Renan de Andrade é escritor e graduado em Letras-Português pela UFES. É professor da rede particular de Vila Velha - ES. Em 2008, lançou “Cenho”, seu primeiro livro. E-mail: poetaeprofessor@gmail.com. Confira, abaixo, o conto “O jogador de damas”:
O jogador de damas
Ele morava ali desde que o coveiro jogara a última pá de terra sobre o caixão de sua mãe. Circunspecto, não era de muita conversa. Vez ou outra é que viam abertas as poeirentas janelas de seu apartamento.
Ganhara de presente da irmã um tabuleiro de xadrez, daqueles que permitem guardar as peças depois de uma partida.
E fazia da soturna e apertada varanda seu local de lazer, depois de uma rigorosa sesta que fazia sempre ao meio dia.
Tinha o trabalho de posicionar milimétricamente o tabuleiro no centro da mesa, posicionando uma cadeira em cada extremidade, para que pudesse executar uma jogada e responder a ela em seguida. Passava, assim, quase todas as suas tardes, movimentando-se de um lado para o outro, até cansar e decidir em qual extremidade da mesa daria o xeque mate. Cuidava para equilibrar a quantidade de vezes que vencia com cada uma das cores. E se por ventura perdia as contas e priorizava mais uma cor do que outra, tratava de montar novamente o tabuleiro e vencer com a cor preterida.
Mas vencendo, quer com as pedras negras, quer com as pedras brancas, seu prazer era se pendurar na sacada da varanda e gritar que havia vencido.
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