meu irmão. Havia o matado em troca de 500 vinténs, meu salário de executor. Fui
embora. Mas naquele dia eu senti que, também havia, matado um pouco de mim.
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