quarta-feira, 2 de maio de 2012

O OUTRO LADO

Com as lentes, ela enxergava melhor

"Para mim o sujeito de uma fotografia é sempre mais importante que a fotografia. E mais complicado também?"

Impossível sair ileso do foco de Diane Arbus, seja modelo ou expectador, ninguém sai impune após a sua fotografia. Na contramão do “American way of life” (estilo de vida Americano) ela chocou a sociedade da época ao registrar pessoas que não se encaixavam nesse padrão, pessoas com gigantismo (gigantes mesmo!), ananismos, lésbicas, com síndrome de Down, homossexuais, travestis. Ela enxergou as pessoas de quem a maioria desviava o olhar, que estavam à margem da sociedade, grupos discriminados por serem diferentes, que eram rotulados como anormais e impróprios para convivência, que levavam o nome de “freak” e que eram, por isso, atração de circo - literalmente.

A fotografia de Arbus mostra que por trás da imagem classificada como bizarra, existem os sentimentos de dor, alegria, ódio, amor, prazer, que são inerentes à humanidade e que nos tornam essencialmente iguais, semelhantes na fragilidade emocional, no anseio de que as diferenças sejam respeitadas, mesmo que não as aceitem.

Os modelos de Arbus eram fotografados nos seus ambientes e momentos cotidianos, íntimos, como se não existissem o preconceito e a segregação por ele causada. Eles eram clicados sem nenhuma vergonha de demonstrar o que eram, de expressar o que acreditavam, exibindo parte de suas identidades, independente da imagem que outras pessoas possuíssem deles.





Nesse sentido, os ensaios de Diane levantaram questionamentos que, na sociedade contemporânea e dita globalizada, ainda são pertinentes, como a supervalorização da imagem em detrimento da identidade, a utilização das diferenças como justificativas para excluir, ao invés, de motivo para agregar; se de fato conhecemos sobre o que, muitas vezes, severamente opinamos (leia-se julgamos).






"Diane Nemerov nasceu em Nova York no dia 14 de março de 1923. Aos 14 anos conheceu Allan Arbus com quem se casou aos 18 anos. Foi com ele que Diane aprendeu a fotografar. Após a separação aprendeu com Alexey Brodovitch e Richard Avedon. Em 1963 Diane Arbus ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim e no ano seguinte teve sua primeira exposição no Museu de Arte Moderna. Depois ela se dedica a ensinar fotografia na Parsons School of Design em Nova York e no Hampshire College em Amherst, Massachusetts. No fim dos anos 60 Arbus entrou nos asilos e hospitais e fez dos idosos, doentes e loucos os seus modelos. Em julho de 1971, a fotógrafa se suicidou ingerindo barbitúricos e cortando os pulsos. Em 1972 a Bienal de Veneza consagrou a artista expondo seus trabalhos."




Para os curiosos em saber mais sobre a vida e a obra de Diane Arbus indico o filme "A pele - um retrato imaginário de Diane Arbus", não se trata de uma grande obra cinematográfica, pelo contrário. Mas mostra um pouco do seu amor pelo bizarro, literalmente.

Trailler:



E para os que se interessarem mesmo pela obra e vida de Diane, vale apena conferir este documentário:



(Texto de Jocilane Rubert publicado no Portal Iuuk, na coluna Múltiplas Manifestações, no dia 21/04/2012)

Jocilane Rubert. Graduanda em Publicidade e Propaganda, colunista do Portal Iuuk, integrante da coletânea de poesias intitulada “8 vezes poeta” e autora do blog Grafia Cosmopolita.


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