Antonio Rocha Neto é economista, cronista, filósofo e membro da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Confira, abaixo, a crônica “A pata, a porca, a vaca e o galo”, que foi publicada no livro "Pequeno Discurso Sobre a Feiura":
A PATA, A PORCA, A VACA E O GALO
Era uma vez um casal de camponeses muito pobres, que só tinha de valioso nessa vida uma pata, uma porca, uma vaca e um galo, e o que é ainda mais desolador: para melhorarem de vida dependiam do Plano de Reforma Agrária do Governo Federal! Só depois da reforma agrária é que iriam poder juntar um dinheirinho para comprarem um pato, um porco, um boi e uma galinha para darem início a umas criações.
Um belo dia, quando nosso pobre camponês voltava para casa, depois de trabalhar o dia inteiro nas terras do patrão, achou no chão uma porca e um parafuso e levou-os para sua pobre casa. Em casa percebeu que a porca enroscava no parafuso, mas como não achou qualquer utilidade para eles, acabou por atirá-los no quintal.
Noutro belo dia, quando nosso pobre camponês pitava seu cigarrinho de palha no quintal, a vaca, vendo-se assediada pelo galo, tenta atingi-lo com uma violenta patada. Mas erra o alvo e atinge a porca (do parafuso) que com certeira precisão atinge a testa de nosso pobre camponês, fazendo jorrar muito sangue, e formando um enorme galo.
Nosso pobre camponês, atordoado, corre para dentro de sua pobre casa, onde sua paupérrima e amada mulher grita desesperada:
- O que foi isso Venceslau?
- Foi a porca, Marieta!
Marieta, apavorada, pega uma faca, corre até o quintal a mata a porca que, supunha, fizera mal a Venceslau.
Venceslau, vendo aquilo, reclama:
- Mas por que você fez isso, mulher? A porca não me fez nada, foi a vaca!
Marieta confusa, mas com sede de vingança, corre atrás da vaca e, sem piedade, decepa-lhe o rabo! Venceslau intervém:
- Por que você fez isso mulher? O rabo da vaca não me fez nada, foi a pata!
Marieta, sem pestanejar, parte para cima da pata e corta-lhe a cabeça!
Venceslau se enerva:
- Olha só o que você fez Marieta: matou nossa porca, nossa pata e ainda cortou o rabo de nossa pobre vaquinha! Por acaso você enlouqueceu? O que você devia fazer era me ajudar a dar um fim nesse maldito galo, diz apontando para a testa.
Marieta, mais do que depressa, captura e torce o pescoço do galo!
Venceslau sai do sério:
- Deus do céu, o que será de mim agora? Perdi minha porca, minha pata e meu galo, e tudo o que me resta nessa vida são essas duas vacas sem rabo!!!
Marieta, ensandecida, parte para cima de Venceslau e crava-lhe a faca no peito. Em seguida, se mata.
A vaca, única culpada de toda a tragédia e, ironicamente, a única sobrevivente do triste episódio, abandona o local do crime. Antes, porém, engole a porca (do parafuso!) para que as futuras investigações policiais não pudessem vir a incriminá-la!
Excelente esta crônica! Parabéns, Antônio!
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