segunda-feira, 3 de setembro de 2012

TOM ZÉ - NOVO TRABALHO DO BAIANO SURPREENDE COMO SEMPRE

O 23º disco da carreira de Tom Zé, produzido por Daniel Maia com apoio da Natura Musical, é uma viagem excêntrica e conceitual – como de costume – às origens do movimento tropicalista. Revisitar gêneros musicais, aliás, é típico do baiano que já se debruçou sobre o mais brasileiro deles, no início da carreira, em ''Estudando o Samba'' (1976) e prosseguiu com suas pesquisas com o pagode e a bossa nos anos 2000, até "Tropicália Lixo Lógico" (2012) que é, literalmente, a mistura de tudo. Confira.

Músico Tom Zé


Tom Zé revisita o Tropicalismo ao lado de músicos da nova geração

Músico baiano uniu-se a nomes como Mallu Magalhães e o rapper Emicida em seu novo disco, "Tropicália Lixo Lógico"


''Eu vou fazer um apanhado de como nasceu a ideia do CD 'Tropicália Lixo Lógico'. Aí, você pode retirar o que achar mais interessante e colocar o que torna o leitor mais interessado'', sugere Antônio José Santana Martins, o Tom Zé, 75 anos, em entrevista, admitindo que seu comentário, na verdade, não deve ser levado tão a sério pelos jornalistas.

''Tô fazendo esse comentário, embora eu não possa dar aula de jornalismo pra ninguém porque eu fui malsucedido no ramo. Fui jornalista em 1969, no jornal da Bahia, em Salvador, e fui um fracasso na redação. Por isso larguei a profissão pra fazer música'', conta o cantor, compositor, poeta e um dos mais importantes integrantes do Tropicalismo no fim da década de 60, que, com seu currículo, prova que fez bem em deixar o jornalismo.

Nesta volta ao passado, o compositor também quis a presença da nova geração da música brasileira. Participam do projeto Mallu Magalhães, Rodrigo Amarante, Pélico, Emicida e Washington Carlos, cantor de Caruaru, Pernambuco.

Origens

Para explicar o novo disco, Tom Zé discorre sobre temas díspares, reunidos apenas sob o guarda-chuva do fascínio do compositor, como a chegada do homem à Lua, as civilizações árabes, Aristóteles, o Império Romano,a chegada dos portugueses ao Brasil, o sertão nordestino e os ''gênios'' Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Quem já viu uma entrevista com Tom Zé sabe que o raciocínio do artista não é linear. Como ele mesmo diz na música ''Tô'', do já citado ''Estudando o Samba'', ele explica pra te confundir e te confunde pra te esclarecer. Com isso em mente, veja como ele descreve o nascimento do álbum: ''Quando chegamos no ensino primário aos oito anos de idade, até então preparados para a vida sob a égide de uma educação moçárabe (um raciocínio nativo, baseado na oralidade), tomávamos contato com a concepção aristotélica do mundo (uma lógica ocidental). O nosso antigo conhecimento, que chamo de lixo lógico, não era desperdiçado, sendo acumulado no hipotálamo''.

E é esse lixo lógico que foi aproveitado por Caetano, Gil, Rita Lee, Os Mutantes, Hélio Oiticica, Oswald de Andrade, ou seja, por todos que fundaram o Tropicalismo. ''Na grande excitação daquele final dos anos 60, toda aquela agitação cultural que desafiou a espécie em uma necessidade de pensar diferente aquele conhecimento acumulado, que serviu de gatilho disparador para o lixo lógico vazar do hipotálamo e retornar ao córtex cerebral'', finaliza sua tese.

Participações

O rapper paulista Emicida conta que se sentiu honrado em participar de ''Tropicália Lixo Lógico'' por considerar o músico um dos seus ídolos. ''Acho o Tom Zé um dos criadores mais intensos e livres. A eterna busca dos verdadeiros músicos é algo que sempre me inspirou muito, a negação de um lugar confortável por ter em si a inquietação da arte pulsando viva é algo raro'', frisa o rapper, em entrevista.
Divulgação
“No século 21 fast food, é lindo ver a música de Tom Zé acontecer em seu tempo natural.”
Emicida, cantor

Emicida participou da faixa de abertura e que também finaliza o CD, em outra versão: ''Apocalipsom A (O Fim do Palco no Começo)'' e “Apocalipsom B (O Começo no Palco do Fim)''. ''Dividir o estúdio com Tom Zé e ainda abrir o disco é uma emoção inenarrável. Foi uma aula''.

Divulgação
“Ele é a fome de um menino peregrino. Seja pra música popular, seja pro Tropicalismo”
Pélico, cantor

Pélico, que gravou a faixa 10 ''De-de-dei xá-xá-xá'', também se emocionou de estar ao lado do baiano. ''De cara me identifiquei com a melodia e a letra. Sabendo da imprevisibilidade da sua obra, supus que tudo poderia acontecer. E aconteceu. Aprendi muito, me diverti, me emocionei'', relembra.

Confira
"Tropicália Lixo Lógico"
Tom Zé
Produzido por Natura Musical, 16 faixas inéditas com participações especiais. Quanto: R$ 24,90

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