sábado, 12 de maio de 2012

ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR CARLOS PAPEL


Carlos Papel (1952) é compositor, violonista e cantor. Nascido em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, começou a carreira aos 13 anos. O primeiro disco veio dez anos depois, com o conjunto "Fazenda Modelo", tendo em seguida gravado um compacto simples, já em carreira solo, ambos na gravadora CBS. O artista já tem em toda sua carreira oito álbuns gravados: Grupo Fazenda Modelo (1976), LP Terra Boa/CBS; Compacto Simples (1978), Carreira Solo/CBS; Compacto Duplo (1981), Independente; LP Liberado (1985), 3M; O Vôo das Tartarugas (1994), Velas; Pinóquio e o Menino (1995), Trilha Peça/Independente; Coletânea (2002), Independente; Fora do Eixo (2011), Independente. Confira, abaixo, a entrevista com o cantor e compositor:

1 – Olá, Carlos. Como surgiram as artes em sua vida? Sua paixão foi diretamente pela música ou outros meios artísticos como a escrita e o cinema também o influenciaram?

Resposta: A arte surgiu precocemente em minha vida, tive aulas de acordeon aos 7 anos, cheguei a me apresentar tocando acordeon, mas troquei o acordeon pelo violão por conta própria, instrumento que me acompanha até hoje. Fiz trilha para cinema e teatro, o que aumentou meu lastro nas composições.

2 – Quais foram suas grandes influências? Teve alguma música em particular que te fez querer ser cantor?

Resposta: Canto desde criança também, meu pai me ensinava serestas e ouvi grandes cantores na tenra idade: Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Chico Alves, Carlos Galhardo, Elizete Cardoso, Angela Maria e depois, Elis Regina, Jair Rodrigues, Taiguara, a música “Boneca”, de Benedito Cabral e Aldo Lacerda.


3 – Você nasceu no Rio de Janeiro veio aqui para participar de um festival e não voltou mais. Como que rolou essa paixão fulminante pelo estado do Espirito Santo? O que lhe atraiu em nosso estado?

Resposta: O Porto de Vitória, as belezas naturais e a farta safra de compositores da época, com quem fiz parceria. Lembro-me da sedução que a Praia da Costa exercia sobre mim e a história, sempre a história, rica identidade capixaba pouco explorada por seus governantes.

4 – Antes de virar um capixaba por opção, você começou a carreira no Rio com o Grupo Fazenda Modelo. Gostaria que você nos contasse como surgiu o grupo e também como iniciou sua carreira. Como foi a gravação de “Terra boa”, único LP de sua primeira banda?

Resposta: O grupo Fazendo Modelo é um marco em minha carreira, com ele assinei meu primeiro contrato em gravadora, CBS e aprendi as sutilezas das gravações em estúdio, o grupo surgiu do encontro de amigos, tocávamos em festinhas de aniversário de amigos e amigas e de minha primeira experiência em parceria com meu amigo Beto Prado, também integrante da banda.

5 – Quais as grandes dificuldades que você enfrentou ao decidir virar cantor? Qual a dica que você dá para aquele que um dia também pensa em ser um Carlos Papel?

Resposta: Não decidi virar cantor, isso já nasceu comigo, o canto é que decidiu me virar, de cabeça pra baixo (risos). As dificuldades para quem escolhe seguir o caminho das artes são muitas, mas os prazeres proporcionados são maiores. Creio que a incompreensão e a ignorância sobre a matéria, ainda desnorteia a nau dos que insistem em desconsiderar a música como um ofício nobre, acredito que esta seja a maior dificuldade daqueles que escolhem a arte como caminho.

6 – Em 1978, você alçou seu vôo mais alto até então que foi a gravação de um compacto solo. Porque você saiu do grupo? Como foi a primeira gravação solo? Quais as grandes diferenças entre ter um álbum em que sua “opinião criativa” é praticamente a única em detrimento às várias opiniões quando a gravação é feita por uma banda como o Fazenda Modelo, por exemplo?

Resposta: Acredito que seria bom também seguir com o Grupo, mas éramos jovens e agíamos de acordo com o vento, gravei um vinil, compacto simples, carreira solo, experiência importante para conhecer os porões das corporações e suas artimanhas, mais manhas que arte. A diferença entre solo e grupo, é que sozinho você grava com outros músicos e toma suas próprias decisões, mas o Fazenda Modelo foi uma experiência inesquecível e tenho contato com o grupo até hoje.


7 - Em 1985, você representou o Espírito Santo no Festival dos Festivais realizado pela Rede Globo e isso lhe rendeu um contrato com a Gravadora 3M. Por dedução, acreditamos que a sua participação foi excelente. Exato? Dali surgiu “Liberado” seu primeiro LP por tal gravadora. Como foi poder executar seu trabalho com toda boa infra estrutura necessária?

Resposta: Foram grandes experiências, o Festival me proporcionou cantar para um grande público (acima de 40 milhões). A gravação de um vinil com canções próprias me ensinou muito, mas não tive tanta liberdade de escolha, fiz o que a produção determinou, com pequenas ressalvas. Minha concepção não foi muito respeitada e o disco não foi trabalhado adequadamente, além disto, a canção escolhida para trabalho foi censurada e proibida a execução em rádio. De qualquer forma, fez parte de meu aprendizado, hoje procuro dividir com os músicos que me cercam a responsabilidade pela obra, trabalho coletivo e não assino mais contrato com corporações.

8 - "O Vôo das Tartarugas" virou CD (em 1994) e DVD (em 1995). Onde podemos encontrar seu DVD, uma vez que as (raras) discotecas que ainda existem infelizmente não disponibilizam este teu trabalho?

Resposta: Este DVD, é mais um trabalho histórico, tem bom som, mas o áudio não foi gravado com a tecnologia atual, então preciso remasterizar e lançar com mais qualidade, breve farei isto e todos terão acesso a obra.

9 – Aliás, falando nisso, onde podemos saber mais sobre a vida e carreira, e ter acesso aos trabalhos de Carlos Papel? Você tem algum site oficial, blog, Facebook? O que você acha dessas ferramentas virtuais como meio de divulgação?

Resposta: Tenho facebook e My space, um domínio para construir o site e parece que não tenho a mesma pressa que a tecnologia exige, mas com a finalização de meu próximo CD, gravado na França, “C´est bom ça”, estas questões serão resolvidas creio (risos).

10 - Depois de "O Vôo das Tartarugas" você ficou 15 anos sem entrar em estúdio. Por quê?

Resposta: O título desse CD, diz tudo (risos). Meu perfil é de uma pessoa sem pressa, entresafra, falta de grana, de perspectiva, preguiça, um bando de justificativas talvez. A verdade pode ter um monte de caras, mas não fiquei totalmente parado, fiz trilhas para teatro infantil e me envolvi em outros projetos, foi importante dar esse tempo, compreendi que precisava dar um salto para outro tipo de visão e construi uma nova música, gravada agora sim, com liberdade na concepção e já com a participação do coletivo. A opinião dos músicos que participaram do “Fora do Eixo” foram fundamentais.


11 – Qual a mágica de "Fora do Eixo" que finalmente lhe fez voltar aos estúdios?

Resposta: A oportunidade de uma nova e grande experiência, sonho de muitos anos, falar o que sinto através da música e dividir responsabilidades com os músicos, a chance de me transformar para me manter atual, sem macular minha poesia e música. Minha experiência na França me deu um novo presente, o disco “C´est bom ça”, com arranjos de meu novo parceiro, o músico francês Jeremy Naud, de músicos franceses e a realização da Associação Les Capixtaviens, da qual sou presidente de honra. Fui abraçado pela região de Poitous Charentes, pela mãos de meu amigo Antoine Violette e Dominique Penigaud e acredito que devo isto tudo à minha transformação através da obra: “Fora do Eixo”.

12 – Você teve a oportunidade de trabalhar tanto com grandes gravadoras quanto com produção independente. Qual a grande diferença entre ambas? A liberdade criativa quando você grava por algum selo independente é maior?

Resposta: A diferença é esta, liberdade Independência substituída por alternativa e através da internet, planejar e definir caminhos.

13 – Carlos, você que nos abraçou por opção, como é ser e como é um capixaba?

Resposta: Amo o Espírito Santo com sua linda geografia e inquestionável história, ser parte de uma legião que ama esse pedaço de chão sem exigir nada em troca e a oportunidade de contribuir para seu crescimento, principalmente nas artes é meu oxigênio. Devo ao Espírito Santo a chance de ter nascido aqui, mesmo que isso tenha acontecido no Rio de Janeiro.

14 – Trace-nos um panorama: para você, como está o cenário musical capixaba? E nacional?

Resposta: A música do Espírito Santo tem traços sutis compreendidos por poucos e uma cultura folclórica definida. Ambas despertam a curiosidade do mundo. Sinceramente não consigo distinguir o que é música capixaba e música nacional, para mim somos parte integrantes de um planeta que faz música e de um universo que conspira a nosso favor. Podemos fazer obras que falem sobre nossas coisas e sermos universais, e o mais importante, lutarmos por uma mentalidade sadia e sem provincianismos.

15 – O que podemos esperar de Carlos Papel para 2012? Algum projeto novo que possa nos adiantar?

Resposta: Em 2012, lanço mais um disco: ´C´est bon ça", gravado na França, em 2011. O lançamento ainda não tem data, mas deverá acontecer no final de Junho no Espírito Santo, depois em Niterói, na cidade do Rio de Janeiro, Búzios e São Paulo. Em seguida viajo para a França e Espanha.

2 comentários:

  1. Simplismente um poeta!
    Obrigado Ricardo por me contar um pouquinho mais desse artista fenomenal do nosso meio!
    Vou esperar a divulgação da agenda de show

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  2. Obrigado Maria Carolina, não creio estar a altura do elogio, mas de qualquer forma tento trabalhar para buscar ser digno da sua admiração.

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