Jocilane: O verdadeiro show foi da platéia!
Nas últimas duas noites a MTV exibiu o seu tributo à célebre Legião Urbana, para não dizer à nata do roquenrol brasileiro, pois Renato Russo foi um dos melhores compositores nacionais desse estilo. Suas letras abordavam a existência humana, colocando em voga questões sociais, políticas, emocionais e psicológicas, que, para o bem ou para mal, ainda são pertinentes à realidade brasileira, além de muito condizente com a homenagem rendida por seu nome artístico a Rousseau. Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de março de 1960, onde também faleceu, em 11 de outubro de 1996, deixando milhares de fãs órfãos e um legado de verdadeiros hinos de uma geração. Músicas que viraram herança de família, sendo passadas de pais para filhos, como se verificou na diversidade da faixa etária do público presente no show da MTV.
Se considerarmos o que Renato dizia “A verdadeira Legião Urbana são vocês (fãs)” o show foi perfeito, com repertório completo, composto inclusive, por música que nem Renato Russo pode cantar ao vivo - a versão de "Via Láctea" – visto que ele faleceu pouco tempo após o lançamento do disco "A Tempestade ou o Livro dos dias" (1996). O público fez jus à declaração de Renato, vibrou e cantou todas as canções com Wagner Moura. A platéia cantou até completamente sozinha, como em "Fábrica", momento no qual o microfone parou de funcionar, deixando um coral de quase 8 mil Legionários, que não perdeu o compasso e nem esqueceu a letra.
“Eu canto ela desde que eu tinha 15 anos, mas tem 8 mil pessoas aqui hoje” declarou Wagner Moura antes de iniciar “Faroeste Caboclo”, música bis cantada ao final do show por pedido do público. Escrita em 1979 e lançada em 1987 no álbum “Que País é Este”, com 159 versos distribuídos por mais de 9min e sem nenhum refrão e, mesmo assim, sendo cantada em coro pelos presentes no show. Além disso, as participações conferiram grandiosidade e brilhantismo ao evento. Fernando Catatau - da banda Cidadão Instigado, foi o primeiro convidado a entrar no palco, tocou e cantou "Andrea Doria", também participou Andy Gill, do grupo Gang of Four, que revelou: “É uma honra estar aqui. Eu fazia música há mais de 10 mil quilômetros daqui e não fazia ideia que minha música havia chegado ao Brasil", e Bi Ribeiro nas canções "Damaged Goods" e "Ainda é cedo".
Contudo, se não fosse pelo ardor dos fãs, o tributo teria sido um fiasco. Ocorreram diversas falhas no som, microfonia, instrumentos desafinados – Dado tocou mais de uma música com a guitarra fora de compasso. Apesar de sua dedicação e presença de palco, a voz de Wagner Moura também não colaborou, desafinando em várias canções. A não ser pelo fato de ser um grande fã da Legião, não havia justificativa visível para que ele assumisse os vocais. Essa decisão aparentemente foi embasada, principalmente, no marketing que sua figura pública – ator global e popularmente conhecido - causaria. Apesar da notória emoção dos envolvidos, como declarou Dado Villa-Lobos "Fazia muito tempo que eu não vivia algo assim no palco", a motivação para realizar o Tributo à Legião Urbana firmou-se mais nas questões comerciais e financeiras, como impulsionar as carreiras de Dado e Bonfá, que não obtiveram sucesso em seus álbuns solos e gerenciar a crise vivida pela MTV, cujos índices de audiência declinaram nos últimos tempos devido, em grande parte, por sua mudança de programação, deixou de ser rock and roll para pop. Sem falar dos lucros futuros gerados pelo evento – em breve virará DVD e estará às vendas nas melhores lojas da indústria fonográfica, não duvido, na verdade, isso é até esperado.
O show foi lindo, fantástico, capaz de energizar até os fãs que, como eu, acompanhou apenas pelo canal televisivo. Porque, afinal, a verdadeira Legião Urbana estava presente.
Renan: Não achei legal e pronto!
e chamar Wagner Moura, que como cantor é um excelente ator, diretor e produtor?
É incoerente a postura de Dado e Bonfá ao participarem de um evento como esse, uma vez que desde o falecimento de Russo adotaram um protecionismo tremendo em relação ao repertório da banda e uma postura desmistificadora em relação à figura do vocalista, impedindo que coletâneas e coisas inéditas na banda fossem lançadas.
Por que não chamar Dinho Ouro Preto, Herbert Vianna e tantos admiradores da banda para um evento de verdade, como o que ocorreu no Rock in Rio, quando tocaram acompanhados de uma orquestra?
Renato, que era completamente avesso a eventos panfletários e sem sentido, deve ter se remexido no túmulo, ao ver suas canções, verdadeiros hinos de uma geração, sendo maltratados na voz do Capitão Nascimento.
Lamentável. Mas como a sociedade é cada vez menos crítica, com certeza termos fãs dizendo que gostaram do evento. E pior, comprarão o DVD que será lançado.
Triste....*
Renan de Andrade é escritor e graduado em Letras-Português pela UFES. É professor da rede particular de Vila Velha - ES. Em 2008, lançou “Cenho”, seu primeiro livro. E-mail: poetaeprofessor@gmail.com.
Sandro - Legião ainda mobiliza o país
Muita gente acusou Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá de tomarem uma atitude comercial ao toparem a ideia de lançar o tributo veiculado ontem e anteontem na MTV, mas afinal tudo e qualquer coisa relacionada a Legião pós-mortem de Renato Russo não soará assim? Já outras pessoas citam o fato de Renato ser avesso a homenagens , tributos, festivais... Mas se isso não for feito (produzido) o que faremos então? Nada? Deixar o legado da Legião simplesmente enterrado em nossos corações longe do acesso dos jovens e de pessoas que não conheciam o trabalho da banda? Não sei se seria boa ideia.
Sem acesso a qualquer material inédito da Legião por ordem judicial (processo movido pela família Manfredini, onde qualquer produção inédita da banda só será liberada quando Giuliano, filho de Renato, fizer 21 anos - atualmente tem 19) só resta a Dado e Bonfá autorizarem - por exigência da gravadora - especiais, coletâneas, shows ao vivo, acústicos MTV's remendados e tributos, como o de anteontem e ontem, para os ávidos e órfãos fãs. Neste prisma um tributo (válido, pois efetivamente a banda fez 30 anos em 2012) foi a "menos pior" saída.
A escolha de Wagner Moura se deu óbviamente por ele ser uma figura midiática, talentosa e vencedora no que faz e por causar o reboliço necessário na mídia para chamar atenção ao tributo. Moura, fã assumido da banda, tem até uma banda sua, a ótima "Sua mãe" que canta um rock-brega bem legal, logo sua escolha não foi um disparate total. Se a ideia era causar reboliço deu certo. Ponto para a MTV. Musicalmente se era a melhor escolha para o tributo? Óbviamente que não.
Ao soltar a primeira palavra (em "Tempo perdido") Wagner tinha três opções: Cantar como ele, Wagner Moura, canta; Imitar Renato; Ou deixar a emoção tomar conta e cantar como se estivesse num videokê. A terceira prevaleceu. Com isso o que se viu foi um festival de desafinos e gritos, mas tudo, claro, com muito sentimento (exagerado às vezes). Se a ideia era ter um fã no palco tudo deu muito certo, mas se a ideia era ter um cantor (mesmo que razoável) ao lado de Bonfá e Dado deu tudo muito errado. Contudo a avidez por qualquer coisinha que seja da Legião e o carisma de Moura conquistou o público presente ao show que, parece-nos, gostou das apresentações.
Fora um ou outro problema de som a MTV deu um show de infraestrutura, mostrando que não pode, e não deve, se render ao pop tão facilmente. "Montecastelo" em violinos e violoncelos, a emoção de Dado em "A via Láctea", Bonfá cantando belamente "Teatro dos vampiros" e o coral do público cantando "Será" foram arrepiantes. Se o intuito era gravar um DVD não entendeu-se inserir as menos emocionantes "Duas tribos", "Ainda é cedo", "Sereníssima" e "Se fiquei esperando meu amor passar" no repertório.
No dia posterior à explosiva apresentação Wagner Moura repetiu o erro. Muito agitado, pulava bastante e, com isso, cansou logo, o que afetou a já sua frágil voz. Ainda assim, na raça, e por quase um imposição do público, cantou a mítica "Faroeste caboclo", o público foi a loucura, e a MTV também, pois bateu seu recorde de audiência na história (1,7 pontos de audiência) numa meia-noite, de quarta-feira, que tinha futebol da seleção passando, coisas que só a Legião faz.
Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. E um dos escritores deste humilde blog.
* Mantive, na íntegra, o depoimento do Renan que, dentre outras coisas citou a não utilização de material novo da Legião por inércia dos outros integrantes (na verdade impedidos judicialmente), além de ter citado que Renato Russo "se reviraria no túmulo" (quando na verdade o ídolo foi cremado), porque prefiro o depoimento feito na hora, por impulso e de coração.
Urban Legio omnia vincit
Adorei e concordo e discordo com os três em varias partes, mas no fim todos estão cobertos de razão
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