quinta-feira, 21 de março de 2013

CRÔNICA "AUTOFICÇÃO", DE CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA



Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Autoficção”:

Autoficção

Entreguei-me à difícil faina de escrever. Como é duro escrever o meu romancinho! É tão difícil que eu vivo numa eterna performance sobre a escrita. Suspiro satisfeito quando termino um parágrafo, mais um pra ludibriar o leitor, aquele idiota.

Depois que Cândida, a crítica literária, ou melhor, uma traça que vivia em minha gaveta, criou asas e se foi... vivo escrevendo contos, cartas e poemas autoficcionais. Quero um jabuti e hei de ter um empalhado na minha estante. Nem que para isso eu tenha que perseguir o quelônio metálico e capturá-lo a pauladas. Tê-lo-ei, nem que para isso eu tenha que caçar cada crítico que falou mal de minha obra e fazê-lo recuar nas calúnias, usando, para tanto, o methos persuasivo da violência.

É... Cândida me deixou sozinho nesse ninho de cobras que é o literário... Foi embora sem deixar recado, sem mandar um beijo de adeus. Só deixou para trás uma foto de minha namorada com a cabeça roída, agora tenho que explicar para ela como foi que aconteceu. No fim acabarei desacordado num leito de hospital. As mulheres nunca nos entendem! Na cabeça delas somos sempre culpados, devassos dedicados à lascívia.

Enquanto Cândida não se cansa do seu modo underground de viver, fico aqui escrevendo traquinagens. No fim tudo é performance, até mesmo as sexuais, pois não me sobra muito dinheiro... A autoficção é lida apenas pelos intelectualóides, seres dedicados a extinguir-se no próximo verão. Logo, tenho pouco dinheiro e consigo apenas matar a minha fome. Já no sexo, emprego o meio solitário da satisfação amorosa. Faço amor comigo mesmo, sou narcisista, me amo longamente, por períodos incalculáveis.

Mas sei que essa mania de autoficção ainda vai acabar... Acho que investirei em livros de autoajuda, quando a fome apertar. “Como ser um vencedor sem sair de sua cama?”. Será o título de meu livro que se não te ajudar pelo menos me ajuda a não andar mais a pé e ter sempre uma mulher. Ai que saudade de ti, Cândida querida! Mantinhas em minha mente as ilusões literárias, o orgasmo múltiplo em escrever uma estrofe, um verso... Minha vida não é a mais a mesma! Mas uma coisa eu digo:

— Jamais voltarei pra merda, nunca mais. Nem que para isso tenha que vender a minha alma e corpo pro editor.








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