Um dos filmes nacionais mais esperados do
ano, ‘Somos Tão Jovens’ estreou neste fim de semana nos cinemas capixabas. O
filme, que conta a estória de vida de Renato Russo antes da Legião Urbana,
retrata a época em que o cantor era um “trovador solitário”, segundo o próprio.
Confira a crítica do Outros 300 acerca do filme.
Sem
profundidade
Ao abordar vida do artista de forma superficial, bom filme
perde a chance de ser ótimo
‘Somos Tão Jovens’ será, sem dúvida, a
crítica de filme mais difícil que farei aqui pelo Outros 300, uma vez que sou
tão fã de Renato Russo e Legião quanto sou de cinema. É complicado separar as
coisas, mas... Vamos tentar.
Como dito no título ‘Somos Tão Jovens’ é,
indiscutivelmente, um bom filme, mas perde uma oportunidade de ouro de ser
ótimo, aliás, diria mais, perde a chance de ser a melhor cinebiografia de
artistas brasileiros até então. Tudo por causa da danada da superficialidade.
Aliás, superficialidade esta que já era
esperada, uma vez que Dona Carminha, mãe de Renato, já havia pedido ao diretor
do filme que a cinebiografia de seu filho não fosse “mais um filme de um
roqueiro, drogado, gay que morre de Aids”, alusão clara ao filme sobre a vida
de outro poeta do rock nacional, Cazuza.
Com isso afirmo sem medo de errar que o
diretor filmou ‘Somos Tão Jovens’ com zelo, um quase medo, de manchar a imagem
de Renato perante a seus fãs e principalmente à sua família. Sabemos que uma
das premissas de um bom filme é a coragem e determinação de se contar, de
verdade, uma estória. Então quando a mesma é retratada de forma covarde, com
medo de ofender a alguém, grande pedaço da expectativa do trabalho é quebrada e
parte do desempenho final perdida.
O filme
Apesar de todos os medos ratifico que o
filme é bom, apesar de um começo morno em que um desnecessário didatismo acerca
de punk, da Brasília dos anos 70 e da própria vida do Renato são despejados na
tela. Os melhores momentos são, até então, a parte musical da coisa.
Desde o inicio o grande desempenho de
Thiago Mendonça chama atenção e ele é a única coisa que nos prende nos
primeiros trinta minutos de filme. Só a partir daí, que é quando a galera
decide fazer uma banda (o Aborto Elétrico), é que a coisa esquenta (em todos os
sentidos).
A pasmaceira é jogada de lado tanto pela,
digamos, incisiva musica do Aborto quanto pelas várias situações que afligem a
vida de Renato. As primeiras composições dele são um deleite para os fãs e um
norte para os não fãs e é daí que definitivamente o filme se desprende de amarras
bobas que forçavam conexões desnecessárias.
À medida que o Aborto ia crescendo a
amizade com a fictícia Aninha (Laila Zaid) também cresce criando um antagonismo
entre o Renato “humano” e o Renato “quase mito”.
Tudo fica estranho, pois, como dito,
Aninha é um personagem fictício que serve de pivô para várias cenas
cotidianescas de Renato que fãs podem ficar desconfiados que não aconteceram o
que seria um grande lapso.
A melhor parte, contudo, é exatamente
quando Renato é forçado a terminar a amizade com Aninha e se lança como
“Trovador Solitário”. Daí acredito que seja impossível estar numa sala de
cinema em que não se ouça, pelo menos em sussurros, pessoas cantarolando super
sucessos como ‘Eu Sei’, ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Faroeste Caboclo’.
Além da sucessão de sucessos, claro, o
que torna essa parte mais divertida é a que nela temos um Renato mais próximo
do que ele foi de verdade, uma vez que este trecho de sua vida é de
conhecimento de muita gente e impossível de ser “escondido” por pedidos da
família em ocultar algumas coisas. Não por coincidência é a parte onde temos o
Renato mais sarcástico, cruel, deprimido e errôneo do filme.
Preparem-se para um fim ridiculamente
clichê, mas que é posto de lado por uma apresentação do Renato original no auge
de sua forma.
Tabus mantidos
Eu não quero “mais um filme de um
roqueiro, drogado, gay que morre de Aids”. Pois bem Dona Carminha seu pedido
foi realizado! O homossexual (bissexual na adolescência) Renato Russo mantém um
relacionamento (chegam a transar) com uma menina durante 80% do filme e o
máximo de homossexualismo que temos é uma declaração de amor a Flávio Lemos
aqui (será que o Flávio Lemos sabia deste trecho do filme?) e um possível
flerte com um fã acolá. E uma conversa pra lá de bobinha com a mãe. E só isso.
Drogas? Fãs devem saber das famosas
estórias da turma da colina experimentando os famosos chás de cogumelo não é?
Pois bem os famosos cogumelos até aparecem, mas por uns 10 segundos mais ou
menos.
Ocultar essas partes presentes – e
pertinentes – da vida do artista retratado chega a ser ridículo, uma vez que os
artistas (e em especial o Renato Russo) são frutos não só de sua obra, mas
também de suas atitudes, sejam elas certas ou erradas. Uma pena!
Elenco
Thiago Mendonça ERA o Renato Russo.
Incrível como o autor encarnou o ídolo! Sejam em trejeitos, tom de voz, olhar,
até nos momentos em que canta e toca. Detalhe para os mais observadores: A
diferença vocal do Renato no Aborto e do Renato solo. Impressionante! Fiquei
boquiaberto! Tivesse um Oscar ou qualquer coisa assim no Brasil Mendonça
realmente seria sério candidato. Matou a pau!
Laila Zaid também impressiona. A jovem
atriz vem mostrando uma maturidade incrível e sua Aninha é tão real, mas tão
real, que haverá pessoas que de fato a acharão real mesmo. Já Marcos Breda, coitado, foi um desperdício
no filme, assim como Bianca Comparato tão presente nas propagadas e reportagens
sobre o filme e tão ausente nele especificamente.
Apesar de caricatos, achei
divertidíssimos os trejeitos e vozes idênticos do Bonfá, do Dinho Ouro Preto e
do Herbert Vianna. Cara... Muito igual. O menino que fazia o Dado (é filho
dele) parecia estar com sono. Será que o Villa Lobos era assim mesmo?
Pontos positivos
Renato Russo era conhecido por ser uma
figura depressiva, então será que seria possível termos bom humor num filme de
sua vida? Sim é possível! E não só em um momento, em vários. Em especial na
cena em que Renato conta a um dono de boteco sobre a morte de John Lennon,
hilário!
Elenco jovem, desconhecido, mas bom pra
cacete. Dá de dez a zero em qualquer elenco de filminhos da Globo Filmes cheio,
claro, de globais famosos.
Som nota dez. Fotografia nota 9,5.
Somzeira da Plebe, Aborto, Capital e Legião respeitados e executados
perfeitamente. Uma viagem no tempo.
Trocadilhos com nomes das músicas da
Legião o tempo todo no filme. Um motivo a mais para os fãs prestarem atenção.
Estórias clássicas como de Renato na
banheira se achando o rockstar internacional, do Petrus tocando sangrando, do
Dinho conhecendo os caras tocando na calçada e outras, estão lá, presentes
firmes, fortes e biográficas.
Pontos negativos
O filme começa morno. Um ou outro deslize da vida de Renato deixado
de lado. Fê Lemos como o chato da vez (ele não era chato assim). Um romance que
não existiu e um fim piegas. Fora isso, corra ao cinema é distração de
primeira!
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