sexta-feira, 18 de maio de 2012

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “The blondes gang”:

THE BLONDES GANG

Éramos seis, agora sou eu. Tenho tantos nomes tatuados no corpo que até Deus duvida... Ontem mesmo, Circleyde marcou engarranchadamente na pele que cobre o meu cóccix: “Cleyde esteve aqui, profundamente”. Leia-se profundamente literalmente, sem sentido figurado, ela mergulhou no âmago do meu ser e não tem nada de poético e bonito nisso. O meu cabelo, aquele que eu demorava duas horas para arrumar, desbotou-se de sua loirice farmacêutica. Adorava ser loira, sempre quis ser paquita da Xuxa quando era criança. É o meu grande trauma, já fui até no psicólogo...

Do resto da turma sei muito pouco do que aconteceu com elas. Só sei que Clyde caiu, vai ficar empilhado uns trinta anos. Ele deve estar escutando umas duzentas vozes por dia, quem manda ter aquela pele de neném... Todos se apaixonam! Deve rezar para que chegue um novato para pegar no duro no lugar dele.

Uma das nossas está aqui, a Rose. Só agora que lhe caiu a ficha que seu Jack não morrerá congelado, além de que ele tem seios abundantes e atende por Juju. As outras quatro do bando dizem que fugiram para o Paraguai com seus smarthphones entre os seios para tirar a atenção dos policiais.

Fazer o quê, né! Achávamos que vivíamos um filme Hollywoodiano, mas agora virou um cine privê com pitadas de ultrarrealismo. No começo, eu via todas como Bruxas, não às de Blair, pois eu as via e as sentia em meu corpo. Atualmente já acostumei (graças a nossa aptidão em adaptar-se às adversidades). Vejo-as, agora, como Don Juan e me entrego, consequentemente, à lascívia.

Além de Bonnie, meu pseudônimo na gang das oxigenadas, chamam-me na prisão de professorinha, devido ao meu diploma em licenciatura plena em letras. Agora mesmo Circleyde me chamou, está querendo desenhar uma rosa em partes ultrassensíveis do meu corpo, ela sempre quis ser uma artista, mas cá entre nós, ela desenha muito mal. Tenho que apressar-me, Cleyde já preparou as tintas. Agora vou-me, só sei que de mim só restou esta flor bem nutrida.

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