quinta-feira, 9 de maio de 2013

DISCOGRAFIA EM TRÂNSITO – RAMONES


“Porque é no trânsito que sobra tempo para ouvir discografias nos dias de hoje”

Escrever essa coluna sobre Ramones está tendo um gosto doce para mim. Estranho usar a palavra doce ao se referir a Ramones, não é? Não, não é. E explico:
Não precisamos ficar de rodeios ao citar Ramones, o som deles por si só é autoexplicativo, na verdade, no rock não existe nada mais direto, simples, genial do que o som dos Ramones. Aquele papo reto sem firulas, complicações e colocando toda ou mais que toda energia visceral na pegada das canções.

Mas esse jeitão e a forma de ser dos caras, durante muitos e muitos anos me fizeram ter um certo “medo” dos Ramones. Adorava o som, mas era algo que não podia gostar na frente das meninas, era sujo, pesado, estranho, proibido, sei lá. Era claro, uma impressão e muito errada.

Os anos passaram, aprendi a ouvir mais coisas e então me entreguei novamente aos Ramones. Nessa hora, descobri que esse tal “medo dos caras” era um mistério e que eu tinha muito que aprender sobre eles e assim eu o fiz.
Porém, eu era apenas um moleque do interior que só conseguia ter acesso a Ramones via cópias de fitas K7 dos caras mais velhos, o que dava ainda mais a sensação de que aquele som não era para qualquer um.

Eis que estou lá com meus 20 e poucos e inevitavelmente Ramones entra no repertório de shows da minha primeira banda. Inicia-se uma nova fase, onde acabo sendo obrigado a entender que muitas e muitas bandas que eu também gostava foram influenciadas pelos caras de Nova York. Eis que começo a desvendar certos mistérios.

Nos anos 2000, já na agência de propaganda, meu compadre Victor Mazzei (esse sim, sempre foi fã) nos inicia em uma jornada de comprarmos um cd dos Ramones por mês. Assim fizemos e durante alguns meses mergulhamos no Mondo Bizarro de Ramones. Que tempo bom.
Agora, com a meta de escrever essa coluna, me desfiz de todas as imagens misteriosas que tinha deles e ouvi, disco a disco (no trânsito, é lógico) com a alma aberta. E dessa vez o que era “medo” se transformou num delicioso prazer. Foram dias de puro doce.

Dessa vez o que descobri no som dos Ramones foi que tudo ali colocado veio da alma de cada um. Johnny e seu autoritarismo, Joey e todos seus complexos, DeeDee e sua rebeldia insano/profana e toques sensatos de Tommy. Está formada uma banda que de forma mais do que simples nos brindou com o som mais autêntico que se pode fazer.
Já ouço os críticos: “os caras só sabiam duas notas” ou “gravavam de qualquer jeito” ou “as letras são amadoras”, etc.

Ok, e como convencer que eles não prestaram para milhares de músicos e bandas que se inspiraram neles? Ramones foi um recomeço do Rock. Os anos 70 estavam “cabeça” de mais, mirabolante demais, comercial demais. Todo mundo querendo inventar uma nova fórmula para tentar ser os novos Stones, os novos Beatles. Era preciso fazer algo, era preciso colocar um pouco de confusão nisso tudo, novas técnicas, letras, tempos diferentes, cores, roupas, luzes, ahhhhhhhhhhhhhh!

Que nada, bastava uma guitarra em acordes duros, distorção, um baixo de marcação, bateria para encher e um vocalista estranho, fanho, mas cheio de energia e letras resumidas de situações pessoais. E prá que mais, não é mesmo?
Aos que acham eles limitados musicalmente eu digo: eram limitados mesmo! E com um “LIMITADOS” bem grande para você. Mas, e daí? Quem disse que a música, seja ela qual for, tem que ser sempre uma perfeição? Uma obra prima?
Ramones eram tão singulares que sabiam de suas limitações e fizeram disso sua fortaleza. Ou seja, já que não posso ser Ferrari, serei um baita dum fuscão invocado. E eram.

Por outro lado, não é qualquer guitarrista que tenha a pegada firme de Johnny, não era facinho, facinho para qualquer baixista da época ficar horas dando palhetadas e pular como louco no palco como DeeDee fez perfeitamente e depois também CJ que o substituiu.
Gosto muito da fase de Tommy na bateria, afinal ele que deu, justamente pela sua limitação técnica, a levada dos Ramones, mas admito que Marky deu um plus a mais, que acabou sendo importante para fase comercial da banda. Mas em particular, nada é mais genuíno que a voz de Joey Ramone. Na boa, o cara é a imagem da banda. Não há como pensar em Ramones sem vir logo a imagem de Joey na cabeça. E justamente o mais feio, o mais estranho, o mais sem categoria?

Sim, justamente como a banda. Irônico, não? Eu queria ser o Joey.
Após ouvir tudo dos Ramones novamente, selecionar aqui para vocês o que considero o filé de sua discografia, eu acabei descobrindo o que de fato eles foram e vi que aquele bicho papão que eu tanto tinha “medo” eram apenas caras como muito de nós que só queriam tocar suas músicas do jeito que sabiam e sem complicações, por favor.

O QUE NÃO CURTI MUITO: Sou muito fã do DeeDee, mas admito que sempre pulei as músicas que ele cantava. Sorry. Fora isso, me incomoda um pouco quando eles tentavam mudar o estilo por vezes. Claro que entendo variar e tal. Alguns solos, ou tentativas, são até legais, mas não tanto. E também alguns efeitos usados em algumas músicas (a maioria culpa do produtor Phil Spector), que ao me ver não caíram bem. Ramones não precisava.

O QUE CURTI MUITO: Tirando essa devoção toda acima, gostaria de em particular citar as baladas. Adoro as baladas dos Ramones. Curto muito quando uma banda, sem perder suas características, muda um pouco seu ritmo, e as baladas dos Ramones revelam o tal lado doce deles. Mais que isso, são baladas deliciosas de ficar cantarolando o dia todo.

Vamos tocar?

Sim!

Ok!

ONE, TWO, THREE, FOUR!!!!

E pronto!!!!!!

Baixe a discografia dos Ramones (seleção minha): http://www.4shared.com/rar/EkAQSvrf/discografia_em_trnsito_-_ramon.html. “Gabba Gabba Hey”

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(Texto de Juliano Nogueira publicado no site http://www.enfu.com.br em 01/06/2012)

Juliano Nogueira. Publicitário / São Paulino sarado / Baixista do Bando de Conga / Goleiro de meia tigela / Piloto frustrado / Pai da Julia e Luiza / Namorado da Lilian

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