segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SEMANA NELSON RODRIGUES - 100 ANOS

Prepare-se para a semana mais ácida, verdadeira e despudorada deste blog. Começa hoje a semana em homenagem aos 100 anos de Nelson Rodrigues. Durante os próximos sete dias mergulharemos no mundo Rodriguiano com os melhores livros, peças e adaptações para a TV e o cinema. Seja bem vindo a Semana Nelson Rodrigues! 



Mestre da fina ironia
Nelson Rodrigues ajudou a expor a alma do brasileiro

Dotado de humor mordaz e uma visão de mundo bastante peculiar, Nelson Rodrigues causou polêmica e incomodou muita gente. De um lado, foi tachado como obsceno, pornográfico. De outro, foi chamado de reacionário, direitista. Epítetos à parte, ele foi (e ainda é) um dos maiores dramaturgos do país, além de excepcional cronista, escritor e até autor de novelas.

Se estivesse vivo, Nelson completaria cem anos nesta quinta, dia 23. Morto em dezembro de 1980, aos 68 anos, tornou-se o dramaturgo brasileiro mais representado, segundo o crítico Sábato Magaldi, maior estudioso da área e um dos grandes organizadores da obra de Nelson Rodrigues – de quem também foi amigo. 

"Que ele é o maior dramaturgo brasileiro, nem seus velhos inimigos costumavam negar. Mas, hoje, Nelson não tem mais inimigos – só admiradores. Resta agora acabar de mergulhar para valer no seu teatro e na sua prosa, para se começar a ter uma verdadeira ideia de sua importância. Na minha opinião, ainda estamos na praia, com água pelas canelas", afirma, em entrevista o jornalista e escritor Ruy Castro, autor de "O Anjo Pornográfico", biografia de Nelson.

Responsável por organizar vários volumes da obra jornalística de Nelson, Ruy afirma que ele revolucionou a forma no teatro e, de modo geral, criou todo um universo em que o homem brasileiro se vê, pela primeira vez, como protagonista da tragédia humana.

Mestre em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a professora Fernanda Maia Lyrio lembra que Nelson, na década de 1940, rompeu com quase todas as tradições cênicas vigentes até então. "Após provocar uma espécie de ‘tsunami’ no teatro brasileiro, em 1943, com a emblemática peça ‘Vestido de Noiva’, ele chocou com suas obras dramáticas ao expor os seres humanos nas suas mais profundas, dolorosas e contraditórias questões."

Crônicas

Fernanda lembra ainda que ele foi brilhante como cronista dos dramas e das tragédias nacionais. "Especialmente ao retratar os costumes e a psicologia do brasileiro, assim como nossa sociedade, nossos comportamentos, nossas relações políticas, sociais, econômicas, nossa paixão pelo futebol... Enfim, tudo isso com uma linguagem coloquial, crua, crítica e, na maioria das vezes, irônica e provocativa."

A tese de doutorado deLuís Augusto Fischer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que deu origem ao livro "Inteligência com Dor", atesta a qualidade das crônicas de Nelson, a ponto de estudá-las dentro da tradição do ensaio. "De coração, o negócio era demonstrar que ela (a crônica rodriguiana) é excelente, excepcional, extradionária", escreve Fischer na introdução do livro. 

Para Fernanda Maia, a obra de Nelson Rodrigues permanece muito atual. "Aliás, quem poderia nos oferecer a melhor explicação para isso é o próprio Nelson, que, de forma irreverente, afirmava não ‘trapacear’ o seu público leitor com uma falsa e ‘colorida’ visão do ser humano. Eis a frase: ‘Nunca falsifiquei o homem. Por isso a minha obra persiste. Persiste e será sempre atual’."

Segundo Ruy Castro, o Nelson puramente estilista já é, por si só, um fenômeno a ser estudado. "Interessante é que, embora essa sua faceta seja um óbvio ululante, ela é a que os estudiosos têm dado menos atenção. Mas ainda há tempo... Afinal, este é apenas o primeiro centenário de Nelson Rodrigues..." 

Indicamos

Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo
Sônia Rodrigues (org)

Nova Fronteira, 372 páginas, R$ 39,90. Reúne entrevistas de Nelson, em que afloram suas opiniões polêmicas e várias de suas máximas tão citadas até hoje. Às vésperas do centenário de Nelson Rodrigues, sua filha Sônia se dedicou a reler todo o material que acumulou a respeito dele e de sua obra.

* Fonte: Jornal O Globo

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