sábado, 1 de setembro de 2012

LICENÇA CRÔNICA: ANDRA VALLADARES


Andra Valladares reside na cidade de Vila Velha/ES, exerce a profissão de advogada e atua no cenário cultural como cantora/compositora e poeta/escritora. Publicou poemas e textos em aproximadamente 30 antologias literárias. Em janeiro desse ano, lançou o CD "Andra Valladares", seu primeiro trabalho musical autoral. A obra tem patrocínio da Lei Vila Velha Cultura e Arte e Prefeitura Municipal de Vila Velha. Andra também é integrante do grupo lítero-musical "Vozes da Vila". Membro e atual presidente da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha/ES). Confira, abaixo, a crônica “Apenas um oitizeiro”:

APENAS UM OITIZEIRO...

Vila Velha/ES, 03 de agosto de 2011, 17h10min. Estava dentro do carro aguardando a abertura do portão do Colégio Marista para buscar meu filho, quando algo atraiu minha atenção. Próximo à esquina, na calçada de uma casa, um oitizeiro de tamanho modesto parecia um verdadeiro imã de atração para uma espécie de passarinho que não consegui identificar. Não eram pardais, pareciam menores e com o rabo mais comprido, contudo, isso é o que menos importa. Relevante é saber a diferença que apenas uma árvore pode fazer...

A passarinhada parecia ter um encontro marcado. O primeiro bando que atraiu minha atenção tinha pelo menos vinte aves e elas continuaram chegando, às vezes em bandos menores com dez, noutros com cinco ou seis, ou ainda, em trios, pares ou sozinhos. O fato é que elas não paravam de chegar a cada intervalo de cinco a dez segundos. Pemaneci no local por aproximadamente sete minutos e neste tempo exíguo pelo menos uma centena de aves foi acolhida pelo pequeno oitizeiro.

Observando o remexer das folhas, era claramente perceptível a movimentação do passaredo entre os galhos, cada qual se acomodando em seu lar verde. Talvez por essa espécie de árvore ter muitas folhas e essas pequenas aves se sentirem mais protegidas da friagem noturna, tenham escolhido o oitizeito como seu point.

Olhando ao redor, percebi que havia muitas árvores de diversos tipos e tamanhos próximas ao oitizeiro mas nenhuma delas tinha o mesmo poder de atração, não para aquela espécie de ave e nem pela mesma quantidade. Ele era mesmo um encantador de pássaros!

Do outro lado da rua, no quintal de outra casa havia uma bela e frondosa mangueira, mas pelo que pude perceber, poucos pássaros a procuraram como abrigo. Assim como as velhas árvores, repletas de cipós, existentes no estacionamento do Colégio Marista.

Desliguei o rádio para escutar as avezinhas e elas pareciam pessoas chegando em casa e contando as novidades, era um “conversê” de dar gosto! Todas piando ao mesmo tempo. Algumas aves também pousavam nos fios elétricos próximos à árvore, como se estivessem curtindo os últimos minutos da tarde e aguardando o momento certo para se recolher.

Então, uma ideia trágica invadiu meu pensamento. Imaginei se aquela árvore tivesse sido derrubada ou se nela fosse feita uma "poda" daquele tipo em que só restam os galhos mais grossos sem nenhuma folha e aqueles pequenos pássaros, talvez duas centenas deles, estivessem chegando naquele momento e pousando nos fios elétricos próximos, sem saber o que havia acontecido com seu abrigo.

Assim, também me imaginei voltando para casa com meu filho e ao chegar no local não encontrasse a árvore de concreto que escolhi para me abrigar. Se meu prédio fosse destruído e tanto eu quanto todos os meus vizinhos perdêssemos nossos ninhos e ficássemos todos na rua, sem saber o que fazer ou para onde ir... Como nos sentiríamos tristes, desprotegidos e desorientados!

O problema de grande parte dos seres humanos é achar que tem mais direito sobre o mundo que as outras espécies que nele habitam. Achar que tem o direito de maltratar outras espécies de animais e plantas, ou tratá-las com desrespeito, como se fossem seres inferiores, indignos de viver.

Contudo essas pessoas incorrem em um ledo engano, pois nós, "pobres seres humano", dependemos diretamente das plantas, insetos, aves e outros animais para sobreviver. O dia que conseguirmos exterminar esses pequenos seres e desequilibrar o planeta ao ponto de não haver mais como voltar atrás, estaremos sim, decretando a morte também dos seres tão superiormente egoístas e estúpidos que somos!

Finalmente, gostaria de acrescentar que nesta semana, li no jornal Gazeta Online o que alguns moradores de Ilha dos Ayres, bairro de Vila Velha, ficaram revoltados contra a Prefeitura que, cortou cinco árvores das sete que haviam na Pracinha do bairro, dentre elas, castanheiras e ficus, com a patética alegação de que essas árvores possuem raízes fortes que podem danificar as "calçadas cidadãs" que a Prefeitura fará para revitalizar a pracinha... Esse é o preço do famigerado progresso?

"Que se dane a vida dos "seres inferiores", nosso concreto é mais importante!" (Sentença final)


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